Arapongas - A esperança é a última que morre. E para que o velho ditado não passe de mera retórica, a Colônia Esperança, comunidade católica localizada a menos de 10 quilômetros do centro de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), está dando um grande passo para não deixar sua história morrer. O Museu de História e Arte de Arapongas (MAHRA) inaugurou domingo uma exposição com um rico acervo sacro que conta a trajetória dos 70 anos de atividades da Igreja Sagrado Coração de Jesus, templo religioso que até hoje é visto pelos colonos como o coração daquela comunidade. A mostra está sendo realizada no interior da paróquia e, segundo a Secretaria Municipal da Cultura, Lazer e Eventos, é o projeto embrionário da idealização do futuro Museu Histórico na comunidade.
A colônia foi fundada em 1935 pelas primeiras famílias japonesas católicas que trocaram as terras inférteis da cidade de Promissão, no interior de São Paulo, pelos lotes que a Companhia de Terras do Norte do Paraná estava abrindo aqui na região. "A Companhia tinha por costume negociar algumas terras com comunidades específicas, onde pessoas da mesma etnia, religião ou país pudessem desenvolver suas propriedades. No caso do lote onde se formou a colônia, a Companhia destinou mil alqueires para que a colônia nipo-católica que não conseguia prosperar em Promissão, onde a terra era mais pobre, viesse para cá. Vieram 50 famílias para ocupar 600 alqueires. Aqui, eles encontraram uma região próspera, onde puderam plantar, cultivar sua religião e criar seus laços tradicionais nipônicos", explica o historiador e coordenador do MAHRA, Gean Carlo Cereia, um dos responsáveis pela exposição.

ÊXODO
Só que a presença dos japoneses foi reduzindo gradativamente na comunidade. Hoje em dia, das 106 famílias que moram na Colônia Esperança, apenas dez são formadas pelos descendentes dos primeiros nipônicos. Plantadores de café, os pioneiros foram em busca de novos horizontes principalmente depois que a geada de 1975 dilacerou os cafezais. Boa parte dos colonos atuais vive da plantação de soja e trigo e da comercialização de ovos produzidos em suas granjas. A assistente social Beatriz Makyama nasceu e foi criada na colônia, mas mora em Londrina desde que se formou. Ela é da segunda geração de uma das famílias que fundaram a comunidade. Seus pais continuam morando lá.
"Uma das coisas mais importantes que a vida na colônia nos proporcionou foi aprender a conviver em comunidade. Tínhamos sempre atividades culturais, meu pai tem um acervo riquíssimo de partituras de violão erudito. Aqui sempre foi muito valorizado o trabalho comunitário, que é o que fez com que a gente conseguisse manter a colônia", afirma.
Beatriz seguiu o mesmo caminho dos descendentes de pioneiros que foram deixando a colônia para estudar, fazer uma faculdade e seguir suas carreiras profissionais. Mas os laços não foram desfeitos. A assistente social atua como coordenadora financeira da paróquia, função que herdou do pai. A igreja depende da contribuição vinda dos paroquianos por meio do dízimo e de atividades realizadas durante o ano. Uma das festas mais prestigiadas é o almoço anual de agosto, que foi realizado no salão paroquial e atraiu centenas de pessoas de fora da colônia – inclusive políticos regionais de olho na campanha eleitoral.

MOSTRA
Foi para aproveitar o apelo desse almoço que a Secretaria da Cultura, Lazer e Eventos de Arapongas inaugurou a exposição do acervo da igreja, abrindo as portas da paróquia à população. A mostra ocorre no interior da casa paroquial, um grande casarão em estilo colonial que já hospedou núncios apostólicos, governadores e chegou a ser a sede do seminário Instituto Filosófico de Apucarana de 1979 a 1989. Diversas peças sacras, fotografias e indumentárias dos primeiros párocos compõem a exposição.
"Estamos apresentando o acervo para que a população de Arapongas e região conheça a história da colônia e do início da povoação de Arapongas. Vamos fazer visitas agendadas com alunos, associações e todas as entidades que quiserem conhecer essa história", afirma a secretária de Cultura, Edna Kummel, observando que a Colônia Esperança foi fundada antes de Arapongas. O município foi emancipado de Rolândia em 1947 – em outubro, completará 67 anos.
Beatriz destaca a importância de preservar a história da colônia e espera que o poder público olhe com mais carinho pela comunidade. "Aqui há muita riqueza humana e histórica. É um patrimônio que nossos avós construíram e têm que ser mantido", defende.