Walter Ogama
De Londrina
A quatro dias do 1º de janeiro do ano 2000, Antonio Cardoso, 56 anos, era um poço de decepções fincado no meio da lavoura de soja. A expressão do rosto dizia isso. As rugas da testa confirmavam. Escorado no cabo da enxada, Cardoso ajeitava o chapéu de palha, num gesto comum nas pessoas acostumadas a lidar com trabalho pesado, sob sol forte: pela parte da frente da aba, ele empurrava com a mão direita o chapéu para trás. Ao mesmo tempo em que alisava os cabelos grisalhos, Cardoso enxugava o suor da testa com a palha.
A decepção dele era com o estado da lavoura. Sem chuva suficiente há cerca de um mês, a plantação era um desconsolo: ‘‘Não nasceu nem sementeira do amendoim’’, reclamou, referindo-se aos grãos de soja. Cardoso não é o proprietário da área, mas referiu-se ao que está plantado nela como se fosse. Não foi por maldade ou por algum sentimento de posse. Na verdade, é porque ele é dono de uma preocupação de trabalhador consciente: se a chuva não vier rápido e o patrão perder a lavoura, ele fica sem onde trabalhar. Sem trabalho, não tem renda, a comida escasseia em casa e a família precisa se alimentar.
Personagem de um fim de ano, Cardoso olhou para trás e apontou o passado recente: foi um ano difícil para ele e seus companheiros da roça. Planos ele não tem. Mas tem esperança, que, aliás, é o nome do bairro onde mora.No campo, nas vielas da periferia e nas localidades carentes, a chegada do ano 2000 não merece planos. A maioria espera, com fé
Josoé de CardosoO PASSADOAntonio Cardoso aponta para trás: 1999 foi um ano de muitas dificuldades para ele e o ano de 2000 dependerá da boa lavoura do patrão