Segundo especialista, a expectativa é de atender 20 pessoas por semana
Segundo especialista, a expectativa é de atender 20 pessoas por semana | Foto: Divulgação/AHU

Em alguns pacientes que foram infectados pelo novo coronavírus os sintomas debilitantes persistem por semanas ou até meses. Para parte deles, os sintomas nunca desapareceram. Foi documentado que a lesão de órgãos persiste nos pulmões, coração, cérebro e rins, mesmo em algumas pessoas que apresentavam apenas sintomas leves. O serviço de Pneumologia do HU/UEL (Hospital Universitário da UEL) está atendendo em seu ambulatório casos de pacientes que tiveram seus pulmões comprometidos pela Covid-19 .

O acesso ao atendimento especializado, a princípio, foi aberto somente aos pacientes do SUS com sintomas persistentes internados no HU/UEL, que é o hospital de referência para Covid-19. “O HU já é o hospital de referência e a maioria dos pacientes já está lá. O público para esse tratamento são as pessoas com lesões pulmonares mais extensas. Quando o paciente recebe a alta a gente já direciona para nosso ambulatório de pneumologia”, relata o pneumologista Alcindo Cerci Neto, do HU/UEL.

“A doença tromboembólica venosa, e não só a pulmonar, acontece em quase 30% dos pacientes com Covid. Ela faz parte da fisiopatologia da doença. Esse percentual é bastante mesmo, mas nem todos 'fazem' embolia pulmonar“, apontou Cerci Neto, informando que a princípio o ambulatório deve atender 20 pessoas por semana. "Mas a capacidade de atendimento vai depender da demanda”, destaca.

“A gente já vinha fazendo acompanhamento informal dos pacientes que tinham tido alta no HU, com comprometimento pulmonar grave. O que foi feito foi uma sistematização dos pacientes”, observa o especialista.

SÍNDROME PÓS-COVID

“A gente ainda não sabe o que é a síndrome pós-Covid, porque é uma doença nova. A gente quer dar suporte a esses pacientes e vamos avaliar a função pulmonar com exames de imagem. Nos casos de embolia pulmonar acrescentaremos exames de função cardíaca, para ver como eles vão se comportar ao longo do tempo. Se for necessário, se o paciente tiver dor crônica, ele será encaminhado para a fisioterapia. Se tiver fadiga muscular crônica será encaminhado para a fisioterapia. Se for paciente com sequela neurológica será encaminhado para a neurologia”, detalha.

Segundo ele, o pós-Covid é um conjunto de sintomas que pode envolver fadiga crônica, mas nem todos apresentam esse sintoma necessariamente. “Alguns podem ter, mas não é o que caracteriza o que ocorre quando o paciente recebe alta. O pós-Covid são todas as sequelas derivadas da doença, incluindo fadiga crônica, transtornos psiquiátricos, psicológicos, falta de reinserção social, dispneia e dor generalizada.”

TEMPO DE RECUPERAÇÃO

Questionado sobre a estimativa de tempo para a recuperação, ele ressaltou que é variável. “Tem paciente que se recupera 30 dias e outros em 60. Mas é bom ressaltar que ainda não temos pacientes com mais de seis meses de evolução, então não tem como fazer uma estatística prognóstica. Nossos pacientes são aqueles que começaram em março e em uma quantidade muito pequena”, destacou.

Esta é a segunda iniciativa em hospital público no estado do Paraná e que vem seguindo as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para seguimento dos pacientes. Com este ambulatório o HU/UEL fecha o ciclo de cuidados com estes pacientes, oferecendo tratamento de ponta em todas as fases da doença.

Imagem ilustrativa da imagem Como funciona o ambulatório de Pneumologia do HU
| Foto: Divulgação/AHU

PAPEL IMPORTANTE NA RECUPERAÇÃO

Eduardo de Melo Carvalho Rocha, presidente da ABMFR (Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação), afirma que a sociedade terá que reaprender a conviver com a Covid-19. “Por sorte o SUS e nossos serviços de saúde conseguiram dar conta, mas vai ter que ter mais acesso à reabilitação, pois com as sequelas, a gente sabe que o médico sozinho não conseguirá. Precisamos de profissionais de diferentes especialidades, como fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e fonoaudiólogos. Todos vão ter papel importantíssimo na recuperação dos pacientes. A gente precisa trazer esses pacientes para a sociedade e, em paralelo, precisa conhecer mais a doença para saber e ela irá ou não se associar com outras doenças”, detalha.

“Segundo a ONU, dois terços de pacientes que tiveram Covid-19 e passaram por UTI vão ter necessidade de reabilitação por algum período da vida, pelo menos pelo primeiro mês após a alta. Das pessoas que tiveram a forma leve da doença, quase um quarto ficaram com alguma sequela que perdurou por quatro a seis semanas”, destaca o especialista.

Segundo ele, apesar de a Covid-19 ser nova, os médicos têm usado o que conhece de outras doenças virais que exigem internação de forma prolongada. “Coisas que a gente observou na poliomielite no passado, estão sendo observadas também na Covid-19, como a perda de força por causas virais. Muitas das alterações estamos aprendendo agora”, destacou. “O conhecimento que a gente possui hoje já é diferente de março. Já temos algumas informações sobre as dificuldades e a quais tratamentos que os pacientes respondem bem”, apontou.

Ele explicou que o pulmão é a parte mais visível da doença, mas a Covid-19 causa processo inflamatório em vários lugares. “Tem lesão e dor muscular persistente que lembra a chikungunya e a dengue. A gente já viu o novo coronavírus agindo dentro do sistema nervoso, o que faz com que pacientes tenham confusão mental e alucinações. Vimos muitas lesões de nervo, com paralisação de nervos da face e membros. Há aqueles com perda de força e massa muscular. Há aqueles com alteração no coração, principalmente em pacientes mais jovens. E há aqueles com alterações psíquicas, com crises de ansiedade”, destacou.

“Se o tempo de internação for prolongado, esse período que ele fica longe da família e do conforto gera dificuldades psíquicas e o paciente fica mais predisposto a sofrer estresse pós traumático”, destacou. “Com essa gama grande de sequelas, é fundamental a individualização do tratamento para traçar a melhor forma de reabilitação”, destacou.