João Vitor Capri e Luís Filipe Negrão, mentores do projeto: perspectiva de crescimento
João Vitor Capri e Luís Filipe Negrão, mentores do projeto: perspectiva de crescimento | Foto: Fotos:Gustavo Carneiro



Um cursinho pré-vestibular popular e gratuito, feito por alunos de graduação da UEL (Universidade Estadual de Londrina) para estudantes de escolas públicas de Londrina, onde quem ensina também aprende. Assim é o cursinho Fênix, uma iniciativa de três estudantes universitários com vocação para o magistério que, diante do expressivo número de concluintes do ensino médio em escolas da rede estadual que sequer fazem inscrição para o vestibular, decidiram dar uma contribuição para virar esse jogo.

João Vitor Capri, aluno de matemática, Luís Filipe Negrão, de história, e Ana Luísa Trzeciak, de engenharia química, são os mentores do projeto realizado de forma totalmente voluntária, que foi finalista do 3º Prêmio Londrina de Cidadania promovido pelo Observatório da Gestão Pública de Londrina. O cursinho começou a funcionar em junho de 2017 e, nesse ano, atendeu 80 alunos de escolas públicas com aulas de preparação para o vestibular. Os resultados foram promissores, com 50% de aprovação na primeira fase da UEL. Os 25 professores que abraçaram a causa também são universitários e, de acordo com os criadores do projeto, encontraram no cursinho uma oportunidade para ganhar experiência na docência.

Capri conta que a ideia de oferecer um cursinho popular e gratuito surgiu quando ele ainda estudava engenharia na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e, ao participar de um projeto para divulgar a instituição em escolas públicas, percebeu que 90% dos alunos não tinham intenção de fazer faculdade. O incômodo permaneceu com ele até o momento em que decidiu deixar o curso para fazer matemática e se dedicar à verdadeira vocação: a docência. "Sempre quis trabalhar com educação", reforça.

O idealizador do Fênix fez ensino médio com Negrão em uma escola particular de Londrina e, com a ideia na cabeça, a expôs ao amigo que já cursava história e tinha experiência como professor no cursinho da UEL. Ele topou a empreitada. Logo Trzeciak se uniu ao grupo e eles tiraram o Fênix do papel para atender, ainda no primeiro semestre, alunos de escolas públicas interessados em prestar vestibular. "A Elaine, diretora do (colégio estadual Vicente Rijo, foi uma grande incentivadora, pois abriu as portas da escola para o Fênix funcionar", conta. O cursinho atende alunos do Vicente Rijo – que vêm de todas as regiões da cidade – e também alunos de outras escolas. Para participar, é preciso realizar um processo seletivo.

O primeiro ano foi vencido com materiais didáticos como livros e apostilas doados pela comunidade. "Queríamos uma imagem bonita, por isso fizemos um site e uma página no Facebook", contam. As empresas juniores Lex, de direito, e Conect Comunicação, de relações públicas, são parceiras da iniciativa e apoiaram na parte burocrática e de comunicação. O grupo Interact ajuda com doações e divulgação do curso.

Para surpresa da equipe, o primeiro processo seletivo teve 150 inscritos e 80 estudantes selecionados. Os 25 professores também foram escolhidos entre 100 inscritos selecionados após entrevista e aula teste. "Nem todos os professores tinham experiência anterior e acabaram descobrindo essa vocação no Fênix", comemoram.

O maior desafio, para eles, foi aprender a organizar a escola ao mesmo tempo em que tinham de se relacionar com professores e alunos. "Não imaginávamos que teríamos que lidar com toda a rotina administrativa", dizem.

Para Capri, a experiência trouxe mais organização e tranquilidade para lidar com problemas. "Também passei a entender melhor os meus próprios professores na faculdade", relata. Negrão, por sua vez, entendeu que uma responsabilidade tão grande demanda solução objetiva de problemas, sem espaço para nervosismo ou ansiedade. "Aprendi a ficar sereno, a me relacionar melhor com as pessoas e considerar outras opiniões", diz ele, que se sente motivado pelo carinho dos alunos.

