Dia de visita na Penitenciária de Londrina
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terça-feira, 07 de agosto de 2012
Micaela Orikasa <br> Reportagem Local
Domingo, 11 horas da manhã. É dia de visita na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL) 2 e o cenário que durante a semana é preenchido pela solidão, se transforma com a movimentação de carros, mototaxistas e pedestres.
As visitas ocorrem aos finais de semana nos períodos da manhã e tarde, mas a demanda costuma ser maior no domingo. Em poucos minutos, é possível perceber que as mulheres são a maioria. Dá até para contar nas mãos o número de homens visitantes.
As senhas são distribuídas conforme a ordem de chegada e quem chega primeiro garante mais tempo de visita. É por isso que é comum encontrar mulheres que passam a noite em frente à PEL, na Zona Sul, e outras que encaram quilômetros de estrada durante a madrugada, na esperança de passar três horas e meia com o detento.
''Nunca deixo de vir. Acho importante dar esse apoio e acredito que ajuda bastante no psicológico dele. Trago notícias da família e aproveito para saber como ele está. Quando tem culto lá dentro, até participamos juntos'', diz uma mulher, que visita o marido há dois anos.
Acostumada com o esquema de visitas, ela chega na PEL no sábado à noite, por volta das 22h30, e dorme dentro do carro. ''Assim, consigo ser uma das primeiras a entrar. Quem não tem carro, dorme na rua'', comenta a mulher, ao afirmar que essa rotina ainda vai durar muito tempo. ''Ele pegou 11 anos.''
Enquanto algumas passam a noite à espera das primeiras senhas, outras enfrentam a estrada para chegar a tempo. Uma comerciante de 47 anos, de três em três meses, embarca em Mairiporã, no estado de São Paulo, rumo a Jacarezinho (Norte Pioneiro). ''De lá consigo uma carona até Londrina'', relata a mulher, mãe de um detento de 30 anos, que cumpre pena há dois anos e quatro meses. ''Quem se acostuma com uma vida dessa? A esposa dele nem vem. Mas eu fico pensando que se não for eu, ele não recebe visita nenhuma'', desabafa.
Só de passagem de ida e volta, a comerciante gasta R$ 300, mas os custos de cada visita são bem maiores. Ela explica que gasta cerca de R$ 100 a cada ''jumbada''. ''Compro leite em pó, achocolatado, adoçante, bolacha, produtos de higiene e limpeza, chinelo, toalha, camiseta e por aí vai'', contabiliza.
''Ele está abandonado à própria sorte. Como eu, sendo mãe, vou abandoná-lo? Eu acho que o que nos move é o amor mesmo'', afirma outra mulher, que mora em Primeiro de Maio (Norte). Assim como outros relatos, ela ''dribla'' o orçamento para visitar o filho toda semana. ''Só com ele gasto R$ 200 por mês'', contabiliza.
São quase 13 horas e as visitas começaram a se aglomerar no portão da PEL. Em poucos minutos, os agentes começam a chamar cada uma pelo nome e outra fila vai se formando lá dentro para dar início às revistas íntimas. Em uma sala reservada, as mulheres ficam seminuas e devem agachar em um espelho para garantir que não estão entrando com nada ilícito.
''Tenho 65 anos e passo por tudo isso. A revista é uma humilhação. Mas filho a gente não esquece. Ele foi preso na minha frente, dentro da minha garagem por envolvimento com o tráfico. Desde então, minha vida mudou'', desabafa uma senhora de Sertanópolis (Norte).
Visita de pai
Entre as 600 visitas que são realizadas a cada final de semana na PEL 2, mais da metade são mães. A assistente social da unidade, Regina Chubaci, diz que a justificativa para isso é o afeto materno. ''É até uma questão cultural. A mãe não abandona e tem mais facilidade para perdoar os erros do filho'', comenta, ao afirmar que o número de pais é bem inferior.
Diante disto, os poucos pais que vão à unidade se tornam conhecidos entre as visitantes. Como um pintor de Cambé. Todos os domingos, durante quatro anos, ele prepara a ''jumbada'' com três salgados, um lanche, um refrigerante, frutas picadas e bolo sem recheio. ''Sou o único da família que vem. Sou separado há 12 anos e ele é meu único filho. A maioria dos pais vira as costas, mas eu não. Sempre penso que é mais um dia que passa e que logo ele sairá.''
O diretor da PEL 2, Jorge Eduardo Alves, explica que a visita é uma forma de manter o vínculo familiar. ''É importante que os presos tenham a expectativa de que tem alguém esperando por eles quando saírem daqui'', diz. Segundo a assistente social, quando o preso tem o apoio familiar, ''fica mais fácil sua reinserção na sociedade. Ele vai ter um lar para morar e até incentivo para trabalhar e estudar'', salienta.
As regras para as visitas são determinadas pelo Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen). As sacolas não são obrigatórias, mas os itens a serem levados devem se enquadrar em uma lista distribuída pela própria unidade. ''Nela, constam a quantidade e produtos que podem entrar. Quanto ao vestuário, existem regras de cor e modelo'', explica.