Depois de seis meses sem ver as famílias pessoalmente, idosos reencontraram seus parentes graças à "cortina do abraço”. Uma cortina de plástico foi instalada por uma instituição que atende idosos, na zona oeste de Londrina, e permitiu que acontecessem abraços emociantes, ao mesmo tempo que garantia a segurança dos internos, por protegê-los de uma possível exposição ao coronavírus.

Na tarde desta quarta-feira (28), das irmãs Sandra Moreno e Nilce Moreno Gibelato puderam falar pessoalmente com a mãe Maria Crespo Villar Moreno. O reencontro das filhas com dona Mariquinha, como Maria é conhecida, foi repleto de emoção. Ainda que a configuração da cortina tornasse mais difícil abraçar a mãe cadeirante, o contato foi tocante. “Mesmo que o plástico esteja entre a gente, tem essa energia, tem coração batendo. Acho que o meu coração escuta o dela, como o dela escuta o da gente", disse Sandra, bastante emocionada.

Dona Mariquinha, 90 anos, com Sandra Moreno, uma de suas filhas: "Acho que o meu coração escuta o dela"
Dona Mariquinha, 90 anos, com Sandra Moreno, uma de suas filhas: "Acho que o meu coração escuta o dela" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Elas não se viam pessoalmente desde março e a única forma de comunicação era por meio de videochamada, realizada pela equipe da Nossa Casa de Repouso. Durante o encontro, Sandra cantou para dona Mariquinha, que tem Alzheimer. "Eu agradeço por ela ser minha mãe, por ela ter me ensinado tantas coisas. Também perguntei sobre a comida e o que ela estava fazendo", explicou.

O reencontro foi ainda mais especial considerando que o aniversário de 90 anos de dona Mariquinha foi no dia 9 de outubro. Uma festa de aniversário foi realizada na casa de repouso, mas a participação da família foi apenas virtual. “A gente ficou muito triste dela estar completando 90 anos e não ter podido estar aqui com ela”, lamentou Nilce.

No dia do aniversário, a proprietária da casa de repouso, Eliane Alves, contou para a família que quando chamou Dona Mariquinha para cantar parabéns, ela se recusou. Questionada sobre o motivo, a idosa respondeu que estava esperando suas filhas chegarem.

'COISA BOA'

Eliane Benini Oliveira também pôde reencontrar sua mãe, Nilce Cardoso Benini, nesta quarta-feira. Apesar do plástico tornar o abraço meio desajeitado, poder fazer isso deixou as duas felizes. Dona Nilce queria que a filha entrasse e se sentasse com ela, mas Eliane explicou novamente sobre o risco de contágio da Covid-19. Depois do abraço, a filha contou emocionada que estava muito ansiosa pela visita. "Eu não sabia como seria o reencontro e também a reação dela, mas foi muito bom saber que ela está bem”.

Eliane abraça a mãe Nilce Benini: "Foi muito bom saber que ela está bem"
Eliane abraça a mãe Nilce Benini: "Foi muito bom saber que ela está bem" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Eliane explicou que, apesar de ter visto nas fotos e vídeos que sua mãe está bem, é importante a visita presencial. “Neste ano todo, apesar dessa coisa horrível (a pandemia), ela não regrediu psicologicamente, não entrou em depressão nem nada, então eu acho que isso é uma coisa boa apesar de tudo”, afirmou.

HIGIENE E BEM-ESTAR

As visitas na casa de repouso são agendadas e entre uma visita e outra das famílias, a cortina é higienizada para evitar a possibilidade de contaminação.

A Nossa Casa de Repouso já havia organizado uma cortina do abraço no começo da pandemia. A possibilidade desse encontro foi vista como uma forma de melhorar o bem-estar de idosos e familiares. Com a suspensão das visitas e passeios, os idosos “começaram a entrar um pouco em depressão, a não querer comer”, explica Eliane Alves, que é enfermeira. No entanto, devido ao aumento de casos da doença em Londrina, até esse contato por meio da cortina de abraço foi suspenso. Isso aconteceu antes que todas as famílias pudessem ter esse reencontro. Agora, com a retomada das visitas, ela espera que todas as famílias possam ser beneficiadas. Atualmente, a casa de repouso atende 21 idosos.

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*Supervisão de Lucília Okamura, Editora de Cidades