Cornélio Procópio reconstruirá pórtico da visita do príncipe de Gales
Príncipe Edward esteve na região em 1931; acionista da Paraná Plantations Company, ele queria impulsionar a venda de lotes rurais e urbanos
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 06 de outubro de 2021
Príncipe Edward esteve na região em 1931; acionista da Paraná Plantations Company, ele queria impulsionar a venda de lotes rurais e urbanos
Vitor Ogawa - Grupo Folha
A Prefeitura de Cornélio Procópio (Norte) irá reconstruir o pórtico que marcou a visita do Príncipe de Gales e seu irmão, o Príncipe George, ocorrido em 1931. “O pórtico será reconstruído no mesmo local em que foi levantado em 1931, no alto da escada do portão do condomínio fechado onde eles foram recepcionados”, explica o prefeito Amin Hannouche. “Embora seja simples, ela remete à recordação da época, então já determinei que nossa equipe reconstitua exatamente igual era o arco original.”
Em março, a visita do Príncipe Edward e de seu irmão Príncipe George (tios da atual rainha do Reino Unido) ao Norte do Paraná completou 90 anos. Segundo o historiador Roberto Bondarik, de Cornélio Procópio, o objetivo inicial da vinda dos príncipes à América do Sul era inaugurar a “Exposição Comercial Britânica” em Buenos Aires, na Argentina, em 14 de março de 1931. A Grã-Bretanha queria comercializar seus produtos industriais e demonstrar seu poderio econômico, arcabouço tecnológico e também militar à América do Sul. Para poder fazer isso, a viagem se estendeu também pelo Panamá, Peru, Chile e Brasil.
No Brasil, eles chegaram ao porto de Santos (SP), no dia 24, à bordo do navio Alcântara. “E se tem a notícia que eles tomaram um banho de mar no Guarujá”, aponta Bondarik. Posteriormente, se dirigem para o Rio de Janeiro. O príncipe Edward queria ir de avião, mas foi desaconselhado pelas autoridades locais diante do tempo instável. No dia seguinte eles chegam ao Rio de Janeiro, no navio Alcântara. “O Rio de Janeiro é o único momento oficial da viagem deles. Eles são recepcionados pelo Getúlio Vargas.
Os príncipes estiveram com autoridades brasileiras - além de Vargas, se encontraram com os governadores do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e do Paraná. Depois, foram a São Paulo onde visitaram o Instituto Butantã, já célebre pela produção científica. Sobre a viagem ao Norte do Paraná, ela é justificada porque o príncipe era grande acionista da Paraná Plantations Company e a isso se somou a sua predileção por viagens e aventuras. A vinda dele aqui tinha o objetivo de impulsionar a venda de lotes rurais e urbanos e tudo foi registrado por um cinegrafista. Os filmes, porém, se perderam no tempo.
DE OURINHOS A CAMBARÁ
Em São Paulo, o governador João Alberto Lins de Barros providenciou um trem noturno especial para que os príncipes, na companhia de Simon Christopher Joseph Fraser, o Lord Lovat, seguissem até Ourinhos (SP). De lá eles seguiram de trem da Companhia Ferroviária São Paulo–Paraná para desembarcar em Cambará (Norte Pioneiro), onde foram recebidos pelo interventor do Estado, o general Mário Alves Monteiro Tourinho. "Há fotos do general de terno e de chapéu de feltro e o príncipe sempre aparece com aquele chapéu safari", observa. “Posteriormente se dirigiram para a estação de Cornélio Procópio onde estavam as residências e escritórios dos engenheiros da ferrovia que se estendia pouco além desta estação.”
De acordo com o relato do professor Átila Silveira Brasil (1931-2004), de Cornélio, a comitiva chegou às 11h e foi recepcionada por ingleses, técnicos e poucos empregados da Companhia de Terras Norte do Paraná. O engenheiro responsável era o capitão McDonald, um engenheiro militar britânico que construiu a ferrovia de Ourinhos até ali.
O professor relata que houve grande decepção, pois o sistema elétrico que iluminaria o arco com a saudação "Welcome", do pórtico mencionado no início da matéria, falhou. “Entraram e naturalmente foram tratar de negócios. Depois de duas horas, retornaram à estação. Decidiram ir a pé até à ponta da linha, que estava no Catupiri.”
PRÍNCIPE VOLTOU CORRENDO
O professor ressalta que quando lá chegaram, o príncipe de Gales, que era grande atleta, decidiu que voltaria correndo até Cornélio Procópio. “Não adiantaram as afirmações da longa distancia. O Príncipe correu e chegou normalmente, dando provas de sua grande vitalidade. Carros foram improvisados para trazer os suarentos ingleses do Catupiri, pois eles vinham caminhando com dificuldades entre os dormentes e as pedras do leito da ferrovia.”
“Enquanto esperava seus companheiros, o Príncipe sentou-se num banco da plataforma e começou a conversar em português com o agente Antônio Marques Júnior.” O príncipe de Gales falava português e pediu informações ao agente sobre a qualidade das terras, as madeiras das matas, as principais lavouras, principalmente sobre o algodão, e até sobre leis.
Silveira Brasil relata que depois “a comitiva foi até Jatay de carro, onde estava o grupo inglês preparando-se para o loteamento de Londrina. Conforme testemunha, o Príncipe foi recebido com sua comitiva em Jataizinho, pelo administrador dos ingleses, Elias Dequêch, permanecendo ali algumas horas, o suficiente para participar da festa de batizado de Paulo, filho de Elias. O Príncipe de Gales retornou tarde da noite. Depois de jantar, quase à meia-noite, despediu-se e o trem especial se pôs em marcha.”
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ATÉ A FRONTEIRA
Bondarik ressalta que a construção da ferrovia tinha sido planejada para cruzar a região até Guaíra (Oeste), atravessar a fronteira e atingir Assunção, capital do Paraguai. “E dali ela se interligaria com o restante da América do Sul com outros investimentos britânicos em mineradoras no norte da Argentina. A ferrovia de Buenos Aires ia até Valparaíso. A ligação com a malha ferroviária argentina possibilitaria atingir Salta, por consequência Antofagasta e o Pacífico."
Para Bondarik, "é óbvio que a colonização foi importante, mas parece que o objetivo dela era inicialmente financiar a construção da própria ferrovia trazendo colonos e vendendo terra. Ao colonizar a região, eles criaram um mercado consumidor dependente da própria ferrovia, quer seja para transportar mercadoria, quer seja para transportar passageiros. Esse projeto da Companhia de Terras Norte do Paraná seria para criar uma demanda e esse mesmo.”
Ele ressaltou que o potencial econômico e a história do Norte do Paraná poderiam ter tido outro destino se não fosse a Segunda Guerra e também o afastamento dos britânicos. "Talvez o próprio Mercosul tenha perdido a oportunidade de acelerar economicamente, a integração do continente. Novas oportunidades de negocio, de produção, de trabalho e de riqueza ainda podem ser pensadas e conduzidas pelos diversos países."
MAIOR LEGADO
Na opinião de Bondarik, o maior legado dos britânicos no Norte do Paraná foi o modelo de colonização. Eles atraíram investimento e o dinheiro do investidor britânico através da venda de ações em bolsa de valores e, consequentemente, criou condições para chamar pequenos compradores de terras. “Esse modelo implantado pelos britânicos foi considerado extremamente organizado ao ponto de que quando foi aberta a Transamazônica, se falava na época que era um modelo de colonização da Companhia de Terras Norte Paraná e depois da Companhia Melhoramentos, mas a Transamazônica foi o projeto errado no lugar errado.”
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