Construção em Ibiporã impressiona pelo tamanho e estado: dois andares em um espaço tomado pela sujeira
Construção em Ibiporã impressiona pelo tamanho e estado: dois andares em um espaço tomado pela sujeira | Foto: Fotos: Anderson Coelho



Ao invés de mesas, lixo; no lugar do quadro negro, pichações; e na sala de aula que seria destinada a alunos, cavalos comendo mato. Este é o cenário dos centros estaduais de Educação Profissional de Londrina e Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). Prometidos para ser entregues em 2014, gerando 1.200 vagas cada em cursos profissionalizantes do ensino médio, as estruturas estão inacabadas e se deteriorando com o tempo. São duas em Londrina e uma em Ibiporã nesta situação, que incomoda vizinhos e transeuntes. Na época, o valor anunciado para as obras foi de R$ 7 milhões.

Em Ibiporã, a sustentação impressiona pelo tamanho e estado. Com dois andares e num grande terreno no final da rua Olavo Bilac, no jardim Pérola, a construção está 25% concluída. Na área, que ainda conta com vigas de sustentação, pode ser encontrado muito mato, sujeira e madeiras e tijolos espalhados. Na entrada, tapumes de ferro chegaram a ser colocados para isolar, porém uma parte considerável foi ao chão, permitindo a entrada e saída do local sem qualquer dificuldade. Quando a reportagem esteve no local, vários objetos de uso pessoal e de alimentação estavam dispersos pelos espaços, dando a impressão de que pessoas estão usando as divisões.

Vizinho ao centro de estudo incompleto, o autônomo José Roberto Ribeiro lamenta o fato de um lugar que seria utilizado por estudantes estar abandonado há pelo menos quatro anos. "Quando começou a construção imaginei que seria bom, que iria trazer movimento e desenvolvimento para essa região. Poderiam fazer até um hospital tamanho a estrutura que foi levantada e deixada de lado. Após pararem o serviço roubaram dezenas de materiais. Sobrou bem pouco. Dá dó, é nosso dinheiro jogado fora."

Populares afirmam que a construção se transformou em esconderijo para criminosos, que aproveitam a localização, próxima a uma estrada rural, para esconder objetos oriundos de roubo. "Incomoda muito ter isso do jeito que está. Pessoas usam droga nesse lugar, se escondem da polícia. Ficamos com medo, porque não se sabe se vão entrar na nossa casa. Todo dia, quando dá 19h, fecho tudo e eu e minha família ficamos trancados dentro de casa em razão de insegurança", relata uma moradora que preferiu não ser identificada. O receio é tanto, que ela já pensa em se mudar.

Obra no conjunto Aquiles Stenghel, em Londrina: paredes derrubadas e cavalos pastando
Obra no conjunto Aquiles Stenghel, em Londrina: paredes derrubadas e cavalos pastando



'ELEFANTE BRANCO'
No caso de Londrina, a situação é parecida no conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte. No bairro, o centro estadual de Educação Profissional começou a ser construído na rua Guilhermina Lahmann, esquina com rua Lino Sachetin. Com a obra menos avançada em relação a da vizinha cidade, são os cavalos os responsáveis por manter o mato sempre baixo. "Isso daqui é um 'elefante branco'. Agora que não pode mais ter cavalo circulando pela cidade, aumentou muito o número de animais deixados aqui. Um tempo que eles ficam sem vir o colonhão cresce e passa de um metro de altura", elenca Samuel Pereira. Várias paredes foram quebradas e muitas das que sobraram em pé foram pichadas.

Há mais de 30 anos morando no bairro, a servidora pública aposentada Doraci Camargo lembra da plantação que existia no terreno antes da estrutura ser feita e depois deixada. "Nós tínhamos uma horta. Teve um dia que fui na igreja e quando voltei os tratores estavam arrancando tudo. Quando começou o trabalho várias pessoas vieram morar aí, construíram casas improvisadas para eles, fecharam com tapumes. Uns sete meses depois pararam a edificação e foram tirando as coisas. Isso já faz mais de três anos", estima.

Por conta do abandono, muitas pessoas estão despejando lixo de forma irregular no terreno, que tem cadeira, sofá e restos de cama jogados pela sua extensão. Até animal morto já foi descarregado. Segundo Manoel Antônio da Silva, o terreno era municipal e foi doado ao governo do Estado. "Até quando vamos ver uma cena dessa não sei. Já busquei informação no Núcleo de Educação, mas não tive resposta. Este é um bairro carente e as crianças, ao invés de estarem aqui estudando, estão na rua fazendo coisa errada. Ainda está sendo ponto de proliferação do mosquisto Aedes aegypti (transmissor de doenças como a dengue). É desesperador", lastima. "Pago para meu filho fazer curso técnico em administração no centro. Se esta obra estivesse pronta ele ia estudar aqui", acrescenta.

Daria para atender mais a população

No centro estadual Castaldi, a construção de seis salas e um laboratório de informática foram paralisadas em 2013
No centro estadual Castaldi, a construção de seis salas e um laboratório de informática foram paralisadas em 2013



Com cerca de 1.500 alunos matriculados em cursos profissionalizantes por meio do ensino médio e na modalidade subsequente, o Centro Estadual de Educação Profissional Professora Maria do Rosário Castaldi, na zona este de Londrina, é outro que está com as obras paradas. No local, os trabalhos para construção de seis salas e um laboratório de informática iniciaram em 2012 e foram interrompidas no final do ano seguinte. Desde então, a comunidade espera pela finalização da parte elétrica, cobertura e vidros.

Diretor-geral da instituição, Elvio Vilalba aponta que se a estrutura estivesse finalizada, mais cursos poderiam ser abertos, ampliando o número de oportunidades. "Isto tem nos atrapalhado, porque precisamos reformar um laboratório que fica em frente a este espaço, mas não podemos enquanto o outro não ficar pronto", observa. "Se estivesse finalizado, daria para atender ainda mais a população de Londrina e da região Norte do Estado. O curso mais procurado é o de eletrotécnica, em que oferecemos uma sala. Daria para chegar a três com a obra entregue", salienta.

Fundepar faz avaliação de responsabilidades

Por meio de nota, o Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional), autarquia vinculada à Secretaria de Estado da Educação, que coordena e execução de projetos, obras e serviços de engenharia e edificações da pasta, declarou que no caso do Centro Estadual de Educação Profissional de Ibiporã "foi aberto um processo administrativo para avaliação de responsabilidades". Também que "já foi feita uma nova medição, que está em análise na PGE (Procuradoria-Geral do Estado)".

Sobre o centro do conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte de Londrina, o órgão afirmou que a obra "foi paralisada logo no início devido a irregularidades e um processo para averiguação de culpabilidade está tramitando na Secretaria de Educação". No caso do colégio Castaldi, no momento "também há um processo em tramitação na secretaria".

A FOLHA procurou o MP-PR (Ministério Público do Paraná) em Londrina, que informou, por meio de assessoria de imprensa, que não recebeu nenhuma representação em relação ao caso dos centros profissionalizantes e que não existe nenhum trâmite instaurado na instituição sobre o tema.

Os centros de Educação Profissional foram financiados pelo programa Brasil Profissionalizado, do governo federal, e com recursos do governo do Estado. Na época, a secretaria estadual da Educação anunciou que iria debater com a comunidade os cursos que seriam ofertados. Na mesma ocasião do anúncio das estruturas de Londrina e Ibiporã, há cinco anos, o governo noticiou que iria ampliar a rede de centros em 18 unidades em o Paraná.

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Imagem ilustrativa da imagem Centros de Educação Profissional seguem inacabados