Todos os dias as Casas Lotéricas do País recebem milhões de apostadores que sonham em receber um prêmio que os façam mudar de vida, mas na última Quina de São João, de 27 de junho, o sonho se tornou realidade para 38 sortudos que apostaram em uma Lotérica de Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Cada apostador levou R$ 804 mil na cota do bolão. A sensação é rara, mas alguns premiados contam à FOLHA como é passar pela experiência de ganhar na loteria.

Imagem ilustrativa da imagem Ganhadores da Quina em Cambé contam o que fizeram com o dinheiro
| Foto: Roberto Custódio

José (nome fictício), 60, prefere não se identificar. Isso porque poucas pessoas sabem que ele foi um dos vencedores. Esse foi o jeito seguro que ele deu de continuar com a mesma rotina. “Não é bom falar, dinheiro é complicado. Eu continuo trabalhando, o dinheiro acaba, tem que trabalhar para manter”, revela.

Com o dinheiro, José conta que ajudou os filhos, pagou algumas dívidas e comprou um carro, diferente do que imaginava antes de receber o prêmio. “Queria comprar um carro melhor, queria reformar minha casa, viajar... Por enquanto, só comprei o carro, mas pagando as dívidas já está bom”, menciona.

Quando recebeu a notícia, ficou feliz, mas conta que dar a notícia para a família foi tão legal quanto recebê-la. “Minha esposa ficou mais feliz que eu, pulou, ficou muito animada. Meus filhos também, eu que sou mais tranquilo”, aposta. Talvez porque José é um sortudo nato e a notícia não seja tão rara para ele. Além dos prêmios menores, em 2017 ele recebeu R$ 74 mil na Lotofácil, jogando na mesma lotérica. Quando questionado se ele se considera sortudo, responde: “eu me considero uma pessoa abençoada por Deus pela família maravilhosa que eu tenho”, argumenta.

No entanto, afirma que para vencer, foi necessário perder várias vezes. “Eu jogo sempre, sempre joguei. Tenho umas cinco caixas de jogos que um dia eu vou contar quanto eu joguei e perdi”, brinca. Para ele, ganhar é bom, mas não se deve viver com exagero. “Muda a vida, sim, muda um pouquinho, a gente parte para uma coisa melhor, vive melhor, sempre tem algo melhor. Mas eu sou tranquilo, não sou ganancioso, tem gente que muda o jeito e eu nunca mudei, nunca vou mudar”, menciona.

Se em time que está ganhando não se mexe, não é agora que José pretende parar de fazer suas apostas. Ele continua com fé e na mesma lotérica. “Espero ganhar de novo. Eu fiz promessa de parar se eu ganhar R$ 5 milhões para cima, por enquanto, vou continuar jogando”, brinca.

CARRO IMPORTADO

Cláudia, 54, estava em casa quando recebeu uma mensagem do dono da lotérica no WhatsApp perguntando se ela era uma das ganhadoras da Quina de São João daquele dia. “Eu olhei a mensagem, vi os números, eu me confundi e respondi que não tinha sido eu”, recorda. Depois, preferiu verificar melhor. “’Espera, não estou acreditando’, eu pensei. Eu mandei mensagem para ele: ‘me ajuda a conferir, porque eu estou nervosa’. Eu tremi, eu fiquei muito feliz”, descreve.

Naquela noite, Cláudia não dormiu. “Eu fiquei fazendo planos do que iria fazer com R$ 804 mil. Aí eu percebi que, mentalmente, eu já tinha gasto R$ 400 mil”, ri. “Então, eu pensei com calma, vi que alguns desejos me trariam mais gastos no futuro e eu não teria como custeá-los”, afirma.

Um carro importado, reforma na casa, construir uma piscina e viajar estavam na lista. “O sonho de todo mundo que joga é ficar rico, parar de trabalhar, mudar de vida, viajar bastante, no momento, esse valor que eu ganhei não permite levar essa vida e parar de trabalhar. É como aposentadoria: as pessoas pensam: ‘quando eu me aposentar vou fazer e isso’ e muita gente não faz. Mas se eu tivesse ganhado os R$ 30 milhões sozinha eu teria pedido demissão no dia seguinte”, brinca.

