Entre 2008 e 2018, 30.126 Boletins de Ocorrência foram registrados na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) de Londrina. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (23) em atividade do Programa Lei Maria da Penha vai à Escola, realizado pela SMPM (secretaria municipal de Políticas para as Mulheres) em parceria com a SME (Secretaria Municipal de Educação). O intuito é conduzir a comunidade escolar na identificação das diversas formas de violência contra a mulher e capacitar os profissionais para encaminhamento correto em situações percebidas dentro da escola.

Encontro com representantes de escolas da zona sul: orientações, discussões e depoimentos
Encontro com representantes de escolas da zona sul: orientações, discussões e depoimentos | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

“Nosso foco é que haja a identificação de relações abusivas por meio desses profissionais que têm contato com a população. Apresentamos como essa violência se dá, porque às vezes acontece de forma muito sutil; e a proposta é que quando chegar esse comportamento na sala de aula ou em reuniões de pais, que o profissional saiba identificar e possa encaminhar para os serviços adequados”, explica a psicóloga da Gerência de Apoio à Mulher em Situação de Violência da SPMP, Mirtes Viviani Menezes.

No encontro com os diretores das unidades da região Sul, os diretores assistiram à palestra que apresentou diversas formas de violência, como física, sexual, patrimonial, moral e psicológica, e também aprenderam como acionar os serviços especializados. “Isso facilita muito na peregrinação da mulher em diversos serviços. Orientada sobre qual recorrer, é mais fácil que ela dê continuidade”, afirma a psicóloga.

O Cram (Centro de Referência de Atendimento à Mulher) e a Casa Abrigo Canto de Dália são serviços disponibilizados pela secretaria que foram apresentados aos diretores. A psicóloga apontou ainda atendimentos que Londrina e Região têm disponível para a sociedade, como a Deam, Patrulha Maria da Penha, Programa Rosa Viva e o Numap (Núcleo Maria da Penha), da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

PROXIMIDADE

Além de palestra, os participantes aproveitaram a discussão para dar depoimentos sobre situações próximas, sejam com amigas, mulheres da família ou mães de crianças da escola. O processo de reconhecimento da violência é instantâneo e o número de comentários mostra que não se trata de uma situação atípica.

É por essa questão que os colaboradores perceberam a necessidade de aprender a identificar e saber fazer o encaminhamento correto. “A violência contra a mulher ainda é muito naturalizada. Hoje, como diretora, eu vejo muita criança em vulnerabilidade, então a gente, com mais acolhimento, sem julgamentos, encaminha as mães para os serviços adequados, tentando mostrar para essa mulher/mãe que há outros caminhos e que ela tem apoio”, afirma Mércia Maria Cardoso, diretora da Escola Municipal Maestro Andréa Nuzzi.

Os coordenadores pretendem também atuar na prevenção com os alunos, demanda que vem dos próprios diretores. “Hoje temos um direcionamento para orientar quem precisa de atendimento, mas o principal é lidar com essa educação machista e acredito que na escola poderíamos estudar como fazer isso. Nós percebemos que são comportamentos enraizados que precisamos repensar. Acredito que com uma visão ampliada podemos transformar as futuras gerações”, defende Renata Favoretto, diretora da Escola Municipal Eugênio Brugin.

EXPANSÃO

Esta é a segunda etapa das ações. A primeira, iniciada em setembro, ocorreu dentro da própria SME e seguiu para a orientação de diretores escolares. “Eles são referência na escola, então primeiro passamos aos diretores e depois falaremos com os professores. Pretendemos avançar para os pais de alunos e estudantes do EJA (Ensino de Jovens e Adolescentes) para mostrar que muitas pessoas estão em condição de violência e não se enxergam nessa situação, assim como às vezes nós somos abusivos na relação e não nos damos conta. Apresentamos vários tipos de violência, mostrando que não precisa chegar à agressão física ou ao feminicídio para ser classificada como tal”, comenta a diretora de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Karen Ortiz.

A proposta faz parte de uma rede de ações da SMPM, que pretende avançar em vários pontos da sociedade através da informação e educação. “Nós trabalhamos com poucos servidores e recursos na pasta, então, sentimos a necessidade de a secretaria sair do gabinete para orientar os profissionais e aumentar o nosso alcance. Nós criamos o projeto Juntas Somos Mais para crescermos, estamos nas escolas, na construção civil, falamos com profissionais de beleza, fazemos capacitações na rede de enfrentamento, é uma construção conjunta para falar sobre violência em vários campos”, afirma a secretária da SMPM, Nádia Oliveira de Moura.

O Programa Lei Maria da Penha vai à Escola foi instituído em Londrina por meio da Lei Municipal 12.662 de 23/02/18