Um olhar despretensioso pode até levar à conclusão de que se trata de um felino comum, mas basta ele mostrar os dentes para perceber que na verdade é uma espécie selvagem. O pequeno gato-mourisco foi resgatado dentro de uma residência no distrito de Irerê, na zona sul de Londrina, no último dia 15 de setembro, pela Guarda Municipal. Ele está entre os cerca de 20 animais silvestres ou exóticos que estão em tratamento no Hospital Veterinário da Unifil.

O gato-mourisco, encontrado em uma casa no Distrito de Irerê, está em vias de se tornar em extinção
O gato-mourisco, encontrado em uma casa no Distrito de Irerê, está em vias de se tornar em extinção | Foto: Divulgação

Segundo o médico veterinário Marcos Shiozawa, o gato-mourisco costuma ser arredio e tímido. “É uma espécie vulnerável, com a população em forte desequilíbrio, em vias de se tornar em extinção. Ele é mais comprido, parecido com uma lontra. Vive perto de cursos d’água e a alimentação é baseada em pequenas aves, roedores e mamíferos”, explicou.

O felino chegou à instituição com forte desnutrição, classificado como caquético. Está recebendo soro, medicações e acompanhamento nutricional intensivo, além de receber vermífugos. A expectativa é de que seja devolvido à natureza em dez dias. “Animais muito jovens são mais difíceis de reabilitar para a natureza, porque acostumam com a presença do humano. Não pode perder o instinto selvagem, pois, é importante para a sobrevivência”, indicou. O gato tem aproximadamente 50 dias de vida.

PARCERIA

O Hospital Veterinário mantém há cinco anos parceria com a Força Verde e o Instituto Água e Terra, antigo IAP. Os órgãos levam para o centro médico animais em risco, que sofreram acidentes, órfãos e atropelados. Outra demanda é dos bichos oriundos do tráfico. “Assim que são trazidos, fazemos a avaliação veterinária, vemos se apresenta desidratação, desnutrição ou precisa de cirurgia”, elencou Mariana Cosenza, coordenadora do hospital. Na sexta-feira (18), um carcará foi levado após ser atropelado, com uma fratura na asa.

 Mariana Cosenza e Marcos Shiozawa com o carcará que fraturou uma asa ao ser atropelado
Mariana Cosenza e Marcos Shiozawa com o carcará que fraturou uma asa ao ser atropelado | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Recentemente, uma siriema foi solta na natureza depois de dois meses em tratamento. A ave havia sofrido uma fratura ortopédica e precisou de intervenção cirúrgica. “Após o período de recuperação avaliamos a situação da qualidade de saúde do animal. Uma parte é reintroduzida na natureza. O Instituto Água e Terra faz a destinação e nós acompanhamos, dependendo da espécie”, comentou Consenza. A cooperação é gratuita.

Em alguns casos, o bicho tem traumas irrecuperáveis, dificultando a vida dele em seu habitat. Nestas situações é feito o encaminhamento para outras entidades que possam recebê-los de forma adequada, como zoológicos e parques e criadouros especializados.

ÓRFÃOS

Entre os animais silvestres ou exóticos que atualmente permanecem no hospital estão gatos do mato, tucanos, cercarás e corujas. Segundo Marcos Shiozawa, que também é professor universitário, nesta época do ano é muito comum o aumento da demanda de animais que necessitam de cuidados, principalmente filhotes. “No inverno os filhotes nascem e com a primavera e o verão vão ‘explorar o mundo’ junto com os pais, se perdem e acabam ficando órfãos”, destacou.

Outra vivência rotineira com órfãos é quando pessoas encontram os bichos e acham que eles estão perdidos. “As fêmeas escondem os filhotes ao se deparar com presença humana. A pessoa encontra e acha que está abandonado. O melhor é não mexer e comunicar o Instituto Água e Terra, que faz o monitoramento”, relatou. “Não pode pensar como ser humano, mas animal e é assim. Os pais vão voltar”, acrescentou.

ACIDENTES

Com a ocupação territorial pela população em direção ao campo, os animais entram em conflito, perdendo espaço. “Quando acontece acidente com animal é necessário avisar os órgãos competentes o mais rápido possível. Procurar não pegar, porque podem estar assustados e agressivos pela situação que estão passando. Às vezes a pessoa pega, quer tratar em casa, mas cada espécie tem uma necessidade diferente”, advertiu Mariana Cosenza.