Foi num momento difícil da vida que a médica Alexandra Neuba encontrou no próximo forças para seguir em frente e se colocar a serviço. “Em 2012 estava bem mal psicologicamente e o doutor Alvaro Fagotti me incentivou a ir para a ONG (Organização Não-Governamental) em que já participava desde a formação dele (em cirurgia crânio-maxilo-facial). Minha primeira missão foi em Fortaleza (no Ceará)”, relembra. A instituição a qual se refere é a “Operation Smile”, que em português significa “Operação Sorriso”.

A entidade internacional tem sede na Virgínia, Estados Unidos, e existe desde 1982 realizando missões cirúrgicas para operar gratuitamente crianças e adultos com fissura labiopalatina. Desde que passou a fazer parte do grupo de voluntários já foram 37 missões, entre as realizadas no Brasil e fora. Neste ano esteve no Marrocos e no Cariri, no Ceará. “A missão, em média, dura uma semana, mas a internacional dura mais, porque tem o tempo de viagem. Quando fui para as Filipinas, por exemplo, foram quase 30 horas apenas de viagem”, comenta.

Alexandra Neuba é natural do estado do Rio de Janeiro, mas mora em Londrina há aproximadamente duas décadas. Se formou em medicina no Rio, fez residência em São Paulo e no Paraná e se especializou em anestesia pediátrica pelo hospital Sírio-Libanês. É justamente na área de anestesia que ela colabora, levando mais qualidade para localidades carentes junto com os parceiros de ONG. No Brasil são cerca de 400 voluntários.

ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

A “Operação Sorriso” tem várias sedes pelo mundo e a ideia é fomentar a criação de centros onde existe a demanda, mas que muitas vezes esbarra na falta de estrutura. “Existem os parceiros fixos no Brasil, como em Santarém (Pará), Porto Velho (Rondônia), Mossoró (Rio Grande do Norte) e Cariri. Em setembro vamos começar em Parintins (Amazonas). O parceiro é onde está começando a montar o centro. A parte cirúrgica é a mais difícil de ser realizada, porque depende de profissionais especializados, mas o atendimento é multidisciplinar, com psicólogos, dentistas, fonoaudiólogos, parte nutricional”, explica.

A cada trabalho um novo aprendizado técnico e para a vida. “No ano passado fizemos uma missão no Marrocos só com profissionais mulheres. Temos 65% da assistência direta feita por mulheres, só que apenas 20% do comando das ações foi por mulheres. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) teve uma iniciativa incentivando o atendimento feminino. Tenho 30 anos de formada e sou da época em que o centro cirúrgico era predominantemente masculino. Fico feliz por ver tantas jovens abraçando causas importantes.”

Imagem ilustrativa da imagem Fazendo da vida uma missão em prol de sorrisos
| Foto: Arquivo pessoal

‘SALVOU MINHA VIDA’

A profissional já tem se preparado para o próximo desafio: entre os dias seis e 13 de agosto, em Santarém. “A missão salvou a minha vida. Sempre digo que a missão é uma forma de enxergarmos o mundo. Vivemos no Sul do País num espaço privilegiado, de atendimento médico e hospitalar, temos mais que a maioria do Brasil tem. Por isso, a maior parte da missão é nos estados do Norte e Nordeste”, destaca. A estimativa é de que por ano surjam seis mil novos casos de fissura labiopalatina no País.

CIRURGIAS EM LONDRINA

Neuba é concursada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) há 19 anos, sendo médica plantonista, e também presta serviços nos hospitais da Zona Norte, Zona Sul e no HU (Hospital Universitário), em Londrina. Na cidade participa de procedimentos cirúrgicos de crianças com deformidades faciais. Por mês são de 12 a 16 operações. As intervenções são feitas no HZS e após encaminhamento do Cefil (Centro de Apoio e Reabilitação de Portadores de Fissura Lábio Palatal), que fica na zona leste de Londrina. O centro recebe recursos da União, município e de uma outra ONG norte-americana.

“É tudo de forma gratuita, pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O Cefil tem psicólogos, fonoaudiólogos, dentistas, assistência social e recebe pessoas do Paraná e até de outros estados. O doutor Álvaro Fagotti é quem faz o ambulatório”, detalha. “A criança fissurada não passa apenas por uma cirurgia. Em média são de três a quatro durante a primeira infância. A fissura bilateral, por exemplo, tem que fechar o lábio, depois o palato, posteriormente reconstruir o lábio e ainda tem o enxerto ósseo”, acrescenta.

Para a médica, o número de famílias beneficiadas por esse e outros serviços poderia ser maior se o voluntariado fosse abraçado por mais pessoas e profissionais. “Temos muito potencial humano e qualificado. Várias ONGs precisam deste material humano”, frisa.

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