Érika Wandembruck
Especial para a Folha
De Curitiba
A instalação de montadoras de automóveis na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) provocou uma reviravolta nos intercâmbios universitários. A Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Centro Federal de Tecnologia do Paraná (Cefet-PR) e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) estão mandando alunos para estágios na França. O benefício acontece no retorno dos estudantes. Eles voltam com emprego praticamente garantido nas montadoras e suas empresas fornecedoras. O mesmo acontece com os universitários franceses que estagiam no em empresas paranaenses.
Desde a sua criação em 1997, os convênios firmados pela UFPR, PUC e Cefet com algumas universidades francesas favoreceram a inserção de mais de 60 brasileiros, recém-formados em Engenharia Mecânia e Elétrica, no mercado de trabalho. Contratados por empresas multinacionais da RMC, esses profissionais ocupam cargos de responsabilidade, como gerentes e empreendedores.
Um grupo de 41 estudantes de Engenharia Mecânica da UFPR já participou do intercâmbio. Pelo convênio, é permitido que o aluno do 4º ano, frequente aulas por seis meses em uma universidade francesa e faça outros seis meses de estágio em grandes empresas. ‘‘Quando o aluno volta, o currículo dele é superior ao de outros que nunca estagiaram fora do País. Ele retorna falando o francês fluentemente e com bastante experiência, o que facilita a contratação’’, explica o professor Carlos José Siqueira, 38 anos, professor adjunto do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR e coordenador de convênios. áá
É o exemplo do engenheiro mecânico londrinense Breno Sotto, 24, que se formou no ano passado e está bem posicionado no mercado por ter participado do programa. Ele estudou por seis meses na Universidade Tecnológica de Compiégne (UTC), quando aprendeu o francês, estagiou outros seis meses na empresa francesa Bertrand e retornou ao Brasil empregado pela fábrica.
Sotto trabalha há cinco meses na filial da Bertrand situada em Quatro Barras. Ele é um ‘‘ program byer’’, comprador de programas de computador, responsável pela qualidade dos fornecedores da empresa. Para ele, a experiência adquirida em outro país foi decisiva para sua formação profissional. ‘‘Em seis meses de estágio aprendi mais do que em quatro anos de universidade. O curso da UFPR é muito técnico. Na França fui preparado para ocupar cargos de maior responsabilidade’’, diz.
O convênio também vale para os franceses. ‘‘Até hoje apenas 16 franceses vieram estudar aqui na UFPR’’, conta o professor. Segundo ele, isso acontece porque as universidades francesas são conveniadas à instituições do mundo inteiro. O estudante de Engenharia Mecânica, Guilherme Mallet, 21, estudante da UTC já frequentou a UFPR por seis meses e há três semanas estagia na fábrica de motores da Renault.
Mallet está experimentando um equipamento que deve servir para testar os motores antes de serem vendidos. ‘‘Na Renault da França esse equipamento já existe. Eu participo do projeto, que tem data definida para ficar pronto aqui no Brasil’’, afirma Mallet em bom português. Ele acredita que assim que terminar o estágio, continuará trabalhando na empresa ao retornar à França.
Apesar do grande número de interessados, são poucos alunos que participam do programa. Siqueira explica que os critérios de seleção são rigorosos. ‘‘Analisamos o currículo acadêmico do aluno, realizamos dinâmicas de grupo e entrevistas, só depois aprovamos os convênios.’’ Ele lamenta a falta de colaboração por parte do governo e da universidade, no sentido de liberar verba para o projeto. Os alunos arcam com todas as despesas nos primeiros seis meses, desde passagens à estadia. ‘‘Quando começam estagiar, ganham de R$ 1 mil a R$ 2 mil’’, diz o professor. No Brasil a remuneração é bem inferior, os estagiários recebem de R$ 500 a R$ 800.