Por enquanto, continua com a vida normal, porque Cláudia decidiu investir todo o valor. A notícia do prêmio chegou no sábado e passou o final de semana em silêncio até receber o dinheiro na conta. Somente os filhos sabem o que houve naquele 27 de junho. “Eu deixei aplicado, porque tenho uma situação financeira que preciso resolver no próximo ano. Então, continuo trabalhando, com a vida normal, às vezes até esqueço disso”, brinca.

Nesses dois meses com extrato da conta mais recheado, aproveita com consciência. “Mudou minha vida, porque eu fico mais segura, por exemplo, nós precisamos comprar um notebook, antes eu compraria um de R$ 2 mil, dessa vez nos permitimos procurar um modelo bom, então estamos nos permitindo pequenos luxos. Dei um upgrade nos gastos, mas com bastante consciência”, afirma.

E continua jogando, tentando a sorte mais uma vez. “Quero continuar, agora, além dos bolões, estou jogando sozinha também para ver se eu ganho os R$ 30 milhões todo. Eu até posso ainda reformar minha casa e construir a piscina, mas o carro importado vai ficar para quando eu ganhar os R$ 30 milhões”, brinca.

CASA DA SORTE

A lotérica que fez o bolão e entregou o prêmio foi a Super Sorte, localizada no Super Muffato do centro de Cambé. O prêmio original de R$ 152 milhões foi dividido entre apostas de Fortaleza (CE), Conceição das Alagoas (MG), Belém (PA), Cotia (SP) e Cambé, com R$ 30,5 milhões. Em Cambé, os R$ 30,5 milhões foram divididos em 38 cotas, com R$ 804 mil para cada apostador.

“Nós estamos aqui há quase 11 anos e a gente já pagou vários prêmios, um de R$ 540 mil da Lotofácil, R$ 1 milhão também no bolão da Lotofácil, quina da Mega-Sena várias vezes, mas esse da Quina de São João foi o maior”, conta Luiz Eduardo de Lima Dias, proprietário da lotérica. Ele afirma que o estabelecimento paga em torno de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil em prêmio diariamente.

Durante o tempo à frente da lotérica, presenciou várias histórias de ganhadores, como a de um catador de papel, que foi conferir o resultado no estabelecimento e descobriu o prêmio de R$ 75 mil. “Ele ficou nervoso, não passou muito bem, eu peguei o bilhete dele, preenchi, mandei ele para casa e orientei a ir na agência da Caixa no dia seguinte. Depois, ele voltou e deu dinheiro para as meninas que o atenderam”, recorda.

Com cada história, aprende um pouco sobre a vida. Nesse caso, sabe bem qual é a mensagem. “Ele disse que recebia R$ 700 como catador e com o dinheiro iria comprar os remédios e comer carne todo dia. A gente pode achar R$ 70 mil pouco para um prêmio, mas pode mudar totalmente a vida de outra pessoa”, argumenta.

Com os prêmios, a lotérica ganhou fama de trazer sorte e passou a ter clientes fiéis, inclusive de outros estados que compram por WhatsApp. O proprietário fala sobre uma relação bacana com os apostadores assíduos. “Quando saiu o prêmio da Quina, muitos amigos me ligaram. Teve cliente que deixou o jogo comigo, porque reservam para buscar depois. No fim, eu fiquei com uns cinco bilhetes premiados que as pessoas não tinham ido buscar ainda e fui eu que avisei que a pessoa tinha ganhado”, menciona.

Dias fala que as reações entre eles são diversas, mas sempre de alegria. Apesar de jogar, ele não estava entre os sortudos da vez, mas não lamenta ver tanta sorte passando por ele assim. “Tudo tem sua hora, a minha ainda não chegou. E a gente não tem ganância, se o cliente ganhar fica bom também, porque aí vem mais jogos para a lotérica”, observa. E aguarda o momento certo, quem sabe na próxima? “Na Lotofácil da Independência também vou pagar prêmio!”, torce.