Física da UEL completa 45 anos
Implantando em 1974, curso é referência pela qualidade na graduação e pós
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 06 de novembro de 2019
Implantando em 1974, curso é referência pela qualidade na graduação e pós
Pedro Marconi - Grupo Folha
O curso de física da UEL (Universidade Estadual de Londrina) completando 45 anos de existência em 2019. A resolução com a criação é de 1973 e a implantação ocorreu no ano seguinte. O departamento ligado ao curso teve origem na Faculdade de Medicina do Norte do Paraná, em 1971. Com o início da Fundação Universidade Estadual de Londrina, também começaram as atividades do atual departamento, que em 1972 foi instalado e passou a atender outros cursos com docentes ministrando física básica.
Com uma reforma promovida no quadro docente do Departamento de Física, foi definido que os professores contratados fossem graduados em física, o que fez concretizar a concepção de um curso voltado a esta área. Na época, o curso ofertava 40 vagas de licenciatura e bacharelado, que eram juntos. “A que primeiro se formou não foi a turma inaugural e sim a segunda, porque ficaram apenas dois alunos, sendo que um se mudou e outro foi transferido para a Federal de São Carlos, em São Paulo”, narra Avacir Casanova Andrello, chefe do Departamento de Física.
Em 1992, a UEL modificou sua fórmula de ingresso do sistema de crédito semestral (com dois vestibulares por ano) para o que existe até hoje, que é o seriado, com somente um. Na oportunidade, o curso de física foi dividido em bacharelado e licenciatura, passando a oferecer 30 vagas cada. No ano de 1996 foi introduzido o mestrado e em 2000 o doutorado, que começou com um programa associado com a UEM (Universidade Estadual de Maringá).
Aluno da primeira turma formada do curso e de iniciação científica de toda a instituição londrinense, Américo Tsuneo Fujii é professor do departamento há 40 anos. “Sempre trabalhei na UEL”, orgulha-se. Ele dá aulas de laboratório. “Mesmo depois de formado, sempre foi um aprendizado grande estar aqui. Passei pelo administrativo e isto me fez conhecer mais sobre a universidade, tendo contato com outros profissionais. Fez melhorar minha atuação”, destaca.
O professor conta que a estrutura do curso e departamento acompanharam as transformações da própria UEL ao longo dos anos. “Na década de 1970 a universidade estava bem básica, com construções limitadas. Posteriormente, vários prédios foram construídos, passamos a ter laboratórios voltados à pesquisa e ensino”, descreve. Atualmente são quatro laboratórios para experimentação básica de física.
ALUNOS
O curso tem duração de quatro anos e a média de formandos é de 20% em relação ao número de estudantes que iniciam. Segundo Andrello, que também foi aluno de graduação, além do mestrado e doutorado, o percentual é uma realidade das formações de física por todo o Brasil. “Os alunos não têm uma visão clara, porque no ensino médio teve o básico. Quem vem da rede privada até vê um pouco mais de termodinâmica, por exemplo, mas ainda sim básica. O aluno tira 8, 9 na escola e acha que gosta”, elenca, chamando atenção para a questão social educacional.
Para tentar conter a evasão, que no primeiro ano letivo chega a 50%, o corpo docente e chefia tem trabalhado para fazer do curso mais “leve” até que os estudantes tenham melhor noção do conteúdo. “No primeiro ano a matemática é ‘pesada’ e acaba chocando”, reconhece o chefe do Departamento de Física. “Apesar da dificuldade, a pessoa que conclui terá o emprego e pode curtir mais a vida, porque o curso é de qualidade. Falo para eles que enquanto estiverem na graduação, vão precisar de dedicação máxima, não tem outro jeito. Não é só assistir a aula. É estudar, ler, fazer exercícios.”
APROXIMAÇÃO
Como forma de aproximar os alunos do ensino médio à temática da física e desmistificá-la, é realizado há três anos dentro da programação da Semana da Física. “Desde o começo o curso é bom. Vemos isso nos nossos egressos, que estão em cargos importantes, instituições de renome, atuando fora do País, atuando como docentes pelo Brasil e o mundo”, valoriza Andrello.
De acordo com os profissionais, a implantação do mestrado ajudou de forma significativa na fortificação do curso, já que os formandos passaram a ter oportunidade de continuar a formação. Hoje, a física da UEL oferta pós-graduação, mestrado, doutorado e especialização em física para o ensino médio. O programa de pós-graduação em ensino de ciências e educação matemática é o único do País com a nota sete da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
PRESENÇA FEMININA
O corpo docente do curso de física da UEL (Universidade Estadual de Londrina) conta com três mulheres. Faz parte do grupo Paula Fernanda Bienzobaz, que leciona a disciplina de matéria condensada com ênfase em mecânica e estatística. Natural de Jaú, no interior de São Paulo, se formou em Maringá (Noroeste) e há quatro está na instituição londrinense.
