Curitiba - Em casa, Silva, Milta e Maicon não conversam sobre Lucinéia. Maicon sente falta de uma irmã para conversar e aconselhar sobre os problemas e conflitos que um adolescente enfrenta. As demais irmãs já são mais velhas e não é o mesmo. ''É nas pequenas coisas que eu sinto falta'', lamenta. Ele acredita que o tratamento que recebe dos pais seria muito diferente caso o desaparecimento não tivesse ocorrido. Maicon diz que sente uma lacuna entre eles.
Segundo a psicóloga Denise Regina Bernert, uma família que é exposta a um trauma como esse fica sujeita a uma série de problemas de relacionamento. O filho que ficou está diante de um luto sem fim, pois não sabe o que aconteceu. ''Uma criança de 2 anos não tem capacidade de expressar, de organizar uma pergunta e entender uma resposta. Então cresce com um assunto não resolvido e pode até se sentir culpada pelo o que ocorreu'', explica.
Os pais geralmente se culpam pelo sumiço do filho e fantasiam que poderiam ter evitado o desaparecimento. A psicóloga conta que, em diversos casos, o casal se une para buscar o filho, mas, com o passar do tempo, homem e mulher tendem a se isolar. O fracasso impera no relacionamento.
®MDNM¯
Nas poucas vezes em que Silva e Milta conseguem pensar em outro assunto, chega alguém e fala sobre a filha. ''Mesmo pessoas não tão próximas da gente se aproximam e perguntam: 'já acharam a tua filha?'. É como um balde de água fria. São pessoas sem sentimento que não ligam para a dor alheia'', desabafa Milta. (D.C.)