As igrejas cristãs do Brasil deram início oficialmente, nesta quarta-feira (18), à Campanha da Fraternidade Ecumênica. Em Londrina, o lançamento foi feito na Igreja Episcopal Anglicana. A ação acontece em meio a fortes críticas de grupos contrários às propostas deste ano. A campanha é realizada sempre no tempo da Quaresma, sendo organizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A cada cinco anos ela é ecumênica, trazendo um tema definido pelo Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil).

Em 2021 o tema que será trabalhado com mais ênfase nas próximas semanas é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. O lema, extraído do livro de Efésios na Bíblia, é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. Apesar da temática focar no diálogo e na união, alguns movimentos ligados à igreja, principalmente a Católica, vêm classificando a discussão como uma afronta aos dogmas religiosos e contendo suposto viés político direcionado ao espectro de esquerda. Um outdoor instalado na avenida Juscelino Kubitschek reforça este pensamento, como mostrou a FOLHA, na edição de quarta.

Arcebispo metropolitano de Londrina, dom Geremias Steinmetz rebateu as alegações e frisou que a Igreja Católica continua fiel aos seus valores. “A igreja, com sua doutrina contra algumas práticas, como o aborto, se coloca à disposição para acolher as pessoas. Isso é evangelho. Se queremos encontrar argumentos para não aceitar os pobres, para pisar em cima dos diferentes, vamos encontrar. Mas o evangelho nos ensina que devemos optar pelos pobres. As igrejas estão para dizer claramente que vamos pelo caminho do diálogo, para que possamos compreender as situações, as diferenças”, defendeu.

SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Validado pela Comissão Teológica do Conic, o texto-base da Campanha da Fraternidade reforça a necessidade de superação da violência contra a mulher, racismo, minorias, a importância do diálogo e também reprova a postura do Governo Federal na condução da pandemia de coronavírus até aqui.

“A constatação da Campanha da Fraternidade é de que na realidade do dia a dia vemos problemas sérios e questões não resolvidas. As vezes até mesmo por opções. A questão do racismo, feminicídio, LGBTQI+ e outras tantas que envolvem minorias. São seres humanos que cresceram dentro da nossa sociedade. A fonte da Campanha da Fraternidade é o evangelho, o seguimento de Jesus Cristo, o Concílio Vaticano segundo e os papas das últimas décadas, que tanto se pronunciaram contra essas questões”, elencou o responsável pela Arquidiocese de Londrina.

ROMPENDO OS MUROS

Para o pastor Telmo Emerich, da igreja Luterana na cidade, as denominações religiosas dão o exemplo quando se juntam em prol de uma pauta comum, cada uma respeitando sua especificidade. “Religião não foi feita para separar, mas para unir. Existem muros na sociedade, muros que as vezes criamos dentro da própria igreja e que outros grupos também criaram. Vivemos numa realidade em que há uma bolha. Só com o diálogo vamos romper os muros que separam.”

AÇÕES CONCRETAS

A proposta é que as reflexões trazidas pela Campanha da Fraternidade Ecumênica sejam discutidas durante as celebrações, inclusive conjuntas entre as igrejas, além de ações concretas por meio do MEL (Movimento Ecumênico de Londrina). “Vemos que existe uma intolerância muito grande daquele que é diferente. O diferente assusta e isso é histórico. Precisamos nos unir no combate à intolerância religiosa, não só cristã, mas outras também. Com o MEL estamos dialogando sobre a luta contra o feminicídio”, destacou a reverenda Lúcia Dal Pont Sirtoli, reitora da Paróquia São Lucas, da Igreja Episcopal Anglicana.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

A Catedral Metropolitana de Londrina realizou neste dia 17 as celebrações da Quarta-Feira de Cinzas. Elas aconteceram em quatro horários, sendo que a missa das 11 horas foi presidida pelo Acerbispo, Dom Geremias Steinmetz.

A Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias em que os católicos se prepararam para a Páscoa. Neste ano, devido à pandemia do coronavírus, a tradicional imposição das cinzas na cabeça dos fiéis, em sinal de conversão e penitência, foi realizada de maneira diferente. Ao invés da fila, como de costume, o padre percorreu os bancos onde as pessoas estavam sentadas para colocar as cinzas na cabeça dos católicos, evitando assim aglomerações.