É cada vez mais comum encontrar crianças com uma extensa agenda de atividades físicas. Aulas de judô, futebol, dança, natação fazem parte da rotina dos pequenos, que ainda encontram fôlego para corridas de bicicleta e outras brincadeiras com os amigos. Engana-se, porém, quem pensa que por terem uma fonte quase inesgotável de energia as crianças não possam sofrer as consequências desse excesso. Depois de um dia sobrecarregado, pais de filhos agitados frequentemente ouvem queixas de dores nas pernas e articulações, frutos da fadiga muscular que causa incômodos desde a infância.
''É comum ocorrer fadiga muscular em crianças muito agitadas, principalmente em meninos que fazem educação física na escola, depois jogam bola, correm, andam de bicicleta e não param quietos o dia todo'', esclarece o ortopedista Vanderlei Montemor Bernardo, de Londrina. Segundo ele, trata-se apenas de um cansado dos músculos. ''Como no caso de um homem adulto que não está acostumado a fazer exercícios físicos e fica todo dolorido após uma partida de futebol, mas no dia seguinte já está ótimo'', exemplifica.
Queixas de dor nas coxas, joelhos e nas panturrilhas são as mais frequentes, de acordo com o médico. Entretanto, ele afirma que a dor do cansaço muscular costuma passar após uma boa noite de sono. Diminuir a intensidade dos exercícios físicos ou trocar de atividade são algumas formas de evitar a fadiga muscular. ''Os pais devem incentivar os filhos a dosar atividades mais intensas com outras que exigem menos esforço.''
A fadiga muscular é popularmente conhecida como dor do crescimento. Entretanto, o termo é contestado pelo ortopedista. ''O crescimento não dói. Criou-se esse mito porque antigamente muitos médicos tinham dificuldade de explicar para os pais o que acontece com as crianças nessa fase'', afirma Bernardo. Ele diz que a fadiga muscular infantil pode acontecer em qualquer faixa etária. ''Principalmente na primeira infância, entre 2 e 5 anos, quando começa-se a andar e a correr e muitas vezes a musculatura ainda totalmente preparada para essa sobrecarga.''
Comportamento
Ele orienta os pais a ficarem atentos ao comportamento dos filhos para identificar se está ocorrendo uma simples fadiga muscular ou se a criança está com algum problema patológico. ''Quando ocorre apenas um cansaço muscular, a criança brinca o dia todo e só costuma reclamar à noite, mas no dia seguinte já não sente mais dor. Já no caso de alguma patologia, a dor é persistente. Por isso é importante observar se a criança está mancando, apresenta febre ou irritação constante. Nestes casos um médico deve ser consultado.''
Reumatismo e inflamações articulares estão entre as doenças patológicas que também podem afetar as crianças. ''São casos raros diagnosticados através de exames de sangue, radiografias, ultrassom e ressonância magnética, conforme a gravidade do quadro'', diz o médico. O tratamento pode envolver o uso de medicamentos e fisioterapia. ''Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais eficiente será o tratamento'', enfatiza Bernardo.