O servidor público de Tamarana (Região Metropolitana de Londrina), José Carlos do Nascimento, conhecido como Zezinho, é motorista da secretaria municipal de Saúde há 14 anos e recentemente deixou o hospital depois de ter sido internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do HU (Hospital Universitário) de Londrina por causa da Covid-19. Ele foi hospitalizado no dia 9 de agosto, Dia dos Pais, e ficou quase um mês internado, sendo a metade desse tempo desacordado pelo efeito dos sedativos devido à intubação à qual foi submetido. “O pessoal tem que se conscientizar. Não pode fazer aglomeração e precisa acabar com esse negócio de festinha no fim de semana. Não é brincadeira. Quando acontece com você é sofrido. Você vai morrendo aos poucos”, desabafou ele, que agora se recupera em casa.

José Carlos do Nascimento e sua esposa Geni estão aliviados por superar a Covid-19
José Carlos do Nascimento e sua esposa Geni estão aliviados por superar a Covid-19 | Foto: Lucas Marcondes/Prefeitura de Tamarana

"O primeiro sintoma foi o calafrio que senti à noite; depois comecei a ter febre”, relembrou o motorista. No domingo à tarde ele foi ao hospital em Tamarana e os médicos de lá decidiram encaminhá-lo ao HU de Londrina. “Quando a secretária pediu para eu mandar notícias, falei brincando que se eu fosse para a UTI seria a mesma coisa que ir ao matadouro. Falei isso, porque eu ainda estava bem", relembrou.

“Eu fiquei um dia no quarto normal, mas aí a respiração foi caindo e já não aguentava mais a falta de ar. Fui transferido para a UTI logo em seguida”, detalhou, dizendo que ficou preocupado ao ver outros pacientes sendo intubados. “Eu via os outros pacientes entrarem e eles já intubavam. Às vezes eles tiravam o paciente de lá em estado grave e eles nunca mais voltavam”, relatou. Desesperado, pediu para a equipe explicar como funcionava o processo e pediu para ligar para a família antes. “Só vi quando aplicaram anestesia e depois não me lembro de mais nada. Eu apaguei”, relatou Zezinho.

Imagem ilustrativa da imagem 'Covid-19 não é brincadeira', diz servidor de Tamarana curado da doença
| Foto: Lucas Marcondes/Assessoria de Imprensa Prefeitura de Tamarana

“Quando a minha consciência começou a voltar, eu não lembrava que tinha sido intubado. Tentava puxar a perna e ela não vinha. Acordei ansioso”, destacou. O servidor foi melhorando com o passar dos dias. Como ele passou por uma traqueostomia, ele estava sendo alimentado por sonda. Só depois começou a se alimentar pela boca. “Quando voltei a ter voz foi uma benção”, relembrou. Depois de receber a liberação dos vários profissionais que o trataram, ele disse que ficou aliviado. “O médico me disse que não acreditava que estava dando alta para mim pelo quadro de saúde que eu tive. Quando falaram que eu podia voltar para Tamarana foi um alívio e uma alegria imensa.”

SURPRESA

A família e os amigos decidiram preparar uma surpresa, uma carreata em sua homenagem. “Eu não sabia de nada. Minha menina disse que ia parar em frente a igreja para fazer agradecimento, a ambulância parou e aí ouvi o buzinaço e os gritos. Fizeram uma recepção boa e fiquei mais contente ainda. Eu já tinha participado de carreatas mas foi a primeira vez em que eu fui o homenageado. Cheguei em casa e me deixaram na entrada do portão e as pessoas foram passando e acenando”, destacou.

Familiares e amigos realizaram uma carreata em homenagem ao seu restabelecimento.
Familiares e amigos realizaram uma carreata em homenagem ao seu restabelecimento. | Foto: Lucas Marcondes/Prefeitura de Tamarana

“Esse foi o problema de saúde mais grave que tive nos meus 56 anos. Eu nunca tinha sido internado e nunca tinha feito cirurgia. Essa foi uma experiência que eu não quero viver nunca mais. Não desejo ao meu maior inimigo. É muito sofrimento. Não consigo comparar com coisa alguma”, destacou. Hoje ele só possui uma pequena sequela na perna, que está um pouco mais lenta para se movimentar.

“Um amigo meu, parceiro de trabalho, que tinha sido levado para o HU um dia antes de mim não conseguiu sobreviver. Tiraram meu telefone no hospital para eu não ficar sabendo notícias. Só soube quando voltei para casa”, ressaltou.

Uma faixa de agradecimento foi colocada na frente de sua casa.
Uma faixa de agradecimento foi colocada na frente de sua casa. | Foto: Lucas Marcondes/Prefeitura de Tamarana

Todas as pessoas de sua família pegaram a Covid-19 na mesma época, mas no caso de sua esposa e filhos os sintomas foram mais leves. O filho Fernando Nascimento ressaltou que sempre ouvia os outros se referirem à doença como uma gripezinha. “Para mim foi normal, mas meu pai teve complicação. Ver como ele ficou, debilitado, foi um choque que a gente levou”, confessou. “Cheguei a achar que eles estavam liberando a visita para nos despedirmos dele. Nos desesperamos. Vendo ele em casa é um alívio.”