Maria José Tenani com as fotos e placas que sobraram do jardim que fez em área pública na Vila Penteriche
Maria José Tenani com as fotos e placas que sobraram do jardim que fez em área pública na Vila Penteriche | Foto: Luís Fernando Wiltemburg

Aos 70 anos de idade, Maria José Tenani aplicou sua paixão pelo cultivo de plantas para evitar o depósito clandestino de lixo em uma pequena área de fundo de vale na Rua do Garimpo, próxima de sua casa. Com flores, frutas e placas caseiras pintadas à mão, ela transformou o local em um espaço agradável para os moradores - até que a Prefeitura de Londrina, diz ela, derrubou uma árvore e picou o tronco sobre o jardim.

Residente em uma rua de declive, Maria José conta que via, várias vezes, pessoas descendo com lixos para serem descartados no fundo de vale que fica a menos de cem metros de onde mora, delimitada pelas ruas do Garimpo e Paraguai e, na lateral de nível mais baixo. pela Avenida Dez de Dezembro.

Ela tomou a iniciativa depois de ver uma lixeira descartada. Encontrou sombrinha, biquíni, boné, comida e, claro, mosquitos. "E eram roupas boas’, conta. Decidiu levar para casa, limpar o que ainda era possível salvar e entregou tudo em um brechó.

Em seguida, resolveu plantar as flores, por volta de março do ano passado. Iam de rosas e lírios a dálias. Um mês depois, já haviam florescido e os vizinhos foram reconhecendo. Junto com as plantas, Maria José incluiu placas de conscientização. "Primeiro, coloquei ‘Não jogue lixo, esta área está sendo cuidada’. Então, atearam fogo em uma árvore, aí coloquei “Área sem fogo e sem lixo”, recorda.

Com a área florida, vieram também os pés de frutas. As moscas deram lugar às borboletas. E um argumento mais forte para evitar o descarte de lixo. “Quando alguém descia com lixo pela rua, eu perguntava: ‘Aonde vai levar isso? Não jogue ali, não, a área está cuidada. E a dengue?’. Não sou de enfrentar, prefiro a conversa”, afirma.

As placas eram feitas com material jogado no local, como tábua de carnes ou pedaços de gavetas. Chegou a colocar mais de 30, pintadas à mão, com desenhos que vinham à cabeça. Nunca fez curso de pintura. “Tem um beija-flor que vem aqui na minha casa, já nem se assusta com a minha presença. Aí, resolvi pintá-lo em uma das placas. Não sei se ficou bom", diz, empunhando a placa retirada após a destruição do jardim, em novembro do ano passado.

Naquele mês, conta Maria José, funcionários da Prefeitura de Londrina cortaram uma árvore e a picaram sobre as flores, destruindo o jardim. “Ela desistiu, abandonou [a área] depois que destruíram tudo. Fizeram um serviço mal feito. Por que não jogaram os troncos do lado de baixo?”, questiona o marido de Maria José, Antônio Tenani.

O que sobrou, Maria José tem levado para a chácara do casal, na Estrada do Limoeiro. Casados há 48 anos, Antônio e Maria José criaram as filhas em São Paulo e voltaram para Londrina há cerca de dez anos, após a aposentadoria do marido. A chácara é o refúgio das filhas e netos quando vêm visitar os avós. “Está lindo lá. Fizemos uma capela com flores e estamos terminando um portal”, diz Maria José.

Sobre a área no fim da rua, Maria José diz que perdeu o interesse após a “destruição”, mas afirma que vizinhos tentam animá-la. “Eles dizem: ‘você viu, está florindo de novo!’ A natureza é assim, ela volta.”

Procurada por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que foi “realizada uma intervenção preventiva no local para a retirada de algumas árvores condenadas e com risco de queda sobre o sistema de energia elétrica”.