De construções rebuscadas e tom ácido, Poemas Escolhidos, de Gregório de Matos, é a obra selecionada para discussão da terceira edição do podcast Clube de Leitura Vestibular da UEL 2021/2022, da FOLHA. O episódio vai ao ar nesta quinta-feira (23) e conta com análise técnica do professor, escritor e poeta Eduardo Baccarin, doutorando em Letras da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Imagem ilustrativa da imagem Gregório de Matos é tema de terceira edição de podcast da FOLHA
| Foto: iStock

Considerado o primeiro poeta brasileiro, Gregório de Matos apresenta extensa obra barroca com alta dose crítica e por isso recebeu a alcunha de Boca do Inferno. Em Poemas Escolhidos, essa personalidade é apresentada em três divisões: poesia de circunstância, poesia romântica e poesia religiosa. “Você vai encontrar as obras do Gregório em várias antologias, essa é a melhor cuidada por pegar todas essas fases. Mostra estilos do autor não de forma cronológica e coloca em subdivisões”, explica Baccarin.

A obra apresenta muita crítica à política e sociedade do Brasil do século 17, com ascensão dos comerciantes e a decadência dos engenhos sofridos pelo próprio autor. “Ele nasceu em 1633, viveu em torno de 60 anos e era de família rica, teve educação refinadíssima e há biógrafos que relatam que ele foi estudar em Portugal e teria convivido com a família imperial antes de retornar ao Brasil. Quando ele volta para a Bahia, passa a conviver com o clero que também é um ambiente recorrente na crítica do Gregório”, analisa o professor.

ACIDEZ DAS PALAVRAS

O autor era o terceiro filho de um senhor do canavial, que detinha dois engenhos e 130 escravos. Estudou em Coimbra, vivenciando a Contrarreforma e incentivo à catequese no Novo Mundo. Ele retornou ao Recôncavo da Bahia em período de crise aos proprietários rurais em oposição ao crescimento dos negociantes. Gregório teria abandonado os dotes e encargos adquiridos da família para sair às ruas como cantador itinerante entre os povos. Por acidez das palavras que não poupavam ninguém, ele foi deportado para Angola, podendo retornar ao Brasil desde que não fosse à Bahia.

A poesia de Gregório traz as características do barroco e estilo do cultismo, apontados por Baccarin como pontos importantes a serem analisados pelo candidato ao vestibular. “Pensando no barroco, temos muito a presença da antítese, das ideias opostas. A UEL vai identificar essas características, como antítese, paradoxo, jogo de palavras”, menciona. A poesia na temática religiosa também é característica do estilo.

Sobre as poesias em si, o professor acredita que é preciso treinar a habilidade de ler o texto para além das ideias. "A gente tem que ler poesia com emoção, porque o que a gente percebe na poesia é o próprio ritmo, uma métrica própria, uma história própria e ela tem uma forma de se comunicar própria”, defende.

SERVIÇO
O Clube de Leituras Vestibular da UEL 2021/2022 é um projeto da FOLHA em que a cada mês um professor convidado comenta as obras literárias. Qualquer pessoa pode participar, gratuitamente, por meio do canal no Telegram ou ouvindo os áudios nas principais plataformas de áudio na internet, como Spotify e SoundCloud.

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LISTA DE OBRAS DO VESTIBULAR 2021/2022 DA UEL

1. Agualusa, Jose Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Tusquets, 2018.

2. Andrade, Mário de. Contos novos. Nova Fronteira, 2015.

3. Azevedo, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo: Martin Claret, 2013.

4. Barreto, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Martin Claret, 2011.

5. Branco, Camilo Castelo. Amor de perdição. São Paulo: Melhoramentos, 2013.

6. Collin, Luci. A palavra algo. São Paulo: Iluminuras, 2016.

7. Guarnieri, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

8. Jesus, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2019.

9. Matos, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

10. Scliar, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Porto Alegre: LPM editores, 2017.