Esporotricose é inofensiva para humanos, mas pode ser fatal para gatos
Quanto mais rápido o animal for levado ao veterinário, maior será a chance de sucesso do tratamento, observa especialista
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quinta-feira, 26 de outubro de 2023
Quanto mais rápido o animal for levado ao veterinário, maior será a chance de sucesso do tratamento, observa especialista
Patrícia Pasquini - Folhapress
São Paulo - O infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), alerta que a esporotricose, doença que acomete gatos e pode ser transmitida para humanos, está descontrolada. Ele e outros pesquisadores trabalham para que a zoonose seja de notificação compulsória em todo o país. A doença é benigna em pessoas, mas nos felinos pode ser fatal. Entenda a seguir.
O QUE É ESPOROTRICOSE?
É uma micose que provoca lesões na pele causada por fungos. O Sporothrix brasiliensis é responsável pela alta de casos no Brasil. O outro -Sporothrix schenckii- está diminuindo no país. O schenkii pode ser encontrado em plantas, palhas, fragmentos de vegetais e fibras. As vítimas desse tipo de fungo são agricultores e demais trabalhadores rurais. "Atualmente, no Brasil, 90% é pelo brasiliensis, a transmissão felina", explica Telles, que é professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná..
COMO A ESPOROTRICOSE É TRANSMITIDA?
A transmissão da esporotricose ocorre entre gatos e deles para cães e seres humanos através de mordidas, arranhões e do contato com as lesões dos infectados. Os bichanos carregam o fungo nas garras, na saliva e no sangue. Cachorros e humanos não transmitem.
QUAIS OS SINAIS DA ESPOROTRICOSE?
Ferida na pele é a principal queixa que o tutor leva ao veterinário, de acordo com Ana Claudia Balda, diretora da Faculdade de Veterinária da FMU.No início da manifestação clínica, as lesões de esporotricose podem ser confundidas com qualquer outro ferimento, comuns em gatos e geralmente provocados por brigas. "É uma ferida profunda, com bastante crosta, que sangra e não cicatriza. Quanto mais rápido o animal for levado ao veterinário, maior será a chance de sucesso do tratamento", explica a médica. O diagnóstico é feito com base na citologia, cultura micológica e alguns exames moleculares.
A ESPOROTRICOSE MATA?
Em gatos, o Sporothrix brasiliensis se espalha com maior facilidade e pode causar quadros infecciosos mais severos. O fungo pode invadir o sistema linfático, afetar os olhos e as vias respiratórias. A infecção tem rápida evolução e pode matar o gato, principalmente se o felino já tiver problemas de saúde.
A ESPOROTRICOSE É PERIGOSA PARA PESSOAS?
Em seres humanos a esporotricose é benigna, mas pessoas imunodeprimidas merecem atenção, porque nelas há a possibilidade de evolução para formas graves. É o caso de pacientes com HIV e câncer e idosos com o sistema imune comprometido, por exemplo, segundo a infectologista do Hospital Osvaldo Cruz, Helena Lemos Petta.
HÁ TRATAMENTO DISPONÍVEL NO SUS?
O Ministério da Saúde fornece tratamento para seres humanos. O SUS (Sistema Único de Saúde disponibiliza o medicamento itraconazol e formulações lipídicas de anfotericina B.
QUAIS AS MEDIDAS PRIMORDIAIS PARA CONTROLE DA DOENÇA?
Castrar os animais para diminui a necessidade de interação com outros gatos; impedir o acesso desses animais às ruas; tratar se estiverem infectados e não abandoná-los. "É importante deixar claro que os gatos não são culpados, e sim vítimas. As pessoas não devem matá-los ou fazer mal a eles", ressalta Telles.
'NOTIFICAÇÃO É ESSENCIAL'
O infectologista Flávio Telles integra um grupo no Ministério da Saúde que estuda doenças fúngicas. Ele e outros pesquisadores trabalham para que a esporotricose seja de notificação compulsória em todo o país.
Atualmente, alguns estados fazem a notificação. De acordo com Flávio Telles, é o caso de Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
No Paraná, o ano passado registrou 181 casos em seres humanos e 1.061 em animais; em 2023, 434 pessoas e 2.453 animais adoeceram. O estado é um dos poucos locais que fornece medicação para cães, gatos e seres humanos.
Para Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV, a falta de notificação compulsória atrapalha no controle da doença. "A notificação é essencial para estabelecer o sistema de vigilância epidemiológica e, a partir da informação, tomar medidas de saúde pública para contenção da doença", afirma.
"No âmbito da vigilância em saúde, existem os centro de controle de zoonoses. É fundamental o fortalecimento deles e que tomem as medidas adequadas para contenção das doenças transmitidas por animais. Além disso, as medidas de prevenção de doenças incluem educação da população no manejo dos animais", reforça Massuda.