Coloridos, cheirosos, macios e diferentes são algumas das características de produtos de uso doméstico e medicamentos que tanto atraem as crianças e que são os principais responsáveis por intoxicações que podem matar. No Centro de Controle de Intoxicações (CCI) do Hospital Universitário de Londrina, cerca de 30% das notificações de envenenamento são de pessoas com menos de 12 anos de idade.
Na maioria das vezes, a substância tóxica é encontrada dentro de casa ou nos arredores. Segundo a coordenadora do CCI, Conceição Turini, as crianças de 0 a 4 anos são as mais afetadas. ‘‘Essa é a fase em que elas estão descobrindo o ambiente e pegam tudo que está ao alcance. Essa curiosidade natural aliada a um pequeno descuido dos pais pode causar prejuízos enormes à saúde da criança.’’
Entre 94 e 97, foram registrados 5.340 casos de intoxicação nos 80 municípios atendidos pelo centro. Destes, 1.651 eram de crianças, das quais três morreram: duas porque ingeriram sementes de uma planta que continha cianeto e a outra nem chegou a nascer, morreu no oitavo mês de gestação depois que a mãe bebeu herbicida. Felizmente, grande parte dos acidentes são leves e não deixam sequelas. Com exceção daqueles que envolvem produtos cáusticos, causadores de queimaduras. ‘‘Somente nessa situação o leite pode ajudar a diluir o veneno. Em outras, pode agravar ainda mais o quadro de intoxicação. Provocar vômito ou beber água também não é indicado. O melhor a fazer é procurar o estabelecimento de saúde mais próximo o quanto antes.’’
Do início deste ano até 30 de setembro, 887 pessoas foram cadastradas pelo CCI e cinco morreram ao ingerir agrotóxicos. Somente em quadros de sintomatologia aguda estes produtos são relacionados às intoxicações. Muitas vezes, o agricultor sente dores de cabeça, náuseas, transpiração excessiva, fraqueza e dor nas pernas sem saber que esses podem ser sinais de envenenamento. Os médicos nem sempre conseguem fazer essa distinção e acabam tratando o mal-estar como fonte de outro problema. ‘‘A desinformação é o nosso maior inimigo, inclusive no meio de profissionais da saúde’’, explicou Conceição.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), 3% da população se intoxica a cada ano, mas as notificações não chegam a 1%. Isso acontece porque o diagnóstico é difícil, muitos médicos tratam mas não notificam e também porque em alguns casos o paciente se automedica. Plantas e animais peçonhentos como aranhas, cobras, escorpiões e lagartas são outros causadores de intoxicação, porém em número bem menor. Na 17ª Regional de Saúde, o HU é referência de tratamento porque possui antídoto para todos os tipos de venenos de animais.
‘‘Para evitar acidentes, o melhor mesmo é guardar remédios, produtos de limpeza e higiene fora do alcance das crianças e, de preferência, trancados’’, enfatizou Conceição. Em caso de dúvidas ou orientação basta ligar para o CCI pelo telefone (43) 371-2244 que atende durante 24 horas.