Doação de leite humano alimenta saúde e esperança
Conheça histórias de mulheres cuja trajetória como mães está ligada ao Banco de Leite do Hospital Universitário de Londrina
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de maio de 2025
Conheça histórias de mulheres cuja trajetória como mães está ligada ao Banco de Leite do Hospital Universitário de Londrina
Heloísa Gonçalves

O Banco de Leite Humano do HU/UEL (Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina) auxilia recém-nascidos prematuros e doentes, internados em unidades neonatais, há três décadas. O Banco oferta uma média de 1.722 litros de leite pasteurizado anualmente aos que precisam, recolhidos de unidades de saúde em Londrina, Rolândia, Cambé e Cornélio Procópio, que contemplam uma média de 1.885 pacientes.
Toda mulher que amamenta é uma possível doadora, basta passar por triagem médica e preencher os requisitos. Conforme orientação do HU, a mãe deve estar amamentando o próprio filho, atestar que sobra leite além das necessidades do bebê, ter os exames sorológicos do pré-natal normais e não fazer uso de álcool, drogas ilícitas ou medicamentos que contraindicam a doação.

Foi o caso de Mônica Souza, que foi doadora recorrente do Banco no pós-parto de seus dois filhos. Ela é lactante há quase oito anos, desde o nascimento da primogênita Manuela em 2017, e começou a atuar como doula na mesma época. João Antônio chegou em 2022, hoje com 2 anos e 8 meses.
Souza explicou que decidiu doar seu leite materno porque o produzia em abundância e conheceu os benefícios para bebês, como prevenção contra infecções e a mortalidade infantil. “Ele é uma verdadeira prescrição da natureza, então eu falei ‘vou ajudar a salvar vidas’. De pouco em pouco eu ia enchendo os meus potes, uma vez por semana o banco ia na minha casa e buscava e eu ficava muito feliz”, relembrou.
Para poder recolher o material semanalmente, equipes do órgão fazem visitas domiciliares prévias às doadoras, levando kits contendo frasco estéril, máscara, gorro e etiqueta de identificação. “Eu só precisava ordenhar, colocar no pote, manter armazenado conforme as orientações e esperar eles buscarem”, contou.
Como doula e facilitadora do aleitamento materno, Souza oferece suporte emocional durante a gestação, parto e pós-parto de gestantes, incentivando a amamentação. Ela encoraja que as mães com leite excedente não o descartem, e sim, contatem o Banco de Leite do HU para doá-lo. “Infelizmente, às vezes o estoque está baixo, então tem prematuros extremos. Eu incentivo e elas ficam felizes depois, é uma valorização geral, tanto para ajudar outras famílias e também ser ajudada, porque doando aumenta a produção”.
QUEM MAIS PRECISA
Patricia Pereira é uma das mulheres que iniciou o processo por incentivo da doula, cerca de uma semana depois de seu filho Liam nascer, no dia 25 de março deste ano. A gerente administrativa ligou para o órgão informando que tinha leite para doar, e foi atendida por uma equipe em sua casa, em Ibiporã, região Metropolitana de Londrina, na mesma semana. "Estou amando saber que o que estou doando dá para ajudar bastante crianças que necessitam”.

Pereira contou que o processo de amamentação foi mais difícil do que o parto de Liam, e que levou em conta suas dificuldades ao decidir ofertar material para o estoque do Banco. “Foi um desafio bem grande no começo, e pensei que outras pessoas também poderiam estar passando por isso. Com ajuda de pessoas empenhadas e você querendo, vai tudo se encaixando”, comemorou a mãe de primeira viagem.
OUTRO LADO DA MOEDA
O leite humano pasteurizado pelo Banco beneficia crianças internadas em seis unidades de saúde, sendo o HU, Hospital Evangélico, Hospital do Coração, Maternidade Municipal, Hospital Infantil e a Santa Casa de Misericórdia de Cornélio Procópio.
Filho da professora Maria Luisa Martins, Samuel nasceu no Hospital Evangélico há cinco meses, em novembro do ano passado, antes do esperado. A mãe teve uma gravidez de risco e Samuel nasceu com 33 semanas e 6 dias, pesando dois quilos e medindo 43 cm. Ele foi direto para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).

A equipe do Banco entrou em ação para auxiliar Martins. “Por mais que eu estimulasse com ordenha manual e bombinha, o leite não saía na mesma quantidade de quando uma mãe tem a ‘hora de ouro’ com o bebê e ele suga nos primeiros momentos de vida. Eu não conseguia tirar o suficiente para ele no início, então ele foi alimentado com doações”.
Após a transferência para a UCI (Unidade de Cuidados Intensivos), a mãe teve sucesso em amamentá-lo, e Samuel pôde ir para casa com saúde após 17 dias de internação. “Quando ele finalmente pegou no peito e mamou por mais de 20 minutos foi incrível. Saí contando para a equipe do plantão e foi uma comemoração única. Aquele momento mostrou que todo o esforço valeu a pena”, relembrou.
Martins incentiva a doação, afirmando que é “um abraço de uma mãe para outra na tempestade mais intensa”.
COMO DOAR
Para se tornarem doadoras, mulheres saudáveis que estejam no período de lactação, com produção de leite excedente, podem entrar em contato pelo (43) 3371-2629 ou preencher o formulário disponível no perfil do Instagram do Banco do HU.

Mensalmente, são cerca de 165 litros coletados para contemplar uma média de 108 bebês. Segundo Leticia Costa, coordenadora do Banco, o volume mensal desejado para atender todos os necessitados seria de pelo menos 250 litros, com 300 sendo o cenário ideal. Incentivando a doação, explicou que o material “diminui riscos de alergias e infecções, promove um desenvolvimento cerebral adequado, o desenvolvimento de uma flora intestinal saudável e diminui o tempo de internação”.
Informou ainda que a ação é benéfica às mães, por ser uma forma de alívio das mamas cheias, que ocasionam desconfortos. “Costumo dizer que o leite doado nutre os bebês internados e alimenta de esperança as mães dessas crianças. Elas têm a garantia de que seus filhos estão recebendo o melhor alimento, que contribuirá para uma recuperação mais rápida, favorecendo com que elas possam levar eles para casa mais cedo e com saúde”.
CELEBRAÇÃO INTERNACIONAL
Instituídos por lei em 2015, o Dia e a Semana Nacional de Doação de Leite Humano completam uma década de criação neste ano. A comemoração do Dia em todo 19 de maio é mundial, objetivando estimular a doação, promover debates sobre a importância do ato e aleitamento materno, além de divulgar os bancos de leite humano nos Estados e Municípios.
O material é capaz de reduzir em até 13% a mortalidade de crianças menores de 5 anos por causas evitáveis, sendo o melhor alimento para os recém-nascidos. O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, sendo referência internacional por aliar baixo custo, qualidade e tecnologia.

