Diferente de outros locais em que o isolamento social incentivou a adoção de animais, em Londrina a crise financeira das famílias e notícias falsas sobre transmissão do novo coronavírus via pets contribuíram para que mais cães e gatos fossem abandonados. A situação é retratada por duas organizações sem fins lucrativos de proteção animal da cidade, que pedem ajuda ao ver demanda aumentar e a doação cair nesse período de quarentena.

Imagem ilustrativa da imagem Crise e fake news aumentam abandono de animais em Londrina

“O pedido de resgate de animais com dono aumentou consideravelmente, foi uma explosão, muitos acreditam que os animais são vetores da Covid-19", comenta Bruna Reche, voluntária da ADA (Associação Defensora dos Animais). A advogada diz que em alguns países a procura por adoção aumentou por aqueles que buscam companhia nesse período de isolamento, mas que aqui, o comportamento foi reverso.

Além da desinformação sobre a transmissão, a crise financeira decorrente do isolamento também contribuiu para esse comportamento. “Eu vi gente pedindo ajuda para dividir ração, vi pet shop fazendo campanha, a gente tem tantos protetores em Londrina, padrinhos e madrinhas e isso tem ajudado, porque é um ser vivo e abandono e maus-tratos são considerados crimes”, salienta. A entidade recebe aproximadamente 60 denúncias de abandono por dia em suas redes sociais.

PIOROU

A Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) SOS Vida Animal também tem percebido esse movimento. “O que era ruim, piorou. As pessoas estão abandonando mais e as poucas que ajudavam na causa animal, infelizmente, por medo do que será o futuro financeiro, cessaram suas contribuições”, afirma Mônica Maroca, presidente da organização.

Ela afirma que recebe aproximadamente de 80 a 100 mensagens diárias de pedido de ajuda nas redes sociais. “Maioria pedindo para buscar o animal”, relata. Com o aumento dos pedidos de ajuda e de denúncia, a presidente teme que mais abandonos aconteçam no período. “Já está acontecendo, a pessoa não saber o que dar de comer ao bichinho, prefere abandonar."

RECURSO REDUZIDO

Se a questão financeira causa o abandono, ela também impacta as doações e adoções. “Está mais difícil, a gente não consegue doar os animais, porque as pessoas não vão querer o cachorrinho nessa incerteza”, afirma Maroca. “Não temos um número elevado de doação em dinheiro, o recurso que temos vem do sistema do Nota Paraná, que suspendeu os sorteios e também a arrecadação do cupom fiscal diminuiu, com tudo fechado, nós ficamos com o recurso muito reduzido”, afirma.

Na ADA, os recursos também são provenientes de doações e por meio da Nota Paraná e Reche comenta que a pandemia gerou dois tipos de situação. “Primeiro que as pessoas estão preocupadas se vão ter dinheiro. Segundo, nessa linha de quem podemos ajudar, os animais ficam em segundo plano, infelizmente. Não que seja ruim ajudar outras pessoas, mas a gente tem seres vivos também e eles ficam em segundo plano nas doações nesse momento de pandemia.”

SERVIÇO

Interessados em ajudar, podem procurar as redes sociais da ADA (https://www.facebook.com/pg/amo.defender.animais.londrina)

e site e redes da SOS Vida Animal (https://www.sosvidaanimal.org.br/)

NÃO TRANSMITEM VÍRUS

A Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), em informativo atualizado nesta quarta-feira (8) , explica que “não há evidências de que animais que fazem companhia ou animais de estimação, como gatos e cães, tenham sido infectados ou possam espalhar o vírus que causa a Covid-19".

A situação de abandono de animais durante a pandemia é percebida por diversos estados brasileiros, apresentando as consequências da desinformação, como explica a médica veterinária da Monello Select, Luana Sartori. “Muitas são as dúvidas sobre o novo vírus e de que forma ele pode afetar nossos animais de estimação. O primeiro passo é entender que trata-se de um vírus ainda pouco conhecido, mas que até o momento não afetou animais de estimação, conforme disse a WSAVA – World Small Animal Veterinary Association (Global Veterinary Community)”.

Entre as notícias falsas, a de que um cachorro chinês teria testado positivo para a doença. “A história não é bem assim, pois essa informação sobre o pet que teve resultado positivo para o coronavírus humano gerou falsas notícias sobre o assunto. O mais provável é que o vírus tenha sido encontrado na saliva do cachorro por conta da proximidade dele com sua tutora - infectada pela doença”, explica.

A confusão também deriva de um tipo de coronavírus que afeta cães, que já existe há bastante tempo. Esse vírus não tem relação ao novo coronavírus que circula entre humanos e também não é transmitido a seus tutores. O coronavírus felino (FCov) pode desenvolver a Peritonite Infecciosa Felina, doença que também não está atrelada à Covid-19.

Os cuidados com os pets são os mesmos como qualquer pessoa, animal ou objeto exposto, precisam passar pela desinfecção todas as vezes que voltar da rua.