Com uma haste cilíndrica de 17 metros de comprimento, os alunos do curso de engenharia civil da UEL (Universidade Estadual de Londrina) fazem medições nos viadutos da PR-445. Na manhã desta quinta-feira (28), o grupo de pesquisa - que acompanha as movimentações de solo na rodovia que foi duplicada há três anos - estava no cruzamento com a avenida Dez de Dezembro (zona sul).

Via bluetooth, o equipamento envia informações para um medidor portátil. Assim, os pesquisadores conseguem analisar a variação da ordem de deslocamento do solo em fração de milímetros. “Ou seja, bem antes de uma possível ruptura. Dessa forma, conseguimos antever um possível risco para os motoristas e pedestres, trazendo segurança para todos”, explicou o engenheiro civil Carlos José Costa Branco.

Ele é docente na UEL e um dos responsáveis pelo projeto “Estudo do comportamento mecânico dos solos da região de Londrina com ênfase em obras de terra”. Com mais de 30 medições realizadas desde 2017 nos viadutos da PR-445 que cruzam as avenidas Dez de Dezembro e a Waldemar Spranger, Costa Branco ressalta que a população não precisa se preocupar, pois a estrutura está dentro da normalidade.

“Esse tipo de medida que fazemos é muito precisa e em cada trabalho são feitas mais ou menos 1.500 medidas. Nesse tempo todo, o solo continua e vai continuar se deslocando, mas é muito pouco, em centésimos de milímetros. Tiveram algumas alterações, mas nada extrapolou os limites. Isto é, não chegou ao que a gente chama de faixa de atenção, onde é preciso diminuir os espaçamentos entre as leituras durante algum tempo”, esclareceu.

O engenheiro explica que o deslocamento acontece pelo peso dos veículos que passam sobre o viaduto, empurrando o solo para baixo. “Com isso, o solo acaba se comprimindo e se deslocando lateralmente. É isso que pode causar instabilidade”.

A presença do grupo no viaduto da avenida Dez de Dezembro é elogiada por Mário David dos Santos. Ele é morador do conjunto Cafezal (zona sul) e passa a pé pelo local toda semana. “Já teve uma história desse viaduto oferecer algum risco, não teve? Então é muito importante ter especialistas acompanhando isso. É uma prevenção, uma medida de segurança”, observa.

INCLINÔMETRO

Para obter os dados do solo há 17 metros de profundidade, o grupo de professores e estudantes do CTU (Centro de Tecnologia e Urbanismo) da UEL, utilizam o inclinômetro. O equipamento foi doado para a universidade, que ficou encarregada de fazer as análises por dois anos.

A construtora Sanches Tripoloni, responsável pela obra do viaduto, adquiriu o aparelho para cumprir um acordo judicial firmado junto ao Ministério Público de Londrina e o DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná) em 2016.

Costa Branco comenta que a UEL continuará coletando os dados por mais dois anos. “Fica o equipamento e a técnica para a universidade e os dados para a cidade. Os furos no solo para podermos fazer esse trabalho já estão aí e esse tempo a mais vai nos permitir coletar medidas que integram todo a sazonalidade do clima, o que é muito importante para a pesquisa”, diz.

ACORDO JUDICIAL

As obras de duplicação da PR-445 no perímetro urbano começaram em 2012 e quatro anos depois a construção foi embargada por apresentar problemas estruturais em alguns dos viadutos. A situação foi levada ao Ministério Público pelo Ceal (Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina).

À empresa foi estipulado um prazo para realizar uma avaliação dos riscos dos muros de contenção e a aquisição de um inclinômetro, além da instalação de tubos guia para a inclinometria. Obras de reforço em alguns trechos também foram impostas no acordo.