O alto fluxo de veículos em trechos urbanos de rodovias forma um cenário perigoso para pedestres que se arriscam na travessia das pistas. De um modo geral, não há muitas opções para se fazer isso em segurança. Faltam passarelas, trincheiras, semáforos e botoeiras de semáforo. E, muitas vezes, quando esses equipamentos estão instalados, ficam em locais questionados pelos moradores.

Algumas medidas que podem contribuir para o uso da passarela, como implantação de alambrados e conscientização da população
Algumas medidas que podem contribuir para o uso da passarela, como implantação de alambrados e conscientização da população | Foto: Vitor Ogawa - Grupo Folha

Recentemente, uma mulher de 61 anos morreu atropelada na BR-369, em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), na rotatória após a praça de pedágio de Arapongas. Segundo a Concessionária Viapar, responsável pelo trecho, o acidente ocorreu aproximadamente a 110 metros da passarela para pedestres.

O frentista Paulo Sérgio de Azevedo, 50, trabalha no posto de combustíveis próximo da passarela. Segundo ele, apenas 20% utilizam a passarela e uma dos motivos, acredita, é que ela termina em uma matagal. “Não tem nada ali”, indicando que pode haver um fator de segurança nesse comportamento. Segundo o trabalhador, para evitar a travessia fora da passarela, até o ponto de parada de ônibus foi modificado para ficar mais próximo dessa estrutura.

O pedreiro Rodrigo Cruz, 34, reside no bairro Ceboleiro, que fica próximo da passarela. assim como Azevedo, ele também já presenciou muitos acidentes. “Uma grande parte deles envolveu bicicletas, mas quando envolve pedestres, a maioria estava atravessando a rodovia para pegar o ônibus que vai a Londrina”, observa.

Existem medidas que podem contribuir para o uso da passarela, como a conscientização da população, implantação de alambrados que evitem a circulação do pedestre no nível da pista e a opção por passarelas vazadas, que permitem melhor visibilidade e podem prevenir crimes, como assalto, assim como melhoria na iluminação.

Segundo a concessionária, foram instaladas 24 passarelas nos 547 km de rodovias que ela administra e que não existe previsão contratual para construção mais alguma. A Viapar reforça que o contrato de concessão vence em novembro de 2021e a última passarela a ser instalada dentro desse contrato é a da PR-444, localizada no km 4 + 500 m.

Sobre a insegurança nas passarelas, a Viapar afirma que Isso é um problema de segurança pública. "Deve se procurar a PRF (Polícia Rodoviária Federal), o governo estadual ou municipal." Sobre os alambrados, a concessionária afirma que não há previsão contratual para isso.

BOTOEIRA EM ARAPONGAS

Um trecho da BR-369, em Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), que foi sinônimo de travessia perigosa durante muitos anos, mas isso mudou com a incorporação de um equipamento simples. Em agosto de 2017 a prefeitura municipal instalou um semáforo acionado por botão em uma travessia de pedestres localizada na avenida Maracanã (trecho urbano da BR-369), ligando a rua Guaratinga e a rua Curucuturi. O aparelho era uma antiga demanda, já que centenas de trabalhadores circulam diariamente pelo local, que concentra várias empresas.

José Maldonado Sobrinho: "Antes não dava tempo de atravessar"
José Maldonado Sobrinho: "Antes não dava tempo de atravessar" | Foto: Vitor Ogawa - Grupo Folha

José Maldonado Sobrinho, 63, mora no bairro João de Freitas e relata que no local eram registrados muitos acidentes. “Não dava tempo de atravessar entre um carro e outro. Assim como eu, muitos que precisavam trabalhar, quando iam cruzar a avenida, não conseguiam", lembra.


Como o fluxo da rodovia circula nos dois sentidos e não há um canteiro central no trecho que possa servir de respiro nessa travessia de pedestres, a chance de ocorrer acidentes era quase certas ali naquele trecho. “Esse botão foi uma maravilha. Evitou muitos acidentes.”

O gerente comercial Nilson da Silva, 36, trabalha em um estabelecimento muito próximo da botoeira e constatou a redução de acidentes com o equipamento. Ele afirma que mesmo para quem possui carro, a ligação mais próxima entre os bairros cortados pela rodovia possui cerca de 3 km de distância. “Isso faz com que as pessoas prefiram atravessar a rodovia a pé”, destaca. Mas ele lamenta que não haja mais equipamentos como esse em outros trechos da rodovia, ou mesmo mais passarelas.

A Viapar afirma por meio de sua assessoria de comunicação que a botoeira é utilizada para travessias ruas ou avenida somente dentro de áreas urbanas. "Por motivos de segurança não é recomendada a instalação de semáforos em rodovias."

CONTORNO RODOVIÁRIO

O gerente de trânsito da Sestran (Secretaria Municipal de Segurança Pública e Trânsito de Arapongas) , Devanir Coelho, informa que a prefeitura não pretende realizar investimentos em mais passarelas na BR-369, porque há a previsão da construção do contorno rodoviário. O contorno deverá começar na região do quilômetro 191, seguirá a leste da rodovia e voltará a se encontrar com a estrada principal nas proximidades do Pavilhão de Exposições, pouco antes da praça de pedágio. O investimento previsto é de R$ 123 milhões e a extensão total será de 10,2 quilômetros. "Com esse contorno vai melhorar o fluxo na avenida Maracanã, porque haverá a remoção do fluxo de veículos.” Segundo ele, o número de acidentes na rodovia está dentro da normalidade.

O inspetor-chefe do Policiamento e Fiscalização da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Londrina, Vinícius Silva, ressaltou que a PRF e a Polícia Militar têm feito o trabalho de fiscalização das passarelas no trecho que corta o perímetro urbano. Ele explica que nos locais em que há essa estrutura, mesmo que haja grade de proteção, têm usuários que cortam para atravessam a pista embaixo da passarela. “É uma questão de educação. A gente também tem feito fiscalizações de motocicletas e bicicletas também circulando nesses locais.”