Dificuldade e adaptação das mães de alunos em Londrina
Auxiliar de cozinha conta como é a rotina de acompanhar e ajudar três filhos a estudar em casa com apenas um celular e muita dedicação
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 06 de maio de 2020
Auxiliar de cozinha conta como é a rotina de acompanhar e ajudar três filhos a estudar em casa com apenas um celular e muita dedicação
Laís Taine - Grupo Folha
Com cinco filhos, três na idade escolar, Bruna Norato, 28, tem uma rotina cheia desde que passou a acompanhar o sistema alternativo de educação para esse período de isolamento domiciliar. A SME (Secretaria Municipal de Educação) de Londrina envia kits com materiais de estudo para todos os alunos da rede a cada 15 dias e, por meio de um grupo de WhatsApp, pais, professores e alunos se comunicam por meio de vídeo, áudio, texto para efetuar as tarefas a distância. Com isso, a mãe passa as tardes ensinando, alternando horários de uso do único celular com acesso à internet da casa.
“Todos estudam à tarde, então, eu pego às 13h do primeiro ano, enquanto os outros dois começam sozinhos. Como é um celular só, só consigo ajudar quando a do primeiro ano termina de ver os vídeos para depois começar o dos outros dois”, menciona a mãe. Os filhos mais velhos estão na mesma turma, o que contribui para que eles vejam juntos o conteúdo na mesa da cozinha improvisada para as aulas.
Norato é auxiliar de cozinha, mas foi dispensada do emprego durante a crise causada pelo novo coronavírus. O marido está afastado do serviço depois de um acidente de trabalho. O casal vive com as cinco crianças no conjunto Vista Bela (norte).
PERSISTÊNCIA
Há quase um mês confinados, a mãe relata as dificuldades de dar continuidade aos estudos dos filhos, mas que há persistência, tanto dos professores como da própria família, e que vê um processo de adaptação durante esse tempo. “É um processo horroroso, porque a gente não tem preparo para ensinar. Nos primeiros conteúdos (da filha de 6 anos), vinham muitos vídeos, vídeos longos, tomavam muito tempo. Com os dois da mesma turma são as coisas de matemática, o meu mais velho tem dificuldade. Teve dia que eu cheguei a chorar por não conseguir ajudá-lo”, desabafa.
A mãe comenta que conseguiu se adaptar ao processo e que consegue trabalhar melhor com os filhos, “mas não é 100%”, fala. Quando ela mesma não entende, faz pesquisa na internet. Persistindo a dificuldade, manda mensagem para a professora, “mas ela tem muita gente para atender, responde depois de uns 40 minutos”, aponta.
Além de produzir o conteúdo no grupo da turma, a professora também recebe as fotos das tarefas para serem corrigidas. “Na hora que eles estão fazendo, tem que mandar foto deles fazendo. Quando termina uma atividade, mando aquela atividade para corrigir e assim vai. Teve dia que começa às 13h e vai até 18h, 19h”, revela. Norato tem mais dois filhos menores que precisam de atenção.
DEDICAÇÃO DA PROFESSORA
Sobre isso, vê a dedicação da professora. “Eu entendo, são muitos alunos perguntando, é a professora da série deles, ela demora, mas quando responde, esclarece tudo, dá atenção”, menciona.
Apesar de todas as dificuldades, acredita que esteja realizando um bom papel dentro do que pode, dentro da rotina que impactou a todos. “Eles aprendem, depois eu peço para eles, vejo qual foi a moral, dá para ver que estão ‘antenados’”.
Consequência que ela considera específica na realidade atual da família, pois sem emprego consegue dar atenção aos filhos. “Se eu estivesse trabalhando, eles iriam ficar sem estudar.” Mas desempregada, surgem outros problemas, entre eles, o de priorizar itens básicos em detrimento da educação. “Não é sempre que a gente tem condição de ter internet, se eu não tiver, não sei como vai acontecer.”