Festival de Graffiti colore Londrina
Mais de 60 grafiteiros de todo o País deixaram suas marcas nos muros da Escola de Circo e do Cemitério São Pedro
PUBLICAÇÃO
domingo, 27 de outubro de 2019
Mais de 60 grafiteiros de todo o País deixaram suas marcas nos muros da Escola de Circo e do Cemitério São Pedro
Micaela Orikasa - Grupo Folha
Com muros mais altos, o Cemitério São Pedro, na região central, acaba de ganhar um novo visual. Ao todo, cerca de 70 novos painéis foram desenhados por artistas de todo o País que vieram participar do Festival de Graffiti. Eles também pintaram um mural na Escola de Circo de Londrina, na zona norte.
O evento, que vem movimentando a cidade desde quarta-feira (23) com workshops e rodas de conversa, se encerrou neste domingo (27) quando os 67 participantes deixaram suas marcas nos muros do cemitério São Pedro ao som de DJs, batalhas de MCs e apresentações circenses. Tudo isso sob um sol escaldante e temperaturas perto dos 40° C.
A beleza dos painéis é tamanha que a publicitária Ana Cavalin fez questão de registrar algumas imagens no celular. Ela passava pela avenida Rio de Janeiro quando se deparou com os grafiteiros transformando o visual do centro.
“Fiz fotos do que eu mais gostei, conversei com esses artistas e trocamos contatos. Esse trabalho é lindo e deveria se estender para outros locais”, comentou Cavalin, enquanto mostrava uma imagem de uma indígena segurando uma semente. Nela, a artista Jéssica Cristiane de Moraes, conhecida como “Jay Moraes”, desenhou uma criança.
“Representa todo o poder e a energia da criação. Eu escolho os povos indígenas para grafitar como uma forma de relembrar nossa essência, os guardiões da nossa mata. E a figura da mulher vem para mostrar a força do poder feminino”, diz Moraes, de Cascavel.
O que também chama a atenção no desenho é a dedicatória a Hilda. “É uma usuária de crack que eu conheci hoje. Ela parou para ver meu desenho e chorou muito porque já perdeu um filho. Isso me emocionou muito porque, às vezes, eu me prendo muito à técnica, mas o importante é a mensagem e a Hilda me fez repensar isso”, conta.
Presença feminina
A participação de mulheres foi bem expressiva no evento. Dâmaris Felzke da Rosa, por exemplo, esteve pela primeira vez em Londrina. Ela é do Rio Grande do Sul, mas mora atualmente no Peru. “Vim especialmente para este Festival e estou achando bem interessante conhecer outros olhares, técnicas”, comenta.
Rosa diz que ao descobrir que se tratava de um muro de cemitério, teve a ideia de “retratar a festa de los muertos que acontece no México e que participei em 2018. Achei que tinha tudo a ver. É uma festa muito divertida”, destaca.
Todos os estilos
O grafiteiro Carão, do coletivo CapStyle, é o responsável pelo Festival e diz que o tema é livre. “Todos os convidados já possuem uma linha de trabalho bem definida. Tem desde as letras que são clássicas no graffiti até realismo.”
André França, conhecido como “Hulk”, é de Manaus (AM) e participa do evento pela primeira vez trazendo sua leitura sobre os indígenas em uma técnica que ele classifica como ‘realismo conceitual’. “Busco valorizar nossas raízes como uma forma de homenagem também à minha terra. Eu gosto muito de desenhar curumins”.
Já Carão se fortaleceu na temática afro-racial e com 19 anos de profissão, despontou internacionalmente. Recentemente, ele foi convidado para o maior evento de graffiti do mundo, realizado na Bélgica.
Toda essa bagagem, Carão trouxe para Londrina ao promover eventos envolvendo a arte de rua. A intenção, segundo ele, é proporcionar a troca de experiências e a conexão entre artistas de diferentes locais.
Nesta 5ª edição do Festival, Carão contou com a parceria da Escola de Circo, Prefeitura Municipal, Coletivo CapStyle e Acesf (Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina), além do apoio de empresas para a compra de materiais.
Para o próximo ano, ele já planeja uma edição de inverno. “Foi incrível receber todo esse pessoal para deixar esse espaço ainda mais atrativo. A única coisa que saiu um pouco do controle foi o calor. Estou pensando em fazer uma edição no inverno”, brincou.