Feira do Escambo faz idosos revirarem o fundo do baú
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quinta-feira, 30 de outubro de 1997
Adriana De Cunto Londrina
Milton DóriaProjeto pilotoA feira foi realizada durante todo o dia de ontem: se resultados forem bons, a dose será repetida Alunos, professores e funcionários da Universidade Estadual de Londrina esqueceram ontem os conceitos capitalistas e a moderna matemática financeira para resgatar uma atividade comum antes do surgimento da moeda: o escambo. A 1ª Feira do Escambo, promovida pela Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati-UEL), aconteceu das 9 às 17 horas no calçadão do campus da UEL, em frente à Biblioteca Central.
Apesar da intenção primeira - o de só realizar trocas -, o que predominou mesmo na Feira foi a venda dos artigos - novos ou usados - oferecidos pelos frequentadores da Unati e também por alunos de cursos de graduação da UEL. Bijuterias, roupas, chinelos enfeitados, sapatos usados, doces caseiros e até uma televisão Philips preto e branco de 14 polegadas foi levada para o campus.
O dono da TV, o professor aposentado Arnaldo Riçoli, 66 anos, esperava vendê-la por R$ 150. Ele também levou para a feira várias sandálias de borracha enfeitadas e bijuterias confeccionadas por ele e a mulher, Benedita Ribeiro Carvalho Riçoli. O preço das sandálias variava de R$ 18 a R$ 20 e das bijuterias, entre R$ 2 e R$ 5. Esta feira é uma boa oportunidade para a gente mostrar os nossos artigos e uma maneira da gente comercializar os produtos, ressalta Arnaldo, que frequenta a Unati.
Outra aluna da Unati, Maria Carmem da Silva, 68 anos, levou várias coisas para a feira. Mas o grande sucesso foi a coleção de dinheiro antigo (notas e moedas) herdada dos avôs. A coqueluche era uma moeda de 1922, comemorativa ao centenário da Independência. Mas Maria Carmem não colocou preço no objeto. Trouxe só para mostrar para o pessoal. É uma relíquia. Não saberia por quanto vender ou pelo que trocar, justificou. Uma das moedas da coleção, peça de 1945, foi trocada por um colar com a colega Jeane Tramanontini Zaluchi.
Acho superinteressante a Feira de Escambo mais por causa do aspecto cultural do que financeiro, revela Jeane, uma das vendedoras mais animadas da feira. Na opinião dela, é através da troca que as pessoas se identificam. É assim que vou encontrar pessoas com gosto semelhante ao meu. Eu já usei estas peças no passado e agora é uma oportunidade de outras pessoas também usarem. Jeane frequenta a Unati e é professora do Senac. Ela levou uma jaqueta jeans, várias bijuterias, cintos e até baralho.
As amigas Maria Aparecida Vieira, 48 anos, e Maria Aparecida Marostica, 49 anos, são de Arapongas e fazem parte da turma da Unati. Aproveitaram a feira para vender doces caseiros de laranja e figo, além de roupas usadas. Elas são professoras e gostaram da idéia de expor os produtos na UEL por ser uma boa maneira de arrecadar dinheiro. Cada pote de doce de 1,2 quilo custava R$ 6.
O evento atraiu também alguns alunos da UEL, interessados em arrecadar um dinheiro a mais. Paula Jordão Maia, 21 anos, cursa o 4º ano de Engenharia Civil e colocou à venda, por R$ 1, doces confeccionados pela empresa da família. Tatiana da Silva Pereira, 20 anos, aluna de Biologia, levou a sobra de bijuterias comercializadas no litoral, no ano passado. Sabrina Laurita, 19 anos, acadêmica de Biologia, colocou à venda várias bolsas de crochê feitas pela mãe. Não tive aula pela manhã e quem sabe dá para levantar um dinheiro.
Uma das organizadoras da feira, a estagiária do curso de Serviço Social Claudines Perosin, acredita que, mesmo antigo, o escambo é uma nova alternativa de negócios para os alunos da Unati. É uma oportunidade deles vasculharem seus pertences, dar novos valores às coisas e se desfazer do que não tem serventia. Ela comenta que se trata de um projeto piloto e, se der certo, poderá ser repetido. Hoje, a Unati tem 80 alunos. Cada turma permanece dois anos frequentando a universidade.