Imagem ilustrativa da imagem Incêndio deixa desabrigados no Novo Amparo
| Foto: Gina Mardones



Um incêndio reduziu a cinzas dez casas em uma área de ocupação no conjunto Novo Amparo (zona norte de Londrina). O fogo começou por volta das 20h de segunda-feira (14) e rapidamente consumiu tudo ao redor. As chamas puderam ser vistas por moradores de bairros próximos e se não fosse a ação rápida dos bombeiros e a ajuda da vizinhança que se uniu para tentar controlar o fogo, a destruição teria sido maior. Ninguém ficou ferido, mas as famílias atingidas perderam tudo o que tinham e agora esperam doações para poderem reconstruir suas vidas.

Quando o fogo começou, Amanda Natália de Souza estava em um bairro vizinho, na casa de parentes, e foi alertada por um primo de que o incêndio poderia ser no local onde ela vivia há dois anos. "Corremos para ver, mas quando cheguei na minha casa já não tinha mais nada. A gente tem coisas simples, mas minha casa tinha dois quartos separados, cozinha, sala com tapete, banheiro. Eu tinha máquina de lavar e minha filha tinha uma bicicleta da Frozen. Queimou tudo", contou Souza, que tem dois filhos, uma menina de seis e um menino de três anos, e está grávida de quatro meses. "Nem contei para a minha filha ainda. Ela está na casa da avó e pedi para não contar para ela. Não tive coragem de falar que as bonecas dela queimaram todas. É muito triste."

Manoel Marciano Gomes chegou mais tarde em casa no dia do incêndio. Como sempre faz às segundas-feiras, ficou no centro da cidade para esperar pelo sopão distribuído às pessoas carentes e em situação de rua. Depois de receber a refeição, voltou para o bairro. Vestia calça comprida, camisa, boné e uma bolsa a tiracolo. Nesta terça-feira (15), a roupa do corpo e os pertences guardados na bolsa eram tudo o que restavam de uma vida. "Eu tinha fogão novo, geladeira nova, colchão. Tudo eu tinha comprado. Queimou tudo. Não tenho mais dinheiro para comprar de novo. O fogo queimou e não tem mais volta", disse, em uma mistura de tristeza e resignação.

Com um bebê de apenas um mês de vida dormindo em seus braços, Ana Carolina Santos Sampaio agradecia por não ter perdido nenhum parente. Além dela e do pequeno Kaleb, moravam na casa a filha de quatro anos e o cunhado. "Estava na casa da minha sogra e de lá eu vi as labaredas. Não sobrou nada da minha casa. Não consegui salvar nada, nem os documentos. A gente sabia dos riscos que corria porque todo mundo tem 'gato' em casa, mas não tem outro jeito", relatou. "Essa noite dormi na casa da minha sogra, mas eu não posso ficar lá. Penso em voltar para o terreno (ocupação) e reconstruir tudo, mas ainda não sei como."

ABRIGO

Os moradores da ocupação do conjunto Novo Amparo que ficaram desabrigados foram levados para a Igreja Católica do bairro, onde passaram a noite. O local não tem estrutura para abrigar as famílias. A Defesa Civil forneceu lanches e colchonetes, que foram distribuídos em uma área aberta do lado de fora da igreja, mas nesta terça-feira (15) funcionários da Cohab-LD (Companhia de Habitação de Londrina) e do Cras (Centro de Referência de Assistência Social), vinculado à Secretaria Municipal de Assistência Social, estiveram no local para conversar com as famílias e tentar encontrar um lugar mais adequado para elas ficarem provisoriamente, até que consigam uma moradia definitiva.

O presidente da Associação de Moradores do Conjunto Novo Amparo, Flávio Alves Folgado, disse que a população tenta resolver a questão da moradia desde a gestão passada do governo municipal, mas a solução demora a chegar. "Foram feitas muitas reuniões e de lá para cá, o município não deu uma resposta. Agora pedimos apoio da sociedade e também de órgãos públicos para que a gente possa ajudar essas pessoas a reconstruirem suas casas."

Assistentes sociais do Cras e da Cohab reuniram-se com cada família separadamente para ouvir a necessidade de cada um e tentar encontrar uma solução. Segundo a assistente social da Cohab, Edna Aparecida de Carvalho Braun, todos estão inscritos na companhia de habitação. A maioria tem cadastro na Cohab e aguarda na fila por uma moradia no Residencial Flores do Campo (zona norte), mas o projeto de mais de 1.200 unidades habitacionais tocado com recursos do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida foi paralisado, a construção foi invadida em 2016 e até agora não houve a reintegração de posse à Caixa Econômica Federal.

Pelo menos um dos moradores que perdeu tudo no incêndio desta segunda-feira, chegou a ser contemplado com um imóvel por um programa habitacional em 2009, mas a Cohab não soube informar qual foi o destino desse imóvel. Neste caso, o morador não voltará a ser contemplado pela companhia de habitação.

A secretária municipal de Assistência Social, Maria Inês Galvão de Mello, disse que a maioria das famílias já é referenciada no serviço de assistência e, por meio desse serviço, poderão receber um benefício eventual, cestas básicas e se houver pessoas que não são de Londrina e queiram retornar a sua cidade de origem, a secretaria poderá pagar a passagem. "Se depois da triagem ainda ficar família em situação de não ter para onde ir, podemos oferecer abrigo na Morada de Deus ou no Bom Samaritano, que são os abrigos que temos, até que se tenha uma situação em definitivo."

DESDE 2016

Segundo levantamento da Cohab-LD, a área do conjunto Novo Amparo onde ocorreu o incêndio é um terreno particular ocupado irregularmente em 2016 e nele vivem 36 famílias. As casas são feitas de madeirite, com estrutura bastante precária. Nenhum morador sabia dizer onde o fogo começou, mas todos contaram que se espalhou rapidamente, atingindo dez famílias, totalizando cerca de 25 pessoas. As chamas chegaram até a casa de Eduardo Oliveira da Silva, que teve uma das paredes laterais danificadas pelo fogo, mas ele não perdeu nenhum de seus pertences. "Por sorte, nem eu nem a minha esposa e nossos dois filhos estava em casa na hora. Estava na casa da minha avó e quando avisaram, vim correndo. Mas os bombeiros chegaram rápido, os vizinhos também ajudaram e o fogo não alastrou para todas as casas. A minha não queimou, graças a Deus."

Os Corpo de Bombeiros ainda investiga as causas do incêndio. Um relatório foi encaminhado para a polícia, mas segundo o superintendente da Polícia Civil em Londrina, José Márcio Ilkiu, no momento não há suspeita de que o incêndio tenha sido criminoso.

SERVIÇO - Quem quiser ajudar com doações as famílias afetadas pelo incêndio pode entrar em contato com o presidente da Associação de Moradores do Conjunto Novo Amparo, Flávio Alves Folgado. O número é o 99827-8070. Doações também podem ser feitas diretamente na Igreja Católica do bairro. Além de roupas e alimentos, as famílias precisam de móveis, eletrodomésticos e utensílios domésticos.