Centro Comercial: 60 anos com a ‘cara’ de Londrina
Com salas comerciais e três torres residenciais, o complexo mantém viva a Londrina de décadas atrás, seja nos detalhes da estrutura quanto naqueles que vivem nele
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
Com salas comerciais e três torres residenciais, o complexo mantém viva a Londrina de décadas atrás, seja nos detalhes da estrutura quanto naqueles que vivem nele
Micaela Orikasa - Grupo Folha
Memória é quase que um sinônimo para o Edifício Centro Comercial, essa grandiosa obra que completa 60 anos em 2019. O complexo, construído em frente à Concha Acústica e formado por três torres residenciais e salas comerciais, é um dos símbolos da verticalização de Londrina no final dos anos 50.
Dos ladrilhos que compõem o piso e os pilares até as fachadas de madeira resistentes em algumas das salas comerciais, o local é um verdadeiro mergulho na memória. Mas quem dá vida a todas as histórias são aqueles que seguem ocupando seus espaços diariamente.
Como Lucílio Anacleto, 83, que foi o quarto morador do "bloco B" e é proprietário do Bar Estoril (fundado em 1962), famoso não só pelo bauru bem recheado, mas por ter servido importantes políticos na década de 1960. “Era um ponto de encontro da elite londrinense. Vinha só gente famosa e rica. Eles não só frequentavam o bar como também moravam aqui. Tinha a família Lopes, os Garcia, o ex-governador José Richa, além de médicos, engenheiros, juízes, advogados”, conta.
Anacleto segue servindo pelo balcão e morando no mesmo apartamento. Da janela da sala, ele diz que a vista não mudou tanto quanto as pessoas mudaram. “Se eu pudesse, eu gostaria de reviver os tempos antigos, onde o povo era mais sincero e honesto”, reflete.
BOUTIQUES DE LUXO
Durante anos, as salas comerciais abrigaram boutiques de luxo, lojas de calçados e a famosa sorveteria Roma. A presença da rádio Ouro Verde também atraiu artistas como Moacir Franco, Tião Carreiro e Inezita Barroso pelos corredores do Centro Comercial.
Atualmente, os espaços são ocupados por lojas de roupas, imobiliária, cabeleireiros e costuras em geral, como a alfaiataria de Jacob Lubatcheusky, 76. Há pelo menos três décadas ele abre as portas para atender a clientela mais exigente.
“Os tempos mudaram. Hoje, faço mais consertos de roupas compradas em lojas, mas de vez em quando tenho pedidos de ternos. Ainda tem gente que valoriza esse trabalho que é feito sob medida. A roupa fica melhor estruturada”, sustenta.
Para Lubatcheusky e Anacleto, o público mudou bastante, assim como o movimento. Quem também sente essa transformação é o sapateiro Milton Abade Bonfim, 82, que se instalou em uma das salas do Centro Comercial em 1969. “Atendia o João Milanez (fundador da Folha de Londrina), o José Richa, pessoas importantes. As lojas e serviços daqui eram muito procurados porque era um lugar bem frequentado e com muita importância. Hoje, perdeu-se muito movimento. Está mais parado”, conta ele, lembrando da Cláudia Calçados. “Era a melhor loja de calçados femininos da cidade”.
Mas para quem acaba de chegar no Centro Comercial, os negócios vão muito bem. É o que afirma Carlos Fabiano de Souza, 38. Ele abriu uma barbearia há pouco mais de um ano e já negou convites para trocar de endereço. “Acho que tem um bom fluxo de pessoas. Prova disso é que eu já consegui fazer minha cartela de clientes. Estou muito feliz com minha escolha. Era um espaço assim que eu buscava”, diz.
CURIOSIDADES
Das passarelas de fuga a uma das maiores chaminés do mundo, o Centro Comercial guarda curiosidades que o tornam ainda mais especial. No topo das três torres que abrigam 20 andares, foram implantadas passarelas que interligam os edifícios. A medida foi uma exigência do Corpo de Bombeiros do Paraná, anos depois da inauguração, para garantir a rota de fuga de moradores em caso de incêndio.
Também é fato curioso que o complexo pode abrigar a maior chaminé do mundo. São cerca de 80 metros de altura. O projeto foi pensado para dispersar a fumaça proveniente da incineração do lixo dos apartamentos, que antigamente era realizada no subsolo.
O Centro Comercial foi projetado pelo engenheiro civil Américo Sato, já falecido. Ele se inspirou na arquitetura Modernista e acompanhou de perto a obra conduzida pela construtora Veronese, na qual foi sócio durante anos. Em entrevista à FOLHA em 2005, Sato relembrou a rotina profissional, quando trabalhava de sol a sol com os pedreiros porque não havia mão de obra especializada.
Sato foi responsável por outras grandes obras como o Centro Comercial Júlio Fuganti, os edifícios residenciais Santa Mônica e Cínzia.
EXPOSIÇÃO E SHOWS
Para celebrar os 60 anos do Centro Comercial, a Anaph (Agência Nacional da Promoção Humana) preparou uma programação junto a parceiros e colaboradores. Na manhã de quinta (21), uma ação de saúde e bem-estar promoveu atividades físicas na Concha Acústica. Também houve shows musicais com Cleir Brandão e Ângela e Vagner Nogueira, nos corredores do complexo.
O secretário geral da Anaph, Idalto José Mujimo de Almeida, diz que a proposta do evento é conscientizar a população sobre a importância de utilizar os espaços públicos do centro histórico. “Toda a história vertical de Londrina passa por aqui e temos tido uma demanda recente sobre a preservação e uso desses locais”, comenta.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO
Sexta-feira (22)
10h – Circuito Internacional de Poemas Batuque na Caixa 2019 - edição especial Nilva Dematé Zolandek
Sábado (23)
10h – Roda dos saberes Mulheres Negras; autógrafo com Maria Helena de Oliveira, autora da Revista “Memória da Mulher Negra Londrinense”; homenagem à Maria Isolina Pereira (Dona Lina), empreendedora e ativista social que fez parte da história do Movimento da Consciência Negra de Londrina entre os anos 80 e 90.
*Durante os dois dias, a galeria do Centro Comercial abriga a exposição “Londrina ontem e hoje”, com o acervo de fotografias do Museu Histórico de Londrina.