O Fundo de População das Nações Unidas alertou que haverá aumento médio da ordem de 20% dos casos de violência doméstica em todo o mundo durante o período de isolamento por causa da pandemia do coronavírus. Para combater esse tipo de violência a tecnologia tem se tornado cada vez mais disponível para as mulheres, seja na forma de aplicativos ou de robôs de mensagens dentro de programas que já existem ou em sites. A reportagem da Folha fez um levantamento sobre as alternativas disponíveis. Confira algumas opções:

ASSISTENTE VIRTUAL VIA WHATS

Um programa de computador que simula conversa em um aplicativo de troca de mensagens foi criado pela Uber e Instituto Avon em parceria com outros sete grupos, além de psicólogos. Para acessá-lo, basta adicionar o número (11)- 94494-2415 e, por meio do WhatsApp, acioná-lo quando precisar de apoio. Ele direciona a mulher para os canais oficiais de denúncias, psicólogas voluntárias, ou até mesmo envia um motorista de Uber buscá-la se precisar sair de casa. A assistente fará perguntas para saber o grau de risco da vítima, que poderá ir a um hospital, uma delegacia ou um centro de atendimento para ter assistência social ou orientação jurídica. Ela receberá um código promocional para iniciar uma viagem gratuita no aplicativo de até R$ 20.

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Ao adicionar o telefone na agenda, o “robô” simula uma pessoa em sua rede de contatos para não despertar a atenção do agressor. “Elas ficam em uma casa que só tem um quarto e uma cozinha e não conseguem falar. A gente percebeu que as tecnologias estavam ajudando a salvar vidas", observa Mafoane Odara, mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo e gerente do Instituto Avon.

NAMORO LEGAL

Diante dos ataques contra adolescentes e jovens adultas, o Ministério Público do Estado de São Paulo criou o projeto #NamoroLegal, com uma cartilha com o mesmo nome, que visa conscientizar sobre os limites que devem ser respeitados nos envolvimentos amorosos. O projeto gerou também um chatbot, que pode ser acessado pelo site (http://www.mpsp.mp.br/namorolegal/).
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“Determinamos um perfil de linguagem que essa robô iria ter, que é o de uma mulher jovem, mas não tanto para que ela assumisse o papel de conselheira, com linguagem compatível com a seriedade do assunto”, destacou a promotora Valéria Scarance, idealizadora do projeto e coordenadora do Núcleo de Gênero do MPSP.

Segundo ela, a robô Maia (Minha amiga inteligência artificial) ajuda a detectar situações de perigo. “Ela orienta a vítima a procurar uma pessoa de confiança e a encaminha a uma rede de apoio. A Maia não faz sinal de alerta para a polícia por causa da necessidade de manter sigilo”, explicou. “A robô ajuda a mulher a entender o que é violência, pois ela não começa com agressões físicas e de grandes proporções. Tudo começa com demonstrações de ciúme e violência psicológica. Aos poucos se dá a dominação."

PENHAS

A ONG AzMina criou o aplicativo PenhaS (https://azmina.com.br/penhas/). A coordenadora voluntária do projeto, Marília Taufic, explica que o aplicativo funciona como um botão de pânico no celular e permite acionar a rede de proteção da mulher vítima de violência doméstica em situações de emergência. O aplicativo está disponível para Android e, em breve, para iOS ― e visa não só ser um canal de denúncia de violência contra a mulher, mas também de acolhimento. O nome “PenhaS” faz referência à Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, e é formado por três pilares: EmpoderaPenha, DefendePenha e GritaPenha.

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Na área “Empodera” o app possui um espaço de conhecimento, com informações básicas sobre direitos das mulheres, mapa de delegacias e notícias de veículos de comunicação. Na DefendePenha”, o aplicativo atende à demanda da identificação com outra mulher e do acolhimento. Com a troca de mensagens, a vítima pode se conectar com outras mulheres, trocar informações sobre sua história e reunir forças para buscar saídas. Trata-se de uma área secreta de troca e conversa. Na “GritaPenha”, é possível cadastrar o número de até cinco pessoas de confiança, que serão “guardiãs”, e acionadas por SMS quando necessário. O app ainda conta com a função de gravador de áudio, que capta o som ambiente, visando construir provas para dar força à denúncia.

ISA.BOT

A ONG Think Olga também possui sua robô para oferecer informação, segurança e acolhimento às mulheres. Ao acessar a ISA.bot (Facebook e Google Assistente), a usuária recebe informações sobre as formas pelas quais o agressor pode atuar, como por meio de vazamento de fotos íntimas, ameaças, discurso de ódio, invasão da conta de e-mail, e quem faz parte do seu grupo-alvo (além das mulheres brancas, negras, indígenas, lésbicas, mulheres trans ou bissexuais, estão ainda mais vulneráveis a ataques).

