Nycolas Ronald Dias trabalhava como barbeiro e sonhava, e se dedicava, para ter sua própria barbearia. Mas esse e outros sonhos do jovem de 22 anos, que morava na zona leste de Londrina, foram interrompidos de forma repentina na segunda-feira (23). “Nos traz uma indignação muito grande, pois, os sonhos dele acabaram, ele deixou amigos, irmãos, uma família que o apoiava, o carro que conquistou aos ‘trancos e barracos’. Os sonhos dele acabaram por não terem dado a chance de ele sobreviver”, lamentou a segurança Thaís Karina da Silva, que é irmã.

O rapaz morreu dentro da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim do Sol, na região oeste, cerca de seis horas após dar entrada no lugar. Segundo a irmã, Nycolas passou mal no domingo (22), com fortes tosses, incluindo com sangue, e procurou a unidade pela primeira vez. “Ele vomitou na sala da médica. Trataram o caso dele como ansiedade, deram calmante na veia, oral e mais duas injeções e depois liberaram”, contou.

O estado de Nycolas foi piorando com o passar das horas e ele retornou à UPA no dia seguinte, segunda. “Fizeram um raio-x e disseram que não tinha nada e liberaram. Mas quando estava saindo a médica o chamou de volta e falou que tinha água no pulmão. Fizeram pedido de ambulância, porém, com a demora ele foi agonizando, quando voltou colocaram no soro com medicamento forte para dormir, ele acordou convulsionando e pedindo oxigênio. Colocaram depois que já estava se batendo, no entanto, ele morreu”, afirmou.

O atestado de óbito indicou que o jovem teria falecido por infarto agudo do miocárdio, derrame plural (acúmulo de líquido entre as duas camadas que revestem os pulmões), dispneia súbita (falta de ar) e convulsão. Motivos contestados pela família. “Ele era um jovem saudável. Há cinco meses teve problema respiratório, o que foi avisado na UPA, mas desde então estava melhor. Queremos saber como chegaram a essas conclusões da causa da morte se ele não passou por perícia no IML (Instituto Médico Legal)”, questionou.

Nycolas morava com a mãe na zona leste de Londrina: sonhava em ter barbearia
Nycolas morava com a mãe na zona leste de Londrina: sonhava em ter barbearia | Foto: Arquivo pessoal

A família registrou BO (Boletim de Ocorrência) e denunciou o episódio no MP-PR (Ministério Público do Paraná) e no CRM (Conselho Regional de Medicina). Para Thaís, o irmão foi vítima de negligência. “Ainda vivendo o luto precisamos correr atrás de justiça, mas é necessário. Temos buscado encontrar forças por ele e para ele. Se trata de um erro médico, de negligência e de uma vida que se foi”, lamentou.

Nycolas era o mais novo entre quatro irmãos. Ele vivia com a mãe, que hoje tem sofrido com a perda. “Minha mãe pergunta o que vai ser da vida dela. Na hora dele chegar em casa, na quarta-feira (25), deu uma crise forte nela, porque ele não abriu o portão, não entrou em casa. Foi mais um momento de choro, desespero e tristeza”, entristeceu. “Nos encontramos numa montanha russa emocional”, definiu.

SINDICÂNCIA

O CRM-PR informou que abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias da morte do jovem. “O procedimento, que vai apurar eventual indício de infração médica por parte de profissionais daquela unidade, tramita sob sigilo por força legal, bem como é assegurado o princípio do contraditório e ampla defesa”, ressaltou a instituição. Após a sindicância, caso seja detectado indício de responsabilidade médico, um processo será aberto.

A reportagem também entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil, entretanto, não houve retorno até a finalização da matéria. O Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina disse que o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, deverá se manifestar novamente sobre a morte durante a tarde. Na terça-feira (24), ele garantiu que uma comissão será formada, inclusive com médicos de fora da UPA Sol, para averiguar o que aconteceu.

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