Ainda neste ano, os novos 78 alunos-soldados poderão dar início ao trabalho operacional nas ruas de Londrina e região metropolitana, reforçando o efetivo da Polícia Militar. Eles estão participando do curso de Formação de Praças, que também acontece em outras 23 cidades paranaenses.

O curso é destinado aos 2.606 aprovados em um concurso público iniciado em 2020, mas que tomaram posse recentemente, por conta da pandemia de coronavírus, habilitando-os a desempenhar a função de Soldado, conforme prevê a Lei Estadual nº 5.940/1969.

Todo o treinamento terá duração de 10 meses, contando com 50 disciplinas teóricas e práticas, como legislação, defesa pessoal e tiro policial, tática de confronto armado e gerenciamento de crises, entre outras, visando a capacitação dos profissionais para o exercício da atividade.

NO 5º E 30º BPM

Em Londrina, o curso teve início neste mês de agosto e acontece paralelemente no 5º Batalhão da Polícia Militar, com 51 alunos e outros 27 no 30º BPM. A faixa etária dos participantes é de 24 a 33 anos, com ensino superior completo. O local em que os novos soldados serão alocados não será obrigatoriamente onde realizaram os estudos, mas em áreas de maior necessidade de policiamento. Além disso, ao final do processo, os alunos devem ser promovidos a soldados de primeira classe.

VEIO DO ACRE

Para Francisco Ismael de Melo Tavares, 28, o município em que irá atuar tem pouca relevância, considerando que ele já está a milhares de quilômetros de distância de sua terra natal: Cruzeiro do Sul, no Acre. Ele entrou para o Exército Brasileiro em 2013 e teria baixa em 2021.

“Um ano antes, eu comecei a me preparar para os concursos da Polícia Militar porque a única certeza que eu tinha é a de que eu queria seguir na área militar”, diz o aluno-soldado, que sonha em integrar, futuramente, o Batalhão de Polícia de Choque. “Quando era criança, eu passava em frente ao Batalhão da polícia no caminho da escola e via as viaturas saindo. Aquilo mexia comigo de alguma forma e hoje estou realizando um sonho”, conta Tavares.

Imagem ilustrativa da imagem Em Londrina, 78 alunos-soldados são preparados para atuar na PM
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo Folha

INCLUSÃO E RESPEITO

O tenente-coronel Nelson Villa, que está à frente do 5º BPM, explica que na semana passada a turma passou por atividades de imersão com questões de disciplina e regulamento militar, incluindo atividade de marcha durante a madrugada. “É um desgaste físico, mas em uma situação em que um ajuda o outro. A ideia é que entendam o espírito de unidade que eles têm que ter. A partir desta semana, as aulas estarão voltadas mais para conteúdos pedagógicos”, afirma.

A grande novidade neste curso de formação são as novas disciplinas na grade curricular, como Direitos Humanos, Libras, atendimento de ocorrências envolvendo pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e a criação da Comissão de Combate ao Assédio Sexual e Moral.

Segundo Villa, a PM vem se preocupando com questões de inclusão e cita como exemplo o aplicativo da Polícia Militar que possibilita que surdos e mudos acionem o 190. O objetivo das aulas de Libras é preparar os profissionais para exercer um atendimento de qualidade em ocorrências envolvendo pessoas com deficiência de audição e/ou de fala. Desta forma, o militar tem condições de se comunicar com as partes, entendendo claramente os fatos, podendo expressar-se melhor e orientar, utilizando a linguagem brasileira de sinais.

Sobre a questão dos Direitos Humanos, Villa destaca que na formação dos policiais é fundamental inserir o papel do policial comunitário, “que tenha o sentimento de empatia, o que é indispensável na formação de um profissional na área de segurança pública”, diz.

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| Foto: Divulgação/5º BPM

'MAIS HUMANOS'

E com a criação de uma Comissão para estudar e solidificar procedimentos para atendimento de ocorrências envolvendo pessoas com TEA, os alunos-soldados terão, em sua maioria, o primeiro contato aprofundado do tema a partir de palestras com especialistas. De acordo com Villa, mães e pais de autistas estiveram recentemente no 5º BPM, compartilhando as dificuldades que enfrentam no dia a dia.

“É importante que os policiais conheçam alguns sinais que determine que o problema que está ocorrendo naquele momento, é de força maior. Tornar os policiais mais preparados nesse sentido vai torná-los mais humanos e, com certeza, vai auxiliar demais mães, pais, parentes e o próprio cidadão com autismo”, ressalta Villa.

Embora existam muitas peculiaridades para a identificação do TEA, o militar estadual deve estar atento à possibilidade de se deparar com um solicitante, vítima ou possível autor que não faça contato visual, que apresenta ansiedade por meio de falas ou gestos repetitivos, que tente tocá-lo, ou que apresente reações consideradas incomuns diante do barulho excessivo: tais comportamentos podem ser comuns a uma pessoa autista.

'ABERTO PARA O APRENDIZADO'

“Acho que o ponto mais importante de um policial é sempre prestar atenção, estar aberto para o aprendizado e não distinguir ninguém por cor, raça, etnia, ou qualquer outra questão, tratando todos com respeito e igualdade. Minha expectativa é de chegarmos ao final do curso muito bem preparados. De uma semana para cá já somos pessoas diferentes, mais fortes”, relata a aluna-soldado Taina Cristina Alves, 26, moradora de Cambé, na Região Metropolitana de Londrina.

COMBATE AO ASSÉDIO

Também foi criada uma comissão de combate ao assédio sexual e moral, que se baseia nos fundamentos que se refere ao respeito e a dignidade da pessoa humana, à preservação, reputação da pessoa, proteção da honra, da imagem, e também dos direitos sociais do trabalho e do ambiente sadio. Aliado a isso, a preservação do denunciante e das testemunhas para que não sofram represálias.

“A legislação brasileira é dinâmica, ela muda o tempo todo e a Polícia Militar, como órgão de prevenção, tem que ir se adaptando às novas realidades, às novas imposições legais e as garantias que as leis oferecem às pessoas. E nesse rumo, a PM passa a ter uma nova percepção, a de ter que observar o sistema jurídico alterado, a fim de que essas pessoas sejam eventualmente protegidas e que esse tipo de situação não ocorra em qualquer que seja o ambiente”, diz Villa.

Para a capitã Michele de Paula Trindade Sensolo, componente da comissão que trata da temática, “a comissão acredita que a denúncia é a melhor forma de coibir estas ações dentro da Corporação. Como resultados, desde 2021, tivemos inúmeros processos abertos e ainda temos procedimentos em andamento. Foram sindicâncias, inquéritos policiais militares, comissões processantes, encaminhamentos para a Vajme (Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual) e Corregedoria-Geral para análise de abertura de futuros procedimentos disciplinares”.

As inovações serão abordadas em todos os cursos em andamento na corporação. Além disso, até o final de 2022, todo o efetivo da PMPR deverá receber instrução sobre esses assuntos, o que deve ser realizado com o apoio de profissionais da área. (Com PMPR)

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