O cenário na manhã desta quinta-feira (5) em Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina) continuava desolador. Muitas casas continuavam tomadas pela lama depois do temporal que começou por volta das 13h30 e durou mais de três horas. O secretário de governo do município, Claudinei de Oliveira Cabral, contabilizou que mais de 200 famílias perderam praticamente tudo o que possuíam. "Eles perderam colchão, móveis, comida, roupas, eletrodomésticos, utensílios domésticos", destacou. Ele explicou que a prefeitura possui poucos funcionários para realizar a limpeza da cidade. "Ao todo são 60 servidores envolvidos na limpeza. Estamos contando com os voluntários para a realização dessa tarefa."

A água da chuva invadiu ruas e casas de Jataizinho, moradores e município passaram o dia limpando a lama
A água da chuva invadiu ruas e casas de Jataizinho, moradores e município passaram o dia limpando a lama | Foto: Gustavo Carneiro



Ele destacou que os bairros que foram mais atingidos foram aqueles atingidos por uma tromba d'água que veio de Assaí (RML). "Em especial a Vila Frederico e o bairro Antônio José Vieira, onde 40% das casas sofreram com a invasão da lama. Nunca tinha acontecido isso nessa região", destacou Cabral.
A reportagem procurou informações sobre o desastre no site da coordenadoria estadual da Defesa Civil e não encontrou informações sobre Jataizinho.

Questionado sobre qual o motivo de não terem informado sobre o problema para a coordenadoria estadual, ele argumentou que a Defesa Civil quer dados, mas neste momento o que a prefeitura quer oferecer aos moradores é conforto. "Nós estamos colocando funcionários trabalhando na frente da casa deles. Oferecemos ambulâncias e enfermeiras estão atendendo os acamados. Ainda não fizemos o levantamento dos prejuízos, mas a nossa prioridade é atender a população", argumentou, porém ressalvou que o 'cobertor' da Ação Social é curto. "Estamos contando com o coração do pessoal de fora. Já aconteceram enchentes de menor proporção que essa em que contamos com apoio das cidades vizinhas", recordou.

A dona de casa Graziele Silva de Souza, 23, foi uma das pessoas que foi pega de surpresa, na rua Aparecido Pereira César, bairro Antônio José Vieira. "Minha casa ficou destelhada e toda enlameada. Eu nunca vi uma chuva dessas. Eu tenho um bebê de 11 meses e fui me refugiar na casa de minha cunhada, que tem dois filhos, um de dois anos e um de um ano. Mas a casa dela também foi destelhada e tivemos de sair dali, mas a água estava no joelho. Uma pessoa nos ajudou a atravessar a enxurrada e nos abrigamos na casa de uma vizinha", destacou Souza. Ela relatou que perdeu tudo. "Perdi meus móveis, porque eles ficaram todos molhados. Foi a cama, guarda-roupa, cômodas. Perdi também os eletrodomésticos como a geladeira, o televisor, tudo de eletrônico, porque além da água ter invadido a minha casa, o destelhamento fez com que a chuva molhasse tudo", declarou. Fora isso ela perdeu também as roupas e a enxurrada levou vários objetos e utensílios de sua casa. "Nunca passei por isso antes. Dentro de minha casa a água chegou a meio metro de altura. Só não foi mais, porque meu cunhado fez um buraco na parede para a água descer. Não consegui limpar a casa até agora e não apareceu ninguém da prefeitura para ajudar a fazer essa limpeza", apontou.

Em alguns trechos o tráfego de veículos teve de ser interrompido
Em alguns trechos o tráfego de veículos teve de ser interrompido | Foto: Gustavo Carneiro



Outra moradora do bairro, a dona de casa Gerusa da Silva, 20, viu a enxurrada derrubar a parede dos fundos de sua casa. "Entrei em desespero. Eu estava no quarto e comecei a gritar por socorro. Abri a porta e a água me empurrou com tudo. Tenho duas crianças pequenas, uma com oito meses e uma com três anos. Os vizinhos me ajudaram a tirar ela daqui", afirmou. A vizinha Jussara Manuel, 45, ainda não consegue explicar como tudo aconteceu. "Quando vi, a água estava dentro de casa. Foi muito rápido. Quando vi a parede da vizinha cair, eu não sabia se ajudava ela ou se tentava cuidar da água que invadia a minha casa. A gente não sabe o que faz", declarou. "Estou tirando o barro de minha casa na base da enxada. Eu perdi os móveis da cozinha, minha vizinha perdeu tudo", afirmou.

O jardineiro Adalto da Silva Santos, também foi uma das vítimas da enxurrada e das fortes chuvas que atingiram a sua casa. "Ontem fui trabalhar e um colega me avisou que a minha casa estava toda inundada. As roupas, o colchão, os móveis, tudo foi perdido. Consegui ajuda de pessoas da minha igreja para limpar a minha casa." Ele ressaltou que a marca da água chegou a meio metro de altura. "Já tinha passado por isso antes, mas da outra vez foi mais fraco", lamentou.

Um dos pontos mais atingidos pela chuva foi um restaurante localizado às margens da BR-369. Uma das árvores caiu sobre um veículo que estava no estacionamento do estabelecimento e sobre o telhado da varanda. Com a queda, a ala da varanda ficou muito danificada, com mesas e cadeiras destruídas. Segundo funcionários do estabelecimento, durante esta quinta-feira (4) o local ficou fechado. A previsão era de que nesta sexta-feira (5) o estabelecimento volte a abrir.

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O coordenador da Defesa Civil em Jataizinho, Orides Figueira da Silva, disse que o socorro às famílias foi até parte da madrugada e logo no início da manhã os trabalhos foram retomados. Sobre as críticas dos moradores dos bairros atingidos em relação à demora na limpeza do bairro e das casas, ele desabafou. "É complicado, porque as pessoas acham que a prefeitura tem culpa. É a natureza. Nós iremos atender todo mundo, só não temos pessoal para fazer tudo isso ao mesmo tempo. O pessoal da outra rua acha que não vai chegar a ajuda, mas a gente vai chegar", garantiu. "Não ficou ninguém abandonado. Temos bastante gente atuando como voluntário, ajudando. Aos poucos a gente está atendendo todo mundo." Segundo ele, não há informações de vítimas fatais ou feridos decorrentes do temporal.