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A Isa.bot pode ser acessada via inbox do Facebook (digite Isa.bot na pesquisa) ou pelo aplicativo Google Assistente (digite ou diga "Falar com Robô ISA"). A gerente de inovação da Think Olga, Amanda Kamanchek, explicou que o nome ISA veio da sigla “Informação, segurança e acolhimento”. “As mulheres podem fazer perguntas para o Facebook e para o Google e obter informações acolhedoras”, destacou. Na interação com a ISA.bot via Facebook, a usuária poderá acessar o botão “quero saber +” ou clicar no botão “ajuda agora!”.

Neste período de pandemia, a ISA.bot também tem um Modo Ativista, para jornalistas, militantes, lideranças comunitárias, líderes empresariais e equipes de campanhas políticas.

MAGALU

No fim de maio, a personagem virtual Lu, do Magalu, foi protagonista de uma publicação no Instagram na qual avisa o público sobre uma ferramenta contra a violência doméstica: um botão no aplicativo para denunciar agressões. “Ei, moça! Finja que vai fazer compra no APP Magalu. Lá tem um botão para denunciar a violência contra a mulher”, diz o texto do post. O tal botão foi lançado em março do ano passado, no entanto, com o isolamento provocado pelo novo coronavírus, a preocupação com o aumento no número de casos de violência doméstica em todo o mundo gerou a necessidade de divulgar a ferramenta.

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Para acessar o botão de denúncia no app do Magalu, basta abrir o app, ir em “Sua Conta”, no menu e encontrar a opção “Denuncie violência contra mulher”. A loja usou a tag "eu meto a colher sim", se referindo ao ditado popular "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Por meio do botão de denúncia, qualquer pessoa poderá ligar diretamente para o 180, Central de Atendimento à Mulher.

ATENÇÃO ESPECIAL

A professora Ângela da Silva Leonardo, é co-fundadora do Coletivo Feminista Marielle Franco, e integra também a Frente Feminista de Londrina e os movimentos 8M e 14M. Segundo ela, essas ferramentas tecnológicas são essenciais no combate à violência, principalmente nesse período de pandemia. "Na China, que foi o primeiro país afetado pelo novo coronavírus, houve aumento da violência doméstica. A ONU, preocupada com esse processo, pediu para que se desse atenção especial às mulheres.

"A violência doméstica acomete todas nós, mas acomete muito mais as mulheres negras do que outras mulheres. Temos que pensar no que gera a violência e cobrar a implantação de políticas públicas que utilizam meios tecnológicos, que mostraram que funcionam muito bem. Essas ferramentas são essenciais nesse processo de combate estrutural ao machismo", destacou a professora.

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NÚMEROS ASSUSTADORES

A delegada da Mulher de Londrina, Magda Hofstaetter, afirma que todas essas iniciativas que facilitam o acesso à informação e o encaminhamento para uma rede de proteção são louváveis. "Todo avanço tecnológico é válido, ainda mais em uma seara em que, infelizmente, temos números muito assustadores”, apontou.

Hofstaetter, afirma que, em Londrina, pelo segundo mês consecutivo, não houve um aumento significativo de descumprimento das medidas protetivas, o que, aparentemente, indica que as medidas protetivas estão sendo cumpridas. “Mas isso não significa que a violência tenha diminuído. Há uma preocupação de que os números estejam subnotificados, mas isso a gente só vai saber ao término da pandemia ou, talvez, a gente nunca saiba. Infelizmente”, diz a delegada.

Segundo ela, há uma preocupação devido ao isolamento social dos casais. “Com esse distanciamento há um poder de controle do parceiro sobre a mulher. Essa convivência forçada tende a criar momentos de tensão e geram preocupações na sua parceira. Há também maior consumo de álcool durante esse período em que as pessoas não podem sair de casa e isso pode desencadear mais problemas, potencializando a violência”, apontou.

Hofstaetter destacou que ao privar a mulher de sair de casa, muitas não têm buscado as autoridades. “Há a possibilidade de ligar para a polícia, mas muitas enfrentam dificuldades de fazer isso por estarem ao lado do parceiro o tempo todo. Elas não conseguem nem mexer no celular. O poder de controle do parceiro impede a mulher de ligar para uma amiga ou para um parente próximo”, destacou.

CANAIS

Ela ressalta que os canais tradicionais de denúncia continuam funcionando, como é o caso da Delegacia da Mulher: rua Almirante Barroso, 107 (perto da prefeitura), fone 3322-1633.
As mulheres também podem recorrer ao Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) - rua Gago Coutinho, 833, Jardim Caravelle (perto da avenida Santos Dumont), fone 3325-6593. As Promotorias de Justiça do Ministério Público Estadual também são outro canal de denúncia. Elas podem ser acionadas pelo telefone 99669-8075.