Para o cineasta Rodrigo Grota, a existência do Cine Theatro Municipal (e das outras salas pioneiras nos anos 1930 e 1940 em Londrina) foi decisiva para a inauguração de um espaço afetivo e lúdico no qual a população local compartilhava e construía um imaginário coletivo. "Londrina era uma cidade nova e em crescimento: as salas de cinema eram frequentadas por pessoas das mais variadas classes sociais. Nesse sentido, essas salas cumpriam um papel social muito rico: elas eram ao mesmo tempo o espaço virtual do sonho, da fantasia, das aventuras vividas pelo público, e também um espaço concreto da troca, do encontro, da partilha do sensível."

No entanto, não custa lembrar: por mais que uma sala de cinema pretenda ser um ambiente democrático, há uma certa divisão social que sempre será mantida. "No caso da Londrina dos anos 1940 e 1950, há relatos de sessões de cinema específicas para grupos marginalizados socialmente. Isso nos ajuda a relembrar que a trajetória de Londrina não é apenas a história idealizada de crescimento e progresso: houve, como ainda existe, muita desigualdade e preconceito.", apontou.

Segundo Grota, certamente houve uma influência do cinema na produção cultural da cidade. "Basta lembrar que dois daqueles que para mim são os nossos maiores artistas - o fotógrafo Haruo Ohara (1909-1999) e o músico Arrigo Barnabé (1951) - se alimentaram muito do imaginário do cinema em suas produções. Haruo assistia aos filmes japoneses que chegavam a Londrina, assim como via a produção local do colega Hikoma Udihara (1882-1972)."

Os filmes do Udihara eram exibidos para os integrantes da colônia japonesa em lençóis estendidos em um local improvisado. "Eram filmes silenciosos. Uma das filhas do Haruo me contou que ele admirava a obra de Kurosawa. Em alguns dos retratos realizados pelo sr. Ohara, aliás, podemos notar claramente a influência do cinema: a tendência a enfatizar a solidão de uma personagem em meio a uma paisagem ampla. O cinema, devido à sua natureza industrial (de distribuição em massa) era em Londrina, ao lado do rádio, o meio mais rápido de se conectar com o mundo cultural até meados dos anos 1950", destacou.

"Na estética do Arrigo, notamos uma fusão da cultura clássica e da arte popular, algo que o próprio cinema brasileiro vinha fazendo com filmes como O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla. O próprio Arrigo se assume como um grande admirador do cinema japonês desde a sua adolescência. Cito esses dois casos, pois são os que conheço de forma mais próxima. Mas é bem provável que o cinema tenha influenciado também parte da produção local em outras áreas, como no Teatro nos anos 1950 e 1960. Seria tema para um ótimo estudo, aliás!", apontou Grota.