Funcionários do Cemic temem represália
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quarta-feira, 04 de outubro de 2000
Sid Sauer De Campo Mourão
A coordenadora do Centro de Estudo do Menor e Integração na Comunidade (Cemic) de Moreira Sales (70 km a oeste de Campo Mourão), Maria Lúcia Ferreira Rocha, disse ontem que os funcionários da entidade temem represálias por parte da população devido à morte por afogamento das três crianças, na segunda-feira. Na noite daquele dia, quando as crianças ainda estavam sendo veladas, houve uma tentativa de incêndio no prédio do Cemic.
O fogo só não se alastrou porque algumas pessoas perceberam e apagaram tudo a tempo, disse o delegado da cidade, Lúcio Wenceslau. Ele não chegou a abrir um inquérito para apurar o caso, mas procura pistas de possíveis autores da tentativa de incêndio. O fogo foi colocado numa camiseta que foi jogada na cozinha do Cemic.
A diretora Maria Lúcia disse que, desde o acidente, não saiu mais de casa. Estamos chocados e com medo, contou. A maioria da população entendeu que tudo não passou de uma fatalidade, mas um grupinho vem insuflando outras pessoas, inclusive familiares das crianças que morreram. Segundo ela, pode estar havendo conotação política no caso. As crianças Jéssica Dias do Nascimento, 9, e os irmãos Edvaldo, 9, e Juliano Jesus dos Santos, 8, morreram afogadas numa represa quando retornavam de uma atividade extraclasse.
Maria Lúcia explicou ontem que os alunos da pré-escola do Cemic tinham sido levados para o viveiro municipal para conhecer plantas e raízes. Junto com eles, foram alunos do reforço escolar. Eram mais de 20 crianças que estavam acompanhadas de três professoras duas do pré-escolar e uma do reforço. As crianças que morreram estudavam à tarde e, pela manhã, tinham aulas de reforço no Cemic.
O Cemic atende crianças de zero a 14 anos em situação de risco social, explicou a coordenadora. Ao todo, são atendidas no local 280 crianças. As professoras não tiveram culpa, garantiu Maria Lúcia. Foi um acidente, e não sabemos como vamos superá-lo. Ontem, o Cemic continuava fechado. A reabertura só deverá acontecer na próxima segunda-feira. Para evitar novos ataques e depredações, vigias estão cuidando do local 24 horas por dia.
O delegado disse que não conseguiu ouvir as três professoras em depoimento, ontem. Elas ainda estão em estado de choque e a tomando medicamentos, explicou. Uma delas mora em Goioerê. Wenceslau também admitiu que algumas pessoas estão querendo se aproveitar da situação. Tem gente falando coisas sobre o caso que não são verdadeiras, disse. Uma delas é que as crianças teriam saído da creche para ir a um piquenique. Isso não é verdade, afirmou.