Quem passou pela região do centro histórico de Londrina na tarde quente deste domingo (3) pôde ouvir muita música boa e aproveitar para comprar comidas e bebidas nas barraquinhas espalhadas em volta da Concha Acústica. A 14ª edição do Banda Nova Funcart foi realizada neste fim de semana e atraiu centenas de pessoas para o centro histórico de Londrina. A multidão de pessoas foi uma surpresa para quem mora ali perto, já que o local costuma ser bem parado aos finais de semana e feriados.

Sílvio Ribeiro, coordenador da Funcart (Fundação Cultura Artística de Londrina) e idealizador do projeto Banda Nova Funcart, conta que a ideia surgiu há 15 anos para apresentar e apoiar bandas novas no cenário musical de Londrina e região. O primeiro dia do evento foi neste sábado (2) e, mesmo com a chuva, atraiu mais de 400 pessoas; já neste domingo, a expectativa era de superar o número de espectadores.

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Gratuito e democrático, o evento foi realizado na Concha Acústica da cidade, que Ribeiro considera como um “ponto importante da cultura na cidade” e é, também, uma forma de movimentar a região. Com músicas para todos os gostos, do rap ao rock, um dos objetivos do projeto é trazer a diversidade de estilos e ritmos. “[Londrina] é uma cidade com um potencial muito grande [para a cultura] e com possibilidade de boa formação para o artista, que é muito importante”, afirma.

A atriz Manu Carvalho, 23, e o músico Edson Lopes, 21, estavam passando pela região central quando ouviram uma música e resolveram parar e seguir o som para ver o que era. Amantes de eventos musicais, os amigos contam que Londrina precisa de mais atividades como essa, que movimentam a cidade, são gratuitas e abertas ao público. Para a atriz, o evento é uma forma de “ter o que fazer em um dia que não tem nada para fazer” e é algo que foge da rotina. Já Lopes destaca que o setor dos comerciantes autônomos também se beneficia com o evento por ser uma forma de alavancar as vendas.

Esse é o caso do casal Antonio Galhasce, 37, e Naila Carla Gotardo, 38, que tem um carrinho de batidas de frutas, sucos, vitaminas e caipirinhas. Eles costumam trabalhar em feiras e eventos, que garantem que é o que faz a diferença na renda no final do mês. Além de aumentar as vendas, é uma forma de gerar mais trabalho, já que com uma demanda maior eles precisam contratar mais pessoas. “É uma cadeia porque tendo esses shows, esse movimento, atrai mais pessoas para consumir e melhora o comércio da cidade”, afirma. Segundo eles, a região do centro histórico, após as 18h, é um “deserto de pessoas” e aumenta a sensação de insegurança, o que poderia acabar com a promoção de eventos e atividades em locais como a Conha Acústica e o Bosque Central.

Casal Antonio Galhasce, 37, e Naila Carla Gotardo, 38,
Casal Antonio Galhasce, 37, e Naila Carla Gotardo, 38, | Foto: Jéssica Sabbadini

Ana Paula de Oliveira, 33, trabalha em um carrinho de milho e estava na Concha Acústica durante o Banda Nova Funcart. “A cultura em Londrina está bem defasada, então ter essas festinhas é algo que a cidade precisa, principalmente para desestressar”, ressalta. O desejo dela é que todos os domingos tivessem atividades e eventos no centro, já que isso ajuda a fechar o orçamento no final do mês.

Aposentada e proprietária de um brechó, Maeve Mendonça, que preferiu não dizer a idade, também faz parte da Associação de Moradores do Centro Histórico e conta que toda sexta-feira eles realizam uma feira do coletivo Black Divas, que ajuda famílias em situação de vulnerabilidade social. “Esse espaço [Conha Acústica] é bonito e precisa ser ocupado com cultura, com arte, dança, música, porque dessa forma ele não é ocupado com outra coisa. Por isso essa necessidade cada vez maior de cultura, que é vida”, afirma.

As cunhadas Adriele Monteiro, 32, e Elaine Cristina Pazin, 45, tinham acabado de sair do trabalho quando passaram pelo centro histórico e resolveram parar para tomar uma bebida e aproveitar a música. Pazin é proprietária de um restaurante de comida paraense e veio trazer a cunhada, que mora em frente à Concha Acústica. Ela ressaltou que atividades como essa são importantes para a cidade e deveriam ser realizadas em outras regiões também, destacando o fato de ser gratuito. Já Monteiro, que tem o centro histórico como quintal de casa, é uma forma de aproveitar o restinho do domingo e de ter “algo para fazer com a família”.

O casal Rogério Costa, 43, e Juliana Cruz, 40, estava na casa de familiares que moram na região central, e resolveu passear com a filha e o sobrinho no Bosque. Ele disse que a região é “abandonada” e que “só melhora quando tem algum evento”. Segundo ele, a região deveria ter mais patrulhamento da Guarda Municipal e uma equipe de instrutores da Prefeitura aos finais de semana para promover atividades recreativas e de lazer para quem frequenta o bosque.

O motorista Weslei de Paula de Oliveira, 33, também estava com as filhas, de 3 e 6 anos, brincando no Bosque Central. Ele ressalta que não costuma ir com frequência porque “não tem nada o que fazer” no centro aos finais de semana. Ele também opina que deveria haver mais atividades destinadas para as crianças e jovens. “Hoje eu não acho que é aqui é um local seguro para estar”, afirma, acrescentando que o incentivo a eventos na região poderia mudar essa situação.

As instrutoras de fitdance Flávia Góis, 38, Carla Larissa, 26, e Paloma Dias, 30
As instrutoras de fitdance Flávia Góis, 38, Carla Larissa, 26, e Paloma Dias, 30 | Foto: Jéssica Sabbadini

As instrutoras de fitdance Flávia Góis, 38, Carla Larissa, 26, e Paloma Dias, 30, estavam ensaiando uma coreografia no pátio do Bosque Central. Todas as sextas-feiras à noite elas promovem um aulão de dança, com preço simbólico de R$ 5, para quem quiser participar. Entretanto, para Góis, ainda faltam atividades na região central, assim como nas periferias, “para resgatar a cultura em Londrina”.