Paulo Ubiratan
De Londrina
A onda de invasões de terrenos está crescendo em Londrina. Só nos últimos dias a Companhia de Habitação (Cohab) conseguiu conter oito invasões de área. A afirmação é do diretor-executivo da empresa, Agnaldo José da Rosa. Segundo ele, apenas duas acabaram se concretizando, uma no Jardim Pindorama e outra no Jardim Nova Conquista, ambos localizados na zona leste da cidade. ‘‘Quero alertar que não vamos ajudar ninguém a permanecer no terreno. Entendo que algumas pessoas estejam em situação de emergência e realmente precisam de um lugar para morar. No entanto não vamos concordar com invasões’’, afirmou Agnaldo Rosa.
‘‘Não vamos sair daqui nem com a polícia forçando. Estamos desempregados e não temos dinheiro para pagar aluguel. Queremos apenas ter o direito a um teto’’, desabafou a líder da ocupação no Jardim Pindorama, Ivone Pereira. No local ela levantou um barraco, onde pretende morar com a filha de um mês. A invasão começou há 15 dias em um terreno municipal entre as Ruas Santa Francisca, Santa Eloá e Santa Margarida.
Segundo Ivone Pereira, 83 pessoas (26 famílias) invadiram o terreno e entre elas estão três mulheres grávidas e 21 crianças com idade entre um mês e 10 anos. Ela também informou que algumas famílias vieram de Cambé, Rolândia e Campo Mourão, mas que a maioria residia de aluguel em Londrina. ‘‘Nós não queremos esta terra de graça. Estamos dispostos a comprá-la por um preço justo e possível de pagar’’, avisou a desempregada Maria Conceição Pereira Miranda.
Maria Conceição Miranda e mais cinco mulheres da invasão disseram que desde o ano de 1987 estavam inscritas na Companhia de Habitação de Londrina (Cohab-Ld) para comprarem uma casa. ‘‘O governo (Cohab) depois disse que faltou verba e nos transferiu para o Poupalar. Acontece que neste novo sistema temos que dar lance para conseguir ter a casa. Como vamos dar lances, se não temos nem o que comer’’, questionou Adriana Pereira dos Santos.
A invasão irritou o aposentado Laurindo Veríssimo, 68 anos, que plantava no local. ‘‘Eu não quero a terra. Quero que me indenizem, pois eu tinha uma horta produzindo e eles (os invasores) destruíram tudo’’, denunciou o homem, que reside ao lado do terreno invadido.
A afirmação foi contestada por alguns invasores que afirmaram ter dado tempo para o aposentado colher o que existia na plantação. O grupo criticou que a horta não era comunitária e que Laurindo Veríssimo usava o terreno público para ter lucros com a venda dos produtos que colhia.
Sueli Cristina Mendes Veloso é uma das moradoras do Jardim Pindorama que apoiou a invasão, justificando que o bairro ficou mais limpo e seguro. ‘‘O terreno até pouco tempo servia de depósito para pessoas que moram no centro da cidade jogar lixo. O mato que existia neste local servia para esconder bandidos e presos que fugiam do 2º Distrito Policial. Por diversas vezes a polícia trocou tiros com bandidos colocando em risco as nossas vidas’’, afirmou. Ela e mais outros moradores ajudam com alimentos os sem-teto. Uma mina de água no terreno está sendo utilizada pelas famílias para consumo e banho. A líder da invasão prometeu formar uma comissão e ir amanhã até a Cohab para uma negociação.
Agnaldo Rosa afirmou que somente aceitará dialogar se o terreno for desocupado antes. Segundo ele, o terreno invadido pertence à prefeitura e que qualquer chuva vira um lamaçal. Agnaldo Rosa acusou a maioria das pessoas de já terem participado de outras invasões e disse que já solicitou à procuradoria do município para que providencie na Justiça a reintegração de posse do terreno.Só nos últimos dias a Cohab conseguiu conter oito tentativas, mas duas áreas na zona leste foram ocupadas por sem-teto
Mário CesarVIDA NA OCUPAÇÃOMulher usa água de mina para banhar criançaMário CesarInvasão dura 15 dias e reúne 26 famíliasMário CesarLaurindo Veríssimo usava a área como hortaMário CesarIvone Pereira: negociaçãoMário CesarSueli Veloso: segurançaMário CesarAdriana dos Santos: Poupalar