Os professores idealizaram um cursinho onde todos poderiam estudar, mas logo no início perceberam que muitos não tinham condições nem de arcar com os custos do transporte para chegar às aulas noturnas, visto que a matrícula não dá direito ao passe livre. "Quando o primeiro aluno disse que não poderia frequentar as aulas por dificuldades com transporte, tentamos resolver, mas depois entendemos que estava acima das nossas condições", lamenta.

A despeito das dificuldades, o cursinho continua em 2018, inclusive com perspectiva de crescimento. Para montar as apostilas confeccionadas pelos próprios professores, o Fênix precisa da doação de pelo menos 15 mil folhas de papel em branco para impressão de material didático.

Além disso, são bem-vindas doações de jalecos para os professore,s giz e projetor multimídia. Canetas, cadernos, lápis e borracha são outros materiais necessários para apoiar a aprendizagem dos alunos.

'As aulas são dinâmicas, me sinto muito motivado'



"Os professores se mostraram tão preocupados que me esforcei para corresponder", conta Vinícius Roger Melanda
"Os professores se mostraram tão preocupados que me esforcei para corresponder", conta Vinícius Roger Melanda



Com planos de cursar ciências biológicas na UEL, o estudante Vinícius Roger Melanda, 18, que mora no conjunto Avelino Vieira (zona oeste) e estuda o terceiro ano do ensino médio no colégio estadual Vicente Rijo, não fazia muita ideia de como se preparar para as provas. Quando soube que havia um cursinho funcionando dentro da escola, ele decidiu se inscrever mesmo achando que seria puxado frequentar aulas em dois períodos num local bem longe de casa. "Comecei pensando que ia desistir, mas os professores se mostraram tão preocupados que me esforcei para corresponder", conta ele, que foi aprovado na primeira fase da UEL e aguarda com expectativa o resultado final.

Ele conta que os docentes são bastante pacientes e que explicam os conteúdos quantas vezes forem necessárias, o que dá muita segurança para os alunos. "As aulas são dinâmicas e divertidas, me sinto muito motivado", diz ele, que acabou ficando muito tranquilo durante as provas. "Eu lembrava das aulas e ia resolvendo as questões. Senti que estava preparado", avalia. Caso seja aprovado, ele ainda não decidiu se vai atuar no magistério ou na área de pesquisa. "Mas também vou querer ser voluntário no cursinho Fênix", garante.

Kathiele Antônio: "A rotina é pesada, mas não ligo, pois meu sonho é entrar na UEL"
Kathiele Antônio: "A rotina é pesada, mas não ligo, pois meu sonho é entrar na UEL"



Aluna do curso técnico em administração integrado ao ensino médio no Vicente Rijo, Kathiele Antônio, 19, sempre teve o sonho de ser professora. Moradora do conjunto Vista Bela (zona norte), ela se inscreveu no cursinho Fênix graças ao apoio do padrinho, que se comprometeu a pagar as passagens de ônibus para ela frequentar as aulas. "Quando fiquei sabendo do cursinho, achei a ideia genial. Há muitas pessoas que querem fazer vestibular mas não podem pagar pelas aulas", disse.

Diariamente, ela acorda às 5h30 para estar na escola às 7h30 para as aulas regulares. "Deixo minha sobrinha na creche", explica. Ao final da tarde, ela enfrenta novamente os 40 minutos no ônibus para as aulas preparatórias. "A rotina é pesada, mas não ligo, pois meu sonho é entrar na UEL. Ninguém da minha família chegou à universidade", conta.

Ansiosa em relação ao resultado da segunda fase, ela garante que o apoio dos professores ajudou a manter a calma e elogia a iniciativa de levar uma psicóloga para falar com os alunos sobre ansiedade. "Ter apoio ajuda muito. Estou esperançosa, pois caíram conteúdos que eu conhecia", afirma.

SERVIÇO:
Quem quiser ajudar o cursinho Fênix pode entrar em contato pelo site www.cursinhofenix.tk, fone (43) 99867-0058 ou (43) 99994-4147, ou ainda na página do cursinho no Facebook . A inscrições para novas turmas serão abertas em março