‘‘Desinteresse pela
doação é cultural’’
O segundo maior banco de sangue de Curitiba tem apenas 20% de doares voluntários. A média é de 60 doadores por dia. O chefe do Biobanco, médico Giorgio Baldanzi, diz que o ideal seria o dobro. ‘‘A grande maioria dos nossos doadores são de reposição dos estoques’’, conta. Ele acha que o desinteresse pela doação é cultural.
Baldanzi lembra que o Brasil não se envolveu em grandes guerras mundiais neste século. O médico destaca que a doação de sangue começou a ser um hábito bastante comum nos países que participavam de conflitos internacionais. ‘‘Isso acabou sendo transmitido de geração para geração em países como a Alemanha, Estados Unidos e Japão’’, exemplifica.
Na falta de um tipo sanguíneo, Baldanzi explica que o HC recorre a outros hospitais. ‘‘Existe um intercâmbio entre as instituições’’, observa. Entretanto, as circunstâncias de cada mês ajudam o banco de sangue do hospital a se livrar das dificuldades. ‘‘No mês janeiro, o número de cirurgias cai bastante, e a demanda por sangue também’’, compara.
O Biobanco do HC deverá sofrer mudanças até o final deste ano. Está prevista para setembro a inaguração do novo prédio, que está sendo construído num terreno da esquina das ruas General Carneiro e Padre Agostinho Leão. A nova sede poderá duplicar o número de atendimento aos doadores. Uma das reclamações é a demora. O atual Biobanco está localizado numa casa da rua Conselheiro Araújo. O espaço é reduzido e as funcionárias só conseguem entrevistar dois doadores de cada vez. Na sala de captação, quatro pessoas podem doar sangue ao mesmo tempo.
No novo prédio do Biobanco, o HC planeja prosseguir com uma técnica revolucionária descoberta pela medicina no final dos anos 80. O hospital terá um banco de sangue de cordões umbilicais. O material será utilizado em transplantes de medula óssea. O sangue do cordão tem células compatíveis que diminuem as chances de rejeição após a cirurgia. ‘‘O cordão umbilical é uma matéria prima que pode ser reposta constantemente’’, afirma Giorgio Baldanzi.
O primeiro transplante de medula óssea utilizando o sangue de cordão umbilical foi realizado há dez anos, pela médica francesa Eliane Gluckmann. Cerca de 1300 transplantes como este já foram realizados no mundo. Na América Latina, a técnica só é desenvolvida no Brasil, nas cidades de Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e em Curitiba, no HC, que já promoveu 15 transplantes. (D.V.)