Prestou concurso em 2013, época em que fazia pós-doutorado na USP (Universidade de São Paulo). Continuou estudando fora do País e retornou em 2015, quando foi convocada para assumir a vaga. O marido da pesquisadora também trabalha no Departamento Física da UEL como professor, tendo sido chamado pelo mesmo concurso e ano.
Bienzobaz afirma que foi bem recebida ao chegar na universidade e que já ganhou uma “bagagem” relevante ao longo dos últimos anos. “Me adaptei bem. Quando assumi acabei dando aula de física básica para alguns cursos de fora do departamento no primeiro semestre, como agronomia e engenharia. Logo em seguida tive oportunidade de ficar só na física, atuando em disciplinas de terceiro e quarto ano, pós-graduação. Isso foi muito bom, pois, normalmente, são os professores com mais experiência que acabam ministrando estas disciplinas”, comemora.
Para a docente, o pré-conceito em relação a mulher na física, ciências exatas e pesquisas diminuiu de forma considerável, porém, ainda é latente. “No meu doutorado sentia que os colegas homens faziam perguntas para desafiar. Já ouvi histórias de professoras em outras instituições que não eram procuradas pelos estudantes para iniciação científica por serem mulheres. Não sinto isso dos meus alunos. No departamento me procuram bastante para mestrado e até doutorado. De maneira geral, as alunas meninas procuram mais.”
Mãe recentemente, Bienzobaz continuou exercendo a profissão mesmo de licença-maternidade e com todos os afazeres e desafios que esta fase da vida traz. “Atendo alunos por Skype, uma vez por semana vou na UEL. A pesquisa não para e se isso acontece, até pegar o ritmo novamente é complicado. Dei aula até uma quarta-feira e ganhei a Helena na quinta-feira, em maio", menciona. Seu retorno em definitivo está previsto para dezembro. “Estamos enfrentando problemas em relação a bolsas, com cortes. Dá certo desânimo, mas, entre os professores conversarmos que é hora de ‘sobreviver’ a este período e depois tentar reconstruir”, acrescenta.
Neste ano, a diretoria executiva do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) aprovou a inclusão da data de nascimento e de adoção de filhos no Currículo Lattes. A decisão foi vista como um avanço. Pesquisadores com filhos enfrentam redução de investimentos em suas pesquisas e a produção acaba diminuindo.
MOMENTO DE APREENSÃO
Apesar do ano comemorativo, o curso de física da UEL (Universidade Estadual de Londrina) atravessa um momento de apreensão quanto seu futuro, em razão da falta de reposição de profissionais, corte de investimentos e sucateamento. Dos 38 docentes do departamento, há 17 vagas que ainda não foram autorizadas pelo Governo do Estado para preenchimento. Dos 29 professores que trabalham atualmente, 21 são efetivos e oito temporários.
“Mesmo com os temporários temos um deficit. Além disso, não podem atuar na pós-graduação, o que prejudica. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) determina um número mínimo de professores para autorizar a pós e estamos no limite. Mais profissionais deverão se aposentar em breve. Tem concurso realizado, porém, as pessoas ainda não foram chamadas”, relata Avacir Casanova Andrello, chefe do Departamento de Física.
O curso e a pós-graduação absorvem alunos do Paraná e de outros estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e países da América Latina. O departamento atende sete cursos de graduação, além dos dois de física: bacharelado e licenciatura. Ainda estão associados à estrutura o Planetário de Londrina, Observatório Astronômico e Museu de Ciência e Tecnologia. Só no planetário frequentam mais de 14 mil pessoas anualmente.
De acordo Andrello, que também é coordenador do laboratório de física nuclear aplicada, a falta de servidores tem comprometido o bom funcionamento dos espaços. “O técnico de informática que tem dividimos com o pessoal de matemática. Não temos funcionários de limpeza, ‘emprestamos’ de outros departamentos. Temos três físicos nos laboratórios. Eram sete de nível superior para dar suporte. Nossa oficina teve investimento de R$ 150 mil e está fechada e não dispomos de torneiro mecânico. Falta mão de obra para gerar o mínimo de condição”, pontua.
O docente cita a LGU (Lei Geral das Universidades), proposta pelo governo estadual, que em um dos seus artigos prevê extinguir cursos com mais de 50% de evasão. O departamento e curso dispõe de várias pesquisas, como uma baseada em baterias, com tecnologia de reaproveitamento, e grupo de teoria física. “A física teve evolução desde o início do século 20, com teorias de Einstein, quântica, porém, o básico continua, como a física nuclear. O que tem mudado é a tecnologia e estamos acompanhando todas essas mudanças no ensino, buscando melhorar”, ressalta.
Mesmo com o ambiente universitário caótico, o professor Américo Tsuneo Fujii espera poder continuar se dedicando ao curso pelos próximos meses, quando deverá tirar licença que tem direito. “Já tenho idade para me aposentar e a licença será uma preparação com a rotina sem a sala de aula. Espero que tudo dê certo para a UEL”, deseja o docente, que coordena o Planetário de Londrina.