Ex-candidato a vereador é indiciado após comentários contra autistas
Homem que postou frases discriminatórias na internet foi identificado pela Polícia Civil de Apucarana
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 16 de maio de 2024
Homem que postou frases discriminatórias na internet foi identificado pela Polícia Civil de Apucarana
Pedro Marconi

Os comentários preconceituosos foram feitos na postagem no Facebook de uma matéria de um site de Apucarana (Centro-Norte) sobre uma criança com TEA (transtorno do espectro autista) que teria pisado no pé de uma pessoa numa lotérica, sendo ameaçada. Sem nenhum tipo de embasamento científico, um homem comparou o autismo com questões espirituais, falta de educação e ainda afirmou que autistas deveriam ser internados. Mesmo sendo repreendido por outros internautas, ele reforçou e defendeu as falas discriminatórias.
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O que o homem não esperava é que os textos também chegaram ao conhecimento da Polícia Civil de Apucarana (Centro-Norte) após denúncia, originando a abertura de um inquérito. Após cinco dias de apuração, os investigadores identificaram e localizaram o homem, que foi convocado para prestar depoimento da delegacia.
“Esse cidadão foi devidamente identificado, na quarta-feira (15) foi intimado para comparecer na delegacia e foi interrogado. Mas durante o interrogatório ele exerceu o direito constitucional de permanecer em silêncio e está respondendo este processo em liberdade”, explicou o delegado Marcus Felipe da Rocha.
O inquérito foi concluído e encaminhado ao MP-PR (Ministério Público do Paraná). Ele foi indiciado pelo crime de praticar, induzir e incitar a discriminação contra pessoas em razão de deficiência. “Como ele fez isso por meio da rede social a pena é agravada. É uma forma de qualificadora e pode variar de dois a cinco anos de reclusão”, detalhou.
O responsável pelos comentários, que tem 39 anos, seria um ex-candidato a vereador de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), que concorreu nas eleições de 2016. O perfil que usava seria falso, no entanto, o nome é parecido o original. “A rede social não garante o anonimato. Se a pessoa usa a rede social para o cometimento de crimes, a Polícia Civil vai investigar, identificar a pessoa e vai fazer com que responda pela prática criminosa, seja com perfis verdadeiros ou falsos”, advertiu o delegado. A reportagem não conseguiu contato com o homem.
PRECONCEITO FAZ PARTE DA ROTINA
Mãe de três filhos autistas, que têm cinco, sete e 13 anos, Cristina Pedroso de Alexandre ficou revoltada com o caso. “Extremamente impactada com a crueldade. Como mãe atípica me dói ler palavras tão cruéis”, resumiu a moradora de Apucarana, que faz parte do conselho da AMAA (Associação de Pais e Amigos dos Autistas Apucaranenses).
Segundo Cristina, o preconceito faz parte da rotina da família. “Como são faixas etárias diferentes, cada um se encontra em um nível e eles sofrem discriminação, bullying na escola, rua, no supermercado. Em qualquer lugar têm olhares, vemos cochichos, mas na escola é pior, principalmente com o adolescente. Tiram sarro, excluem. Não consigo mudar o outro, então, acolho meus filhos e reforço suas qualidades e o respeito que devemos ter com o próximo”, relatou.
CONSCIENTIZAÇÃO
O mês passado foi justamente dedicado à conscientização sobre o autismo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que cerca de 70 milhões de pessoas são autistas no mundo. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um distúrbio do neurodesenvolvimento, em que a pessoa apresenta manifestações comportamentais, déficit na comunicação, na interação social e padrões de comportamentos repetitivos.
“Peço encarecidamente a todos que quando virem uma criança ou adolescente e perceber que é diferente, que tenham empatia e compaixão, não fiquem julgando. Hoje em dia têm muitos estabelecimentos com o laço do quebra-cabeça (símbolo do autismo) avisando a preferência no atendimento e filas. Respeitem, porque para o autista ficar ali é muito difícil por conta do esforço sensorial, que é grande”, orientou Cristina.

