A demolição de um imóvel na avenida XV de novembro, em Cornélio Procópio (Norte), acabou revelando uma parede com pinturas de publicidade dos anos 1950. Uma delas é de um estabelecimento gastronômico, a Cantina Clipper, que também funcionava como bar e café. Os dizeres pintados em azul sobre um fundo branco garantiam que se tratava do melhor restaurante da cidade. Logo abaixo, o nome “Bar e Café Clipper”, com uma fonte que remete àquelas utilizadas em filmes do velho oeste, gênero muito popular na época. As letras possuem serifas no meio e eram escritas em preto, com sombreamento em vermelho.

Pintura remete ao período em que a economia do café estava no auge
Pintura remete ao período em que a economia do café estava no auge | Foto: Roberto Bondarik

Pouco mais abaixo há uma propaganda eleitoral pela qual foi possível identificar o ano em que foi pintada. Nela se podia ler “Para Governador Ângelo Lopes”, em letras brancas, sobre um fundo amarelo. Ele foi o candidato escolhido pelo então governador Moysés Lupion (PSD) para sucedê-lo, mas perdeu para Bento Munhoz da Rocha Neto, em 1950.

“Passei pelo local bem na hora em que estavam fazendo o portão do terreno do imóvel demolido. Tirei aquelas fotos da demolição do prédio, que fica na primeira quadra que recebeu meio-fio em Cornélio Procópio. Embora o prédio não tenha importância histórica, ele deve ter sido construído entre 1951 e 1952 e encobriu a pintura da parede do imóvel vizinho. Quando foi demolido apareceu essa propaganda. Parece uma cápsula do tempo, porque preservou essas pinturas por todos esses anos”, destaca o historiador Roberto Bondarik.

Bondarik ressalta que a pintura remete ao período em que a economia do café na cidade estava no auge. “Cornélio tinha uma economia muito boa. Esse imóvel ficava onde era o centro comercial da época. A área urbana não era muito grande”, explica. Ele ressalta que a escolha do nome do restaurante Clipper remetia ao nome de um avião de passageiros. “Trazia uma coisa de modernidade. Esse restaurante existiu por muito tempo.”

O caminhoneiro aposentado Erasmo Carneiro, 93, relembra que o restaurante pertencia a João Mariucci, filho do pioneiro Júlio Mariucci. “Eu trabalhei na serraria do Júlio Mariucci. O João era um ‘homão’ forte, que pesava mais de 100 kg.”

Atualmente o imóvel das pinturas é locado por Everton Giordani, 40, paulistano que possui uma loja de roupas. Ele chegou a Cornélio Procópio há dois anos e não imaginava que a parede do imóvel poderia ter preservado uma pintura tão antiga. “É muito interessante. Ficamos sabendo que era conhecido e famoso. Os mais antigos veem a pintura com emoção. Um senhor comentou comigo que o antigo dono do bar é parente dele, que está vivo. Disse que ele sempre fala do bar”, diz.

PUJANTE

Naquela época a economia de Cornélio era pujante, impulsionada pelas plantações de café. A cidade possuía 56.394 habitantes em 1950, apenas 12 anos após sua fundação e dois anos após a primeira missa realizada na Catedral Cristo Rei. Foi nessa década que a cidade foi beneficiada com a abertura de rodovias e se tornou importante centro estudantil, agropecuário, comercial e de serviços.

Hoje Cornélio Procópio tem 47.845 pessoas, de acordo com o IBGE. A diminuição da população pode ser explicada pelo êxodo rural e porque em 1950 o município possuía quatro distritos: Cornélio Procópio (sede), Congonhas, Leópolis e Sertaneja. Em 14 de novembro de 1951 perdeu os dois últimos, transformados em municípios.

Imagem ilustrativa da imagem Demolição de imóvel em Cornélio revela pintura dos anos 1950
| Foto: Roberto Bondarik

PROPAGANDA ELEITORAL

A pintura da propaganda eleitoral encontrada em Cornélio Procópio faz alusão ao engenheiro civil Ângelo Ferrario Lopes (PSD), que exerceu o mandato de prefeito de Curitiba entre março e dezembro de 1947, segundo dados obtidos junto a Divisão de Multimeios da Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. O político nasceu em 30 de dezembro de 1902 e morreu em 17 de dezembro de 1964. A propaganda eleitoral publicada nos jornais da época aponta que o candidato de Moysés Lupion daria continuidade aos seus feitos, entre eles as “escolas primárias novas, arejadas e construídas com o rigor da técnica, que abrigam 32.000 crianças em idade escolar”, enaltecendo que o Paraná era o único estado da Federação a oferecer gratuidade no ensino.

A propaganda do então candidato Lopes afirmava que o Paraná era o Estado com o maior número de quilômetros de estradas de rodagens, que a estrada de ferro central e a usina hidrelétrica de Cotia estavam em andamento, e que, no governo Lupion, foram construídos fóruns, escolas, cadeias públicas, pontes, estradas, escolas, centros de saúde, hospitais e postos de puericultura.

Em entrevista a Aramis Millarch originalmente publicada em 23 de setembro de 1990, explicou suas razões de ter escolhido Ângelo Lopes como candidato à sua sucessão. “Ângelo Lopes havia sido prefeito de Curitiba, nomeado em 12/3/47, depois secretário da Fazenda e diretor da RVPSC (Rede de Viação Paraná - Santa Catarina). Era um grande técnico, um homem prático e que poderia continuar a minha administração”, destacou na época.

Nessa entrevista Lupion afirma que Lopes perdeu para Bento Munhoz da Rocha Neto porque o candidato do partido adversário já tinha uma boa base eleitoral. “Tinha tradição - seu pai havia sido governador. Foi um bom deputado federal - brilhante constituinte. Tinha grande capacidade intelectual. Tudo isto o levou a merecer a sua vitória”, destacou Lupion.

Como engenheiro, Ângelo Lopes projetou o prédio do antigo Fórum de Ponta Grossa, que desde 1982 passou a abrigar o Museu Histórico da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No período em que o Paraná ficou sob intervenção de Manoel Ribas, Lopes foi o secretário de Agricultura e Obras Públicas.