O espetáculo durou meia hora: estudantes mostraram qualidade e técnica
O espetáculo durou meia hora: estudantes mostraram qualidade e técnica | Foto: Ricardo Chicarelli

No Dia Mundial do Circo, celebrado nesta quarta (27), alunos do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, que atende gratuitamente crianças e adolescentes de 6 a 18 anos em Londrina, realizaram no pátio da escola uma apresentação gratuita e aberta para toda a comunidade, denominada “Gentilezas”. O show foi concebido pela turma do curso técnico em Artes Circenses e apresentado pelos estudantes do primeiro módulo de 2018.

O espetáculo de meia hora surpreende pela boa qualidade e técnica dos alunos, além de ter um roteiro envolvente que transmite uma mensagem importante para a sociedade. O coordenador dos cursos técnicos de artes, Éverton Bonfim, explica que a escolha desse tema foi por causa das disciplinas trabalhadas, como as técnicas em acrobacias, expressão corporal e de equilíbrio e malabares.

27 03 19 - cidades - apresentacao circense no centro educacional marista irmao acacio.
27 03 19 - cidades - apresentacao circense no centro educacional marista irmao acacio. | Foto: Ricardo Chicarelli

“Como no circo um precisa ajudar o outro para formar uma pirâmide, para fazer a base para fazer movimentos de acrobacia, pegamos a frase do poeta Gentileza, que diz 'gentileza gera gentileza'”, destaca. Segundo Bonfim, o espetáculo mostra os alunos em dois grupos: um que aceita ser ajudado e outro que sempre ajuda. “Quem ajuda possibilita a transformação do outro. O outro que não olha as coisas ao redor possibilita que tenha um novo olhar da realidade”, afirmou.

A educadora do curso técnico, Taiane Marques, explica que essa concepção do espetáculo foi paa que os estudantes se tornassem um grupo mais unido. “No circo a ideia é essa. Tento passar isso para eles entenderem que, por mais que eu tenha um número solo, dependo de outras pessoas. Há sempre outros por trás disso, como aquela que solta o som ou a que ajuda a organizar o figurino. A gente pensa na união”, destacou.

Folha de Londrina

Marques observou que o circo não funciona sozinho. “Existe a pirâmide humana, há momentos em que um joga o outro, em outros um segura o outro. Precisa ter aquela segurança, ter aquela base em que o debaixo segura o de cima e o de cima faz o movimento para o debaixo não se machucar. A gente pensou na gentileza por causa disso”, detalhou.

O desafio de montar um espetáculo desses não é fácil, ainda mais porque os professores ministram aulas em horários diferentes. Bonfim ministra a disciplina de expressão corporal e Marques é a professora de malabares, equilíbrios e acrobacias. “Como eu dou aula em alguns horários e o Éverton dava em outros tínhamos dificuldades de conversar, mas eu joguei uma ideia, ele viu o que tinha pronto e foi adaptando. O que facilitou foi que eles já possuíam essa base forte e técnica para começar as criações. No primeiro semestre trabalhamos mais específico a expressão corporal e a acrobacia para depois ir para a montagem do espetáculo”, expôs.

Jhennyfer Cristina da Luz Martinez e Luiz Henrique Santos Guedes da Silva, estudantes
Jhennyfer Cristina da Luz Martinez e Luiz Henrique Santos Guedes da Silva, estudantes | Foto: Ricardo Chicarelli

Um dos alunos que se apresentou foi Luiz Henrique Santos Guedes da Silva, 16, aluno do segundo ano de artes circense e do primeiro ano do ensino médio. Ele ressalta que o grupo teve de olhar para o seu redor primeiro para perceber o quanto as pessoas estão menos gentis, mais rudes. “Dizer um bom dia pode mudar a vida das pessoas. Ajudar um idoso a atravessar a rua ou carregar algo pesado para outra pessoa também. Se alguém disponibilizar alguns minutos para ajudar pode mudar a vida dela. Pode fazer com que a gentileza e o bem se espalhe”, destacou.

O jovem ressaltou que a montagem e os ensaios do espetáculo fizeram com que a turma ficasse mais integrada. “A gente tinha 'panelinhas', pessoas com quem tínhamos mais afinidades. Depois a gente foi percebendo as diferenças de comunicação e ficamos mais unidos. Pegamos o que queríamos passar para o público nesse espetáculo e adotamos para a gente primeiro”, observou. Segundo o estudante, ser gentil transformou o grupo. “Fiz amizades mesmo, de verdade. Não é mais somente um trabalho com um colega de turma. Posso ter conversas longas com eles. A gentileza é uma coisa que precisamos hoje em dia. É preciso esse companheirismo na escola e no curso”, destacou.

Silva enalteceu que ser bom com os outros faz com que o dia fique melhor. “Isso pode voltar para você no futuro e, mesmo que não volte, o pensamento de ter feito o dia de alguém melhor deixa a alma mais leve, sem pensamentos ruins”, apontou.

Outra estudante que participou da peça, Jhennyfer Cristina da Luz Martinez, 16, é estudante do segundo ano do curso de arte circense e do segundo ano do ensino médio. Ela ressaltou que o espetáculo mostra o que está faltando hoje em dia na sociedade. “Como seria a sociedade se todos fossem gentis um com o outro? A gente quer mostrar para os outros o que quer fazer, o que a gente quer melhorar”, disse. “A gente vive em sociedade e e esse convívio não é possível se todo mundo se fechar. Se as pessoas forem gentis, podem deixar alguma coisa diferente, nem que seja uma coisa mínima. Se passarem no ponto de ônibus e dizerem bom dia, quem recebe esse cumprimento vai passando para outra pessoa e assim sucessivamente. Com isso várias pessoas têm um bom dia”, exemplificou.

O Centro Educacional Marista Irmão Acácio atende cerca de 300 crianças e jovens, entre 6 e 16 anos, em tempo integral. O curso técnico de artes circenses atende jovens entre 14 e 18 anos que estejam estudando o ensino médio. Ele é totalmente gratuito e em 2020 será aberta uma nova turma. É o único curso no Brasil que tem arte circense na modalidade concomitante com o ensino médio. Um dos critérios para a admissão é a renda per capita da família e a ordem de chamada obedece esse fator. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (43) 3321-3635.