Os comentários preconceituosos foram feitos na postagem no Facebook de uma matéria de um site de Apucarana (Centro-Norte) sobre uma criança com TEA (transtorno do espectro autista) que teria pisado no pé de uma pessoa numa lotérica, sendo ameaçada. Sem nenhum tipo de embasamento científico, um homem comparou o autismo com questões espirituais, falta de educação e ainda afirmou que autistas deveriam ser internados. Mesmo sendo repreendido por outros internautas, ele reforçou e defendeu as falas discriminatórias.

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O que o homem não esperava é que os textos também chegaram ao conhecimento da Polícia Civil de Apucarana (Centro-Norte) após denúncia, originando a abertura de um inquérito. Após cinco dias de apuração, os investigadores identificaram e localizaram o homem, que foi convocado para prestar depoimento da delegacia.

“Esse cidadão foi devidamente identificado, na quarta-feira (15) foi intimado para comparecer na delegacia e foi interrogado. Mas durante o interrogatório ele exerceu o direito constitucional de permanecer em silêncio e está respondendo este processo em liberdade”, explicou o delegado Marcus Felipe da Rocha.

O inquérito foi concluído e encaminhado ao MP-PR (Ministério Público do Paraná). Ele foi indiciado pelo crime de praticar, induzir e incitar a discriminação contra pessoas em razão de deficiência. “Como ele fez isso por meio da rede social a pena é agravada. É uma forma de qualificadora e pode variar de dois a cinco anos de reclusão”, detalhou.

O responsável pelos comentários, que tem 39 anos, seria um ex-candidato a vereador de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), que concorreu nas eleições de 2016. O perfil que usava seria falso, no entanto, o nome é parecido o original. “A rede social não garante o anonimato. Se a pessoa usa a rede social para o cometimento de crimes, a Polícia Civil vai investigar, identificar a pessoa e vai fazer com que responda pela prática criminosa, seja com perfis verdadeiros ou falsos”, advertiu o delegado. A reportagem não conseguiu contato com o homem.

PRECONCEITO FAZ PARTE DA ROTINA

Mãe de três filhos autistas, que têm cinco, sete e 13 anos, Cristina Pedroso de Alexandre ficou revoltada com o caso. “Extremamente impactada com a crueldade. Como mãe atípica me dói ler palavras tão cruéis”, resumiu a moradora de Apucarana, que faz parte do conselho da AMAA (Associação de Pais e Amigos dos Autistas Apucaranenses).

Segundo Cristina, o preconceito faz parte da rotina da família. “Como são faixas etárias diferentes, cada um se encontra em um nível e eles sofrem discriminação, bullying na escola, rua, no supermercado. Em qualquer lugar têm olhares, vemos cochichos, mas na escola é pior, principalmente com o adolescente. Tiram sarro, excluem. Não consigo mudar o outro, então, acolho meus filhos e reforço suas qualidades e o respeito que devemos ter com o próximo”, relatou.

CONSCIENTIZAÇÃO

O mês passado foi justamente dedicado à conscientização sobre o autismo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que cerca de 70 milhões de pessoas são autistas no mundo. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um distúrbio do neurodesenvolvimento, em que a pessoa apresenta manifestações comportamentais, déficit na comunicação, na interação social e padrões de comportamentos repetitivos.

“Peço encarecidamente a todos que quando virem uma criança ou adolescente e perceber que é diferente, que tenham empatia e compaixão, não fiquem julgando. Hoje em dia têm muitos estabelecimentos com o laço do quebra-cabeça (símbolo do autismo) avisando a preferência no atendimento e filas. Respeitem, porque para o autista ficar ali é muito difícil por conta do esforço sensorial, que é grande”, orientou Cristina.