Comerciantes estão na mira de criminosos interessados nos dados pessoais de seus clientes. O golpe, que vem sendo praticado desde o ano passado, acontece por meio das redes sociais e tem atingido principalmente empresas do ramo de alimentação como restaurantes e cafeterias. Com um perfil comercial falso, os golpistas anunciam promoções, combos e cupons de descontos para os seguidores da conta, solicitando o número de WhatsApp. Através dele, os estelionatários solicitam um código de verificação do aplicativo de mensagens, que é enviado via SMS para o usuário. Com esse dado em mãos, a conta é ativada em outro telefone. Feito isso, os criminosos dão início a todo tipo de golpe com os contatos da vítima, se passando por proprietários do número. A maioria tem solicitado depósitos em conta bancária ou transferência via Pix.

Imagem ilustrativa da imagem Comerciantes e clientes viram alvo de golpistas em Londrina
| Foto: Roberto Custódio

Dados do laboratório especializado em segurança digital da PSafe, empresa de cibersegurança, apontam que somente no primeiro semestre de 2021 já são mais de 2.3 milhões de detecções de golpes financeiros, o que representa uma ameaça financeira sendo detectada a cada seis segundos no País. Ainda de acordo com o levantamento, em relação aos golpes com a temática Pix já tiveram mais de 62 mil acessos e compartilhamentos somente em 2021.

MAIS DE 200 MENSAGENS

Nos últimos dias, quem passou por essa inesperada situação foi Natalia Fogagnoli, proprietária da cafeteria Reboleira, conhecida pela produção de bolos no centro de Londrina. “Respondi mais de 200 mensagens no dia. A sorte é que a maioria dos clientes desconfiou e procurou saber se a promoção era válida”, conta Fogagnoli, que teve o perfil da loja clonado. “Descobri quando chegaram as mensagens e minha reação imediata foi tentar avisar o máximo de clientes. Fizemos uma postagem nas redes sociais esclarecendo o ocorrido e também registrei um Boletim de Ocorrência”.

Um trecho da mensagem falsa dizia que “o senhor(a) foi contemplado (a) com um de nossos melhores combos”. O cliente, então, é instruído a informar o nome e número de contato. “O perfil é falso porque nosso perfil é @reboleira.londrina e a conta falsa é @reboleira.londrinaa. Acrescentaram uma letra a no final e pegaram nossas fotos”, comenta.

QUATRO BOLETINS

Thomaz Setti, proprietário do restaurante Guanciale, em funcionamento há seis anos em Londrina, já registrou quatro BOs desde o final de 2020. “Às vezes, a pessoa liga aqui um pouco exaltada, a gente explica e manda a cópia do BO registrado. É um negócio muito chato porque, além do nome do restaurante, tem o meu nome e cada pessoa trata essa situação de um jeito. Tem gente que compreende e tem pessoas que são menos tolerantes”, desabafou.

Setti publicou um vídeo no perfil @guancialerestaurante, que possui mais de 11 mil seguidores, para esclarecer a situação e orientar os clientes a ligarem para o restaurante confirmando qualquer tipo de promoção que esteja circulando na internet. “É aquele ditado: ‘quando a esmola é demais, o santo desconfia’. Há muitos golpes acontecendo neste formato e as pessoas devem confirmar as informações antes de compartilhar dados pessoais”, diz.

DENUNCIEM PERFIS DUVIDOSOS

No Terra Vermelha Café, no centro de Londrina, o proprietário Rodrigo Fagundes Noceti também foi vítima deste tipo de golpe há poucos dias. “Descobrimos que havia um perfil falso circulando nas redes através de uma mensagem de um cliente”, conta. Noceti também registrou um BO, denunciou a conta falsa ao Instagram e buscou contato com cada cliente para evitar que caíssem na ‘armadilha’.

“Pedimos para aqueles que receberam as falsas informações, que confirmem no nosso perfil. Quem já nos conhece acabou ligando e perguntando da promoção, mas fiquei sabendo que um cliente teve um problema com essa situação e foi orientado a fazer o Boletim de Ocorrência”, comenta o comerciante, que publicou uma mensagem de alerta no perfil @terravermelhacafé: “Fiquem atentos e denunciem quaisquer perfis duvidosos que estão aplicando golpe, ofertando vantagens que não são reais”.

A reportagem fez contato com a assessoria de comunicação da Polícia Civil do Paraná em busca do número de registros no serviço de boletim de ocorrência on-line, disponível no endereço www.policiacivil.pr.gov.br/BO. O órgão informou que não tem os dados específicos de crimes de estelionato cometidos a partir das mídias sociais porque o sistema não filtra por características do crime. Também não foi localizado nenhum delegado responsável em Londrina para comentar o assunto.

ADVOGADO ORIENTA

Esse tipo de golpe se configura em crime de estelionato, previsto no artigo 171 (obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento). A pena de reclusão é de quatro a oito anos e multa.

O advogado Fernando Peres, especialista em crimes cibernéticos, afirma que esse tipo de golpe tem acontecido desde 2020, mas que se intensificou neste ano. “Aumentou de três a quatro vezes o número de casos e vem acontecendo também em empresas ligadas ao turismo”, afirma o especialista londrinense.

Segundo Peres, existem diversas etapas deste tipo de golpe, pois depois de atingir os comerciantes, os criminosos partem para os contatos de familiares e amigos dos clientes através do WhatsApp. “Geralmente, o criminoso entra em contato com a vítima que acabou de interagir com a empresa nas redes sociais porque a possibilidade de ela acreditar que a mensagem é verdadeira é maior”, comenta.

A orientação do especialista para os comerciantes é que façam um monitoramento constante da marca na internet e que qualquer informação estranha que receberem, especialmente de clientes, deve servir de alerta. “As empresas que identificarem uma página falsa deve comunicar imediatamente a rede social e fazer a denúncia aos órgãos competentes”, diz.

Para os clientes, Peres orienta que diante de qualquer tipo de pagamento ou transferência, deve entrar em contato com o banco e pedir o estorno do valor. “As transferências por Pix, ferramenta que tem sido muito utilizada, permite às pessoas programar a transferência para 30 minutos durante o dia e 60 minutos no período da noite. Isso gera uma certa segurança porque a pessoa ganhar tempo para checar as informações”, afirma.

DICAS IMPORTANTES

Em caso de WhatsApp clonado:

Como ocorre?

Através de engenharia social (o autor se passa por funcionário de alguma empresa, pesquisador, comprador ou vendedor) e solicita um código enviado por SMS. Esse código é o código para ativar o número do WhatsApp da vítima em outro aparelho. A vítima perde acesso imediatamente ao aplicativo e o autor passa a solicitar aos seus contatos depósitos em dinheiro se passando pela vítima.

O que fazer?

1.Avise seus contatos e familiares sobre a fraude para evitar que alguém atenda o pedido de depósito, pagamento, transferência, etc.

2.Envie um e-mail para [email protected] com o assunto “Perdido/roubado/clonado: por favor, desative minha conta" e no corpo da mensagem escreva seu número de telefone, com código do país (+55) e DDD.

3.A empresa irá desativar sua conta e, após algum tempo, irá disponibilizá-la para instalação novamente.

4. Quando o golpista tiver habilitado a verificação em duas etapas, reinstale o número no WhatsApp e digite de forma errada o código diversas vezes até bloquear a conta.

Em caso de depósito em conta:

Como ocorre?

Algum contato seu teve o número do WhatsApp “clonado”, ou seja, outra pessoa que não o verdadeiro dono está utilizando o número, começa a solicitar depósitos em contas de terceiros usando a desculpa de estar sem dinheiro ou de não conseguir fazer transferência por estar com o limite “estourado”.

O que fazer?

1.Entre em contato com o número através de chamada de voz pelo telefone, nunca pelo aplicativo, e verifique o que está acontecendo.

2. Caso tenha feito algum depósito, procure o gerente da sua conta para tentar cancelar as transações. Você pode tentar ligar para a agência bancária em que foi realizado o depósito. Procure em site de buscas pelo nome do banco e número da agência e entre em contato. A Polícia Civil não realiza esse tipo de procedimento.

Em caso de perfil clonado:

Como ocorre?

O golpista utiliza um número qualquer, porém obtém sua foto do seu WhatsApp ou da sua rede social e, se passando por você, solicita depósitos bancários para sua lista de contatos. Essas listas de contatos podem ser obtidas pelas redes sociais ou outros meios de vazamento de dados, como o vazamento de CPFs ocorridos recentemente.

O que fazer?

1.Avise seus contatos e familiares sobre a fraude para evitar que alguém atenda o pedido de depósito, pagamento, transferência, etc.

2.Denuncie o perfil dentro do aplicativo clicando sobre o contato e indo até a última opção ou indo ao começo da conversa e selecionando a opção “denunciar contato”.

Registro de ocorrência:

Para registrar ocorrência, acesse o endereço www.policiacivil.pr.gov.br/BO e selecione o crime de estelionato. Então siga as instruções da página preenchendo:

Noticiante: seus dados.

Autor: como você não conhece o autor, selecione a opção “não vi o autor”.

Objetos: não precisa incluir.

Ocorrência: por ser um crime realizado pela internet, coloque seu endereço como local da ocorrência.

Descrição da ocorrência: faça uma breve descrição dos fatos. Abaixo um exemplo:

“no dia e hora citados, perdi o acesso a minha conta do whatsapp +55419XXXXXXXX devido a acesso realizado por pessoa desconhecida. Essa pessoa se comunicou com meus contatos se passando por mim e solicitando valores por meio de depósitos bancários”.

Fonte: Nuciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes)

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