Duas semanas após a liberação do viaduto entre as avenidas Dez de Dezembro e Leste Oeste, na zona leste de Londrina, moradores e comerciantes do entorno avaliam os resultados da nova estrutura. O trânsito ganhou mais fluidez e o fluxo de veículos aumentou, mas a percepção de quem convive no local é de desrespeito ao limite de velocidade e confusão nas marginais.

Imagem ilustrativa da imagem Comerciantes e moradores se adaptam ao novo viaduto da Dez de Dezembro
| Foto: Lais Taine - Grupo Folha

O viaduto nomeado Edson Deliberador foi inaugurado no dia 17 de julho e muitas pessoas foram conferir a obra tão aguardada. Mesmo diante de tantas autoridades e curiosos, o empresário Nico Rocha percebeu o desrespeito ao limite de velocidade. “No primeiro dia da inauguração, mesmo com tantas pessoas aqui circulando, os carros vinham correndo”, menciona.

Rocha é proprietário de um hotel localizado na nova marginal da avenida e durante a obra, que levou quase dois anos para ser concluída (início foi em agosto de 2018), teve que lidar com interdições nas vias, mas comenta que com o tempo a estrutura pode trazer bons resultados. “Eu acredito que a visibilidade vai ser maior e vai melhorar o comércio da região, não melhorou ainda por conta da pandemia”, argumenta.

No entanto, acredita que é preciso fazer algumas melhorias, considerando faixa de pedestre e redutor de velocidade tanto na via quanto na marginal. Um radar foi instalado no fim do viaduto para quem segue sentido à zona norte, mas Rocha aponta que o pessoal não tem respeitado.

O comerciante Nico Rocha fala que há desrespeito dos motoristas
O comerciante Nico Rocha fala que há desrespeito dos motoristas | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

Ponto de concordância com Antônio da Silva Filho, que tem uma empresa de eventos e precisa sair com veículos longos da garagem, invadindo marginal e via principal. “Antes tinha o estacionamento aqui, então havia espaço maior, agora para sair a gente invade as duas pistas, o pessoal que vem na via expressa precisa parar, tenho medo de acontecer um acidente”, revela. O empresário mostra que não tem como fazer o portão em outro local.

Não é uma questão isolada, ele aponta que muitos comércios da região contam com entrada e saída de veículos, os clientes que chegam reduzem, mas os motoristas vêm em alta velocidade atrás. “Já aconteceu acidente aqui, não foi nada grave, mas o motorista que vinha atrás bateu no carro que ia estacionar. Também teve acidente com um rapaz que foi fechado no encontro entre marginal e via principal, eles já colocaram as tartarugas para evitar isso”, diz, mostra a sinalização.

Antônio da Silva Filho comenta confusão no dia a dia
Antônio da Silva Filho comenta confusão no dia a dia | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

SAMU

Com a construção da nova sede do Samu, ao lado do Terminal Rodoviário, o empresário defende ser necessário pensar em formas de adaptação e inclusão de uma faixa a mais. “Talvez reduzir o canteiro, tentar manter duas faixas, ver o que pode melhorar, até antes de terminar a sede do Samu, para poder dar passagem para as ambulâncias”, avalia. “E sinalizar melhor, porque no decorrer dos dias a gente está notando as pessoas entrarem na rodoviária, achando que é algum caminho.”

Com os veículos passando rente à calçada, Silva Filho disse que cortou a árvore, porque os galhos estavam sendo derrubados. Sobre o movimento de clientes, não analisa como positivo ou negativo, para ele, é preciso cuidar para que não haja acidentes graves. “No comércio, a gente sabe que nem tudo é do jeito que a gente imagina, tudo é imprevisível, vamos falar de vidas que têm que ser preservadas. Aqui sempre foi via expressa, mas agora está mais perigosa”, afirma.

CRIMINALIDADE NO LOCAL

Além do trânsito, a região convive com pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Alguns comerciantes temem que o viaduto possa se tornar um chamariz para essa população. “É uma preocupação, porque é um ambiente bem propício e pode ser que eles migrem para esse ponto”, afirma o comerciante Nico Rocha. “Seria legal de a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) ou a Guarda Municipal ficassem ali, porque pode gerar violência e criminalidade”, acrescenta.

Antônio da Silva Filho tem uma empresa no local há 30 anos e aponta que a região sempre conviveu com essa situação e que não é uma questão nova para os comerciantes. Dalva Arantes Silva é moradora do jardim Fraternidade e sua casa fica bem próxima da Via Expressa. “Com o viaduto, a gente percebeu que tem menos pessoas circulando, tanto de carro, quanto a pé, porque antes tinham os desvios e eles passavam mais por aqui”, aponta.

Com o início das obras da sede do Samu, a moradora percebeu que houve dispersão da população de rua. “O pessoal começou a construção, então diminuiu bastante o fluxo de pessoas, parece que eles foram para outro ponto mais para cima. Na verdade, eu tenho dó, porque eles não têm onde dormir e nunca me aborreceram, sempre respeitaram a gente”, argumenta.

AVALIAÇÃO DA CMTU

O diretor de Trânsito da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), major Sérgio Dalbem, destaca que ainda é cedo para dar avaliações precisas, mas diz que é perceptível a melhora no fluxo de veículos no local. “Na parte de circulação de veículos, melhorou, ficou mais tranquilo até para fazer a rotatória, mas ainda temos pouco tempo para falar da dinâmica toda do entorno, porque é uma região de movimentação, tem shopping, comércio e rodoviária, uma região que concentra a movimentação, principalmente de pedestres”, afirma.

Dalbem explica que o radar foi aplicado somente de um lado da pista justamente por esse movimento estar relacionado com essa circulação de pessoas. “Do lado sentido sul-norte não tem comércio, não tem passagem nível e os veículos saem do viaduto em três pistas, não há problema. No sentido norte-sul, além do fluxo de pedestres, o veículo que passa pela alça da direita tem que passar para a pista central até chegar o semáforo, que para o trânsito, então não pode chegar rápido”, orienta.

Ele disse que desde a inauguração do viaduto, no dia 17 de julho, a CMTU foi acionada uma vez para atender a uma chamada. Foi um acidente envolvendo condutor de motocicleta alcoolizado, que bateu em poste logo após a saída da rotatória. Sobre os limites de velocidade, ele aponta que o radar está funcionando e que na marginal foi colocado o sistema de estrangulamento da via justamente para evitar que os condutores abusem e se envolvam em acidentes. “A rotatória por si só já deveria segurar a velocidade, então, caímos no velho comportamento do motorista, colocamos o estrangulamento, então não é só uma questão do poder público, está relacionado com a cultura e comportamento no trânsito”, afirma.

Dalbem diz que a CMTU faz um trabalho informal junto à comunidade para acompanhar a movimentação e afirma que é natural que eles deem sugestões para melhorar a via. “O pessoal que mora ou trabalha no local vai trazendo os problemas, porque quem conhece mesmo a região é o cidadão que está lá 24 horas, 365 dias do ano, e com o tempo as sugestões vão aparecendo e a gente vai acompanhando, levando aos engenheiros do IPPUL (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) para tomarmos as providências”, argumenta.