"É meu primeiro emprego na área", comemora Lindaura dos Santos Prezotti
"É meu primeiro emprego na área", comemora Lindaura dos Santos Prezotti | Foto: Ricardo Chicarelli


A expectativa de voltar ao mercado de trabalho é grande para Rosana Duarte, 55, e Adevair Ferreira da Silva, 50. Eles fazem parte de uma turma de oito alunos com deficiência visual do curso técnico em massoterapia do IFPR (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná), campus Londrina.

"Tenho certeza que esse curso vai abrir um leque de oportunidades. Sei que as vagas são limitadas e, apesar de se falar tanto em inclusão, muitas empresas ainda não têm estrutura para isso, mas minha expectativa é poder trabalhar logo", comenta Duarte, que perdeu a visão há quatro anos, em decorrência da retinopatia diabética. Durante um ano viveu a "fase do luto", como ela mesmo descreve. "No Instituto Roberto Miranda aprendi o braile e a andar, ou seja, desenvolver habilidades para ter autonomia. Foi lá também que uma equipe do IFPR foi divulgar os cursos e eu me interessei na hora", conta.

O coordenador do Napne (Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas) no IFPR, Lucas de Moraes Negri, explica que a procura pelo curso por deficientes visuais vem aumentando a cada ano. "Acredito que a massoterapia possibilita um melhor desenvolvimento para esses alunos porque a profissão se caracteriza pelo trabalho manual, isto é, através do toque. E estamos trabalhando para oferecer a melhor estrutura possível", afirma.

No início do ano, uma equipe do Instituto Benjamin Constant, do Rio de Janeiro, esteve na instituição ministrando uma capacitação na área da deficiência visual para professores e técnicos. No IFPR, o curso tem duração de dois anos e, além da prática, os alunos têm acesso ao conteúdo teórico com a adaptação do material e o uso de plataformas de acessibilidade que os permitem fazer trabalhos e pesquisas na internet.

Oito alunos com deficiência visual fazem o  curso técnico no IFPR
Oito alunos com deficiência visual fazem o curso técnico no IFPR | Foto: Gina Mardones



RESPEITO
Lindaura dos Santos Prezotti é cega total do olho direito e tem apenas resíduos de visão no esquerdo. Ela é formada em massoterapia pelo IFPR e trabalha em uma multinacional especializada em tecnologia, com unidade em Londrina, há quase dois anos. "Gosto de gente, que acredito ser a melhor invenção de Deus. Tenho contato com pessoas todos os dias e de de todos os tipos. Tenho um relacionamento bom com todos. É meu primeiro emprego na área", comemora.

Segundo Ana Cláudia Ribas, gerente de recrutamento e seleção da Atos em Londrina, a empresa começou a oferecer a massoterapia há cerca de cinco anos, inspirado na iniciativa da unidade de São Paulo. "Antes de contratamos os funcionários deficientes convidamos membros do Instituto Roberto Miranda para orientar os demais colaboradores em como recepcioná-los e proceder no dia a dia para não terem uma abordagem inadequada. O instituto também apontou quais seriam as modificações necessárias no prédio para que houvesse acessibilidade", explica.

"É importante abrir a vaga, mas também se adequar às necessidades da pessoa com deficiência. Penso que a tendência é melhorar cada vez mais o ambiente para os cegos, porque a sociedade precisa atender todas as pessoas", avalia Claudio Neves Cordeiro, deficiente visual e massoterapeuta na empresa. A instituição tem aproximadamente 500 funcionários, sendo 28 deficientes, entre cadeirantes, auditivos, nanismo e pessoas com outros tipos de limitações físicas.

Os massoterapeutas contam que a procura por massagem pelos colegas de trabalho é grande. Aqueles que querem o atendimento precisar marcar horário na recepção e pode usar do serviço até duas vezes na semana. "Raramente tem hora vaga. Todos respeitam as diferenças e não temos problema nenhum", comentam Prezotti e Silva.