Imagem ilustrativa da imagem Como deve ser feito o resgate de um animal abandonado?
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Com as redes sociais, não faltam clamores para que animais, principalmente cães e gatos, sejam resgatados das ruas, mas nem sempre a boa vontade supre as boas práticas para se fazer isso bem feito. Mônica Maroca, presidente da SOS Vida Animal, de Londrina, relata que a ONG existe há 32 anos e observa que certamente os pioneiros encontraram dificuldades no início das atividades para saber os procedimentos corretos sobre como realizar um resgate, fato que foi superado com a experiência adquirida ao longo dos anos. Para os leigos, porém, a falta de conhecimento pode levar a erros nesse processo de resgate.

Recentemente o CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo) alertou para o problema do abandono. Segundo a médica-veterinária Adriana Maria Lopes Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, ao recolher um animal da rua, a primeira providência deve ser levá-lo para uma consulta com um médico-veterinário, tomando todas as precauções no primeiro contato. “É muito importante lembrar que, por se tratar de um animal desconhecido, ao realizar o manejo deve-se ter o máximo de cuidado para evitar acidentes ou agressões. Caso haja algum agravo causado pelo animal, a vítima deverá procurar atendimento médico o mais rapidamente possível”, orienta.

Maroca afirma que basicamente são estes cuidados que tomam quando resgatam cães e gatos. “Em Londrina não existe abrigo municipal e nenhum amparo financeiro para que ONGs consigam abrigar .Seguimos todo protocolo de cuidados que o animal necessita em cada situação que o encontramos. Orientamos via redes sociais a população do bem que tem vontade de ajudar um bichinho em situações de riscos”, declara.

“Um dos principais erros cometidos por quem não tem experiência é retirar o animal da situação de vulnerabilidade e colocá-lo em outra situação semelhante, levando para casas sem muro, cercas e portão. Sem condições financeiras de realizar consultas e exames, pode contaminar seus próprios animais com doenças transmissíveis”, apontou protetora de Londrina, reforçando que na cidade não existe hospital ou clínica pública que incentive a população a socorrer um animal e dar a eles todo atendimento necessário.

Maroca reporta que muitas pessoas que realizam esse resgate são de poder aquisitivo baixo. “Em 2020, realizamos trabalhos em diversos assentamentos e encontramos muitas famílias acolhedoras, mas que não tinham água e luz em seus barracos, e em seu quintal possuíam vários cães e gatos que pegaram pelas ruas, em matagais, entre outros espaços”, destaca.

Em 2019, SOS Vida Animal resgatou 980 animais e, em 2020, com a pandemia, esse número caiu. “Infelizmente não conseguimos recursos financeiros suficientes e o número foi menor, em torno de 670. Os adultos foram castrados, vacinados, receberam vermífugo. Alguns receberam microchip, mas outros não”, detalha.

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A ONG não ministra cursos, mas orienta pessoas a realizar o resgate da maneira correta. Uma das pessoas é Hemely dos Santos Damasceno, 22, estudante. “Meu primeiro resgate foi há cinco anos, uma cachorra em situação de rua, que me seguiu até em casa. Eu não podia colocar dentro de casa. A primeira coisa que fiz foi levar ao veterinário e os exames deram que tudo estava normal. Ela não era castrada e, com a ajuda do SOS Vida Animal, fiz rifa e vendi pizza para conseguir os recursos para castrar”, explicou. "Dos animais que eu resgato, a maioria está bem debilitada. A maior dificuldade é achar pessoas que ajudem a arcar com os custos e conseguir lares temporários, para colocar depois para adoção."

Outra pessoa que passou a resgatar esses bichos é a bancária aposentada Sandra Carvalho Rosa, 57. “Eu comecei auxiliando alguns protetores. Você compra uma rifa, alguém pede ajuda transporte ou dinheiro para ração. Nas páginas das ONGs nas redes sociais há muitos pedidos de ajuda. É muito importante ajudar em uma castração voluntária.”, observou. “A primeira que resgatamos foi uma cachorrinha sem raça definida, há seis anos. Levamos ao veterinário, foram feitos alguns exames e ela estava com erliquiose. Tratamos, vacinamos e castramos. Publicamos para tentar achar o dono, mas não apareceu e acabamos adotando”, relembrou.

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DICAS

Confira orientações de Rosangela Gebara, da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do CRMV-SP:

- Aproxime-se com cuidado e deixe o animal se acostumar com você. Uma dica é oferecer comida ou esticar sua mão para que cheirem (cães). Se estiver em uma via movimentada, peça ajuda de um amigo ou de quem estiver passando para afastar o animal dos carros

- Antes de pegar um cão ou gato desconhecido no colo, providencie uma coleira ou focinheira, especialmente se o animal estiver ferido. Ou use um cobertor para envolver e carregá-lo em segurança, evitando mordidas e arranhaduras

- Em geral, o estado de saúde de um animal encontrado na rua é desconhecido, assim como seu comportamento. É indispensável que passe pela avaliação de um médico-veterinário antes mesmo de ser levado para o local onde passará a viver

- Verifique se o animal realmente não tem dono. Usar as redes sociais pode ajudar a descobrir se o animal está mesmo abandonado

- Dê um tempo para que ele se adapte ao novo ambiente. O ideal é levá-lo para um lugar seguro e tranquilo, oferecer água e comida e observar. Cães e gatos podem demorar semanas para se acostumar ao novo ambiente e a novas pessoas. Se você resgatou um gato, tome mais cuidado ainda com fugas e acidentes. Se o animal foi resgatado em uma situação de maus-tratos, ele pode ficar traumatizado por muitos dias

- Caso não possa ficar com o animal, procure a prefeitura para saber se há algum serviço responsável pelo recolhimento ou cuidados com esses animais. Levar em feiras de adoção e ou pedir ajuda de ONGs para encontrar um novo dono pode ser uma opção

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