Censo mostra perfil de assentamentos
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
Lucília Okamura
Arquivo FolhaTrabalho de campoAssentados paranaenses: equipe da UEL foi a campo para traçar o perfil desses trabalhadoresAs famílias que moram em assentamentos legalizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) apresentam uma grande diversidade, tanto de etnias e religião, quanto de procedência (Estado de origem) e profissão original. Este é um dos resultados preliminares obtidos pelo grupo de Londrina que trabalhou no 1º Censo Nacional da Reforma Agrária. O relatório sobre o trabalho foi enviado anteontem à Coordenação Nacional do Censo, em Brasília.
Promovido pelo Ministério Extraordinário da Política Fundiária e pelo Clube dos Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), o censo busca traçar um perfil das famílias assentadas no País. O objetivo é saber quem são, quantos e como vivem os assentados, observa um dos coordenadores do trabalho no Paraná, o professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Paulo Bassani.
O censo está sendo desenvolvido por estudantes universitários. No Paraná trabalharam duas equipes - em Curitiba e em Londrina. A equipe da UEL é composta por 25 estudantes e ficou responsável por 24 municípios. Foram visitados 36 assentamentos, totalizando cerca de 2.500 famílias.
Paulo Bassani conta que o trabalho foi executado em novembro e dezembro de 96. Ele explica que foram aplicados questionários contendo perguntas básicas, como número de dependentes, estado civil, naturalidade e ano do assentamento. Foi aplicado outro questionário por amostragem com dados mais completos para traçar um perfil sócio-econômico das famílias. Produções agrícola e agropecuária, infra-estrutura dos assentamentos, renda familiar e nível de tecnologia poderão ser conhecidos através deste questionário.
O coordenador do censo informa que todos os questionários já foram enviados a Brasília, mas que podem ser tiradas algumas conclusões preliminares. Ele verificou, por exemplo, que, antes de serem assentadas, as pessoas possuíam várias ocupações - eram bóias-frias, pequenos proprietários rurais ou trabalhavam na cidade.
Mário CesarConsciência coletivaO professor da UEL, Paulo Bassani: Espírito de solidariedade é grande entre assentados e sem-terra
A maioria dos entrevistados disse ser católica, mas foram encontradas também pessoas de outras religiões. A variedade é grande também com relação aos assentamentos propriamente ditos. De todos eles, o mais antigo tem 17 anos e o mais novo, apenas um ano. Foram encontrados assentamentos considerados modelos, como o localizado em Paranacity (66 quilômetros de Maringá), até os extremamente precários, que estão em fase de pré-assentamento, dando os primeiros passos, segundo Paulo Bassani.
O espírito de solidariedade entre os assentados e acampados (sem-terra que ocupam áreas ainda não regularizadas pelo Incra) é destacado por Paulo Bassani como um ponto marcante nos locais onde percorreu. Eles têm espírito e consciência grande de que somente com uma reforma agrária ampla, plena e democrática terão direito à terra.
Através do censo, pôde ser identificada também uma grande presença de atravessadores, principalmente onde não existem cooperativas e uma maior organização dos assentados. Nestes casos, a venda quase sempre se dá através do atravessador, que fica com grande parte do lucro, constata Paulo Bassani. Ele informa ainda que a maioria dos assentados se utiliza de produção individual ou mista.