O comerciante Cisínio dos Santos, 50 anos, de Guaíra (115 quilômetros a sudoeste de Umuarama) reivindica direitos autorais sobre o prato pintado na telha, típico do município. Santos solicitou o registro do prato junto a uma empresa de marcas e patentes de Maringá. Segundo o comerciante, a empresa está fazendo um rastreamento nacional e se não houver nenhum registro, ele poderá requerer os diretos autorais sobre a exploração do prato.
Santos não inventou o pintado da telha, mas garante ter sido ele quem trouxe o prato para Guaíra, além de ser o único que prepara a receita original. ‘‘Os outros restaurantes de Guaíra criaram variações e temperos que tiram o gosto do pintado e descaracterizam o prato original’’, ataca.
O pintado na telha foi criado há quase 500 anos por espanhóis e índios. O peixe era um dos alimentos mais abundantes e acessíveis durante a colonização do Brasil. Os índios tinham o hábito de cozinhar em vasilhas de barro e usavam muitas ervas para realçar o gosto do peixe. Os espanhóis começaram a fabricar telhas para as construções dos jesuítas e o material acabou sendo aproveitado para cozinhar o pintado.
Santos conta que ‘‘descobriu’’ o pintado na telha quando morava no interior de São Paulo. No patrimônio de Monte Alegre, a cerca de 30 quilômetros de Assis, ele conheceu um espanhol que fazia o prato. Segundo Santos, Onofre Paladino tem quase 80 anos e vive em Assis. O espanhol ensinou a receita e quando Santos veio para Guaíra há 13 anos, montou um restaurante e começou a fazer o pintado na telha. ‘‘Fez o maior sucesso, tanto que hoje é uma das marcas registradas de Guaíra’’, diz.
Santos serve o prato em seu restaurante e prepara festas. Uma delas é a festa anual do Pintado na Telha no Country Clube de Umuarama, onde serve quase mil porções. Também é o ‘‘cozinheiro oficial’’ de festas do pintado realizadas por clubes sociais ou de serviço em Curitiba, Foz do Iguaçu, Cianorte e Loanda. Santos tem estrutura para fazer até oito mil porções, mas quer chegar a 10 mil.
No Paraná, somente Guaíra fabrica as formas de barro necessárias para fazer o pintado. Santos fez uma parceria com dois artesãos da cidade para fabricar o utensílio. Os dois fazem a forma de barro e Santos fornece o suporte de madeira. A telha pode ser encontrada nos mercados da cidade e custa de R$ 7,00 a R$ 10,00. Nos restaurantes, a porção custa R$ 12,00.
No entanto, ele se sente boicotado e injustiçado pela Prefeitura de Guaíra. Diz que nunca é chamado para preparar as festas promovidas pelo município. A prefeitura adotou o pintado na telha como prato típico e criou o Concurso Internacional do Pintado na Telha, realizado sempre em outubro. Santos não participa do concurso e também nunca foi jurado.
O secretário de Turismo da Prefeitura, Pedro Venâncio da Silva, não tinha conhecimento de que Santos está requerendo direitos autorais sobre o prato. O secretário confirma que Santos trouxe o pintado na telha para Guaíra e que o prato feito por ele está entre os preferidos. ‘‘Não sei se teria direito sobre o prato porque não é criador, mas vamos nos informar sobre isto’’. Segundo Venâncio, Santos nunca procurou a prefeitura para conversar a respeito.
O secretário diz que Guaíra divulga o pintado na telha como prato típico, sem citar este ou aquele cozinheiro ou restaurante, porque todos fazem e o prato, original ou incrementado, é sempre muito apreciado. Ele nega que o comerciante seja boicotado no concurso do pintado. ‘‘Ele foi convidado, mas não quis participar’’, disse.