Imagem ilustrativa da imagem Chef japonês busca o lamen perfeito para Assaí
| Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

“A receita é simples, mas tem que estar gostoso. Se uma pessoa comer e achar bom, ela vai falar para mais dez pessoas", explica o chef s Kazuyuki Matsui

Assaí - Imagine aprender a preparar um dos pratos mais consumidos no Japão, com uma aula ministrada por um renomado chef, nas dependências de um castelo japonês. O convite era realmente irrecusável, especialmente para uma cidade com pouco mais de 15 mil habitantes, sendo a maior parte deles descendente de japoneses.

O chef japonês Kazuyuki Matsui chegou em Assaí (Região Metropolitana de Londrina) no dia 23 de maio. Passeou pela cidade, foi recebido na casa de muitas famílias, provou algumas receitas e foi fazer compras. Ele estava em busca de produtos artesanais e ingredientes cultivados nas propriedades rurais do município, já que a ideia era utilizar apenas matéria-prima local para criar a melhor receita de lamen (sopa de macarrão japonês) do Paraná.

Ele até criou um slogan para isso: “Assaiiiilamen”, que em tradução livre significa “bom lámen de Assaí”. “A receita é simples, mas tem que estar gostoso. Se uma pessoa comer e achar bom, ela vai falar para mais dez pessoas. Quero que o lamen seja conhecido como o prato típico de Assaí”, disse.

O motivo? Matsui respondeu que gostou da cidade e se sentiu honrado quando foi convidado por Lauro Tano, presidente do Conselho de Turismo de Assaí, juntamente com o consulado Geral do Japão em Curitiba, a ministrar um workshop na cidade. O encontro entre eles aconteceu em 2018, quando Matsui deu sua primeira aula em solo paranaense, na capital do Estado.

Além disso, o chef, que é considerado um dos embaixadores de lamen no Japão, se encantou com os produtos que encontrou em Assaí. “O quiabo não é algo que costumamos usar, mas eles estavam ótimos e o resultado deu certo. Outra coisa que me chamou a atenção foi o aburaague (tofu frito) daqui porque tem um gosto destacado de soja”, comentou.

A AULA

O curso aconteceu do dia 25 a 27 de maio e contou com a presença de cem pessoas, distribuídas em duas turmas. No primeiro dia, todos aprenderam a produção do caldo, feito à base de carne bovina, frango e porco. Também foram preparados os acompanhamentos, como o ovo conservado em shoyu (molho à base de soja, produzido da mistura de grão de soja fermentado, cereal torrado, água e sal marinho).

Em seu restaurante Kazusan Tonmin, na cidade de Matsuda, província de Chiba, no Japão, o molho à base de frango, shoyu e sal é o carro-chefe. Sua esposa Miwa o acompanha nas aulas ministradas por toda a América do Sul e comenta que se a receita tivesse segredo, ela não poderia ser ensinada.

“A ideia é ensinar todo mundo a preparar esse prato. Muita gente fala que o caldo é o mais difícil, mas para mim o toque especial está no macarrão. Ele tem que ter maciez e isso vai depender das mãos de cada um que o prepara”, afirmou.

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| Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

Cerca de 100 pessoas participaram do curso e aprenderam a preparar o caldo e o macarrão

O macarrão leva farinha, sal, água, ovo e um pouco de Kansui (solução de carbonato de potássio e bicarbonato de sódio) para alcalinizar a água para que ela atinja um ph próximo de 10, e o detalhe está na hora de sovar a massa. “As japonesas, por serem menores, tinham pouca força nas mãos e, por isso, amassavam a massa com os pés”, explicou.

Nessa etapa, Sumie Kayamori teve que caprichar. Ela tem 77 anos e confessou: “é muito difícil isso”. Ela já esteve no Japão, onde provou muitos lamens, mas contou que nunca tinha preparado um e nem imaginava que tinha tanta técnica.

Cintia Gilinski Ikegame também nunca tinha feito a receita tradicional, mas está motivada em repetir o passo a passo em casa. “Eu fazia do jeito abrasileirado mesmo, incrementando com alguns ingredientes. A ideia agora é fazer o tradicional”, disse a moradora de Nova América da Colina (norte), que foi a Assaí especialmente para fazer o curso.

Quem também encarou a estrada para aprender com o chef Matsui foram os sócios Thomaz Lemes de Rezende e Hugo Kazuo Matsubara. Eles moram em Curitiba e, quando se inscreveram, ainda não estava confirmada a ida do chef para a capital.

“Vamos abrir um restaurante de comida oriental clássica quente e viemos em busca da técnica. Ele é perfeccionista. Cada grama para ele, faz a diferença”, disse Rezende. “Não é à toa que ele foi destaque de uma revista especializada em lamen do Japão”, completou Matsubara.

Alexandre Caldeira Rocha já tem um restaurante em Assaí e também foi em busca da técnica. “Tem muitos japoneses na cidade e quero ter isso no cardápio porque não tem nenhum lugar que o faça aqui”, contou.

QUATRO DÉCADAS

A fila para comer o lamen do restaurante Kazusan Tonmin, no Japão, começa a se formar às 10h. A perfeição de Matsui atrai muitos paladares e ele decidiu manter apenas uma casa depois de ter comandado 11 restaurantes em diferentes regiões do Japão.

Enquanto por lá são mais de 200 mil casas especializadas em lamen, no Brasil são aproximadamente 200. Esse é um dos motivos que Matsui aceita vir ao Brasil voluntariamente para dar cursos. “Ele quer divulgar a gastronomia japonesa”, contou a esposa Miwa, que é seu braço direito na cozinha.

Ela diz que aprendeu tudo com o marido, enquanto que ele adquiriu todo conhecimento quando trabalhou por mais de 10 anos na Myojo Foods, companhia especializada na fabricação e desenvolvimento de macarrão. Ao sair da empresa, ele abriu o próprio negócio que em 2019 completará 30 anos de atendimento ao público.

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| Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

BRASILIDADE

Matsui não fala português, mas de samba ele entende. Ele já pisou por diversas vezes na Sapucaí (Rio de Janeiro) e resolveu criar a escola de samba “Flor de Matsudo Cereja”, composta apenas por japoneses. O grupo participa do Asakuda Samba Carnival, que anima as ruas em Tóquio com a participação de mais de 15 escolas de samba. O evento é realizado todos os anos, no mês de agosto.

“Tem um lugar no Japão que promove um concurso de carnaval. Eu fui lá desfilar e me disseram que eu não tinha brasilidade. Foi aí que resolvi conhecer o Brasil anos atrás, para buscar um pouco disso”, brinca, arriscando um samba no pé e cantarolando “Vou festejar”, de Beth Carvalho.

A próxima parada do chef japonês será Londrina, entre os dias 1 e 4 de junho. Em seguida, o casal parte para Curitiba, onde dará aulas nos dias 8 e 9 